“O povo de Deus nos olha e espera não condenações óbvias e simples, mas medidas concretas e eficazes”, acrescentou o pontífice.
O cardeal Rubén Salazar Gómez, de Bogotá, na Colômbia, afirmou que o dano é provocado por aqueles de dentro da igreja, em parte porque os bispos se enclausuraram em uma mentalidade clerical e pensam que podem agir com impunidade.
“Os primeiros inimigos estão dentro de nós, entre os bispos e padres e pessoas consagradas que não viveram de acordo com nossa vocação. Temos de reconhecer o inimigo interno”, afirmou.
O papa e os participantes assistiram a um vídeo em que cinco vítimas, a maioria das quais decidiu ficar anônima, contaram suas histórias de abuso e de acobertamento.
“Desde os 15 anos de idade tive relações sexuais com um padre. Isso durou por 13 anos. Fiquei grávida três vezes e ele me obrigou a fazer aborto três vezes, simplesmente porque não queria usar camisinhas ou contraceptivos”, disse uma mulher.
O chileno Juan Carlos Cruz afirmou que, quando denunciou o abuso às autoridades da igreja, foi tratado como um mentiroso e um inimigo da igreja.
“Vocês são médicos da alma e ainda assim, com raras exceções, se transformaram em assassinos de almas, em assassinos da fé. Que terrível contradição”, afirmou.
O cardeal Luis Tagle, das Filipinas, chorou ao ler discurso em que dizia: “vítimas foram feridas por nós, bispos”.
Uma lista de 21 “pontos para reflexão”, escrita pelo papa Francisco, foi entregue aos participantes.
O primeiro ponto dizia que cada diocese deve ter um “guia prático” com passos a serem adotados quando uma denúncia aparece.
Outros pontos incluem ações como informar as autoridades civis sobre acusações substanciais, conforme as leis locais, e assegurar que pessoas de fora do clero sejam envolvidas nas investigações de abusos pela igreja.
“Propor um guia depois de todo esse tempo é risível”, disse Peter Isely, que foi abusado por um padre quando era criança e hoje lidera o grupo Ending Clergy Abuse, pelo fim do abuso.
Grupos de vítimas disseram que o evento era uma tentativa de limpar a imagem da igreja. Mas Anne Barrett-Doyle, do grupo bishopaccountablity.org, que monitora casos ao redor do mundo, disse que foi positivamente surpreendida pelo discurso inaugural do papa.
“Ele está falando de medidas concretas. Isso é bom, vamos ver como termina”, afirmou.
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