2020 foi um ano muito difícil para a economia brasileira, com uma série de eventos inéditos. A pandemia foi e continua sendo uma tragédia humanitária com consequências econômicas relevantes. E o PIB (Produto Interno Bruto) é apenas uma mensuração de parte dessas consequências. A maior queda anual da última década tem impacto na taxa de desemprego, nos indicadores de pobreza, e no bem-estar da população.
No entanto, ao compararmos o desempenho do PIB brasileiro com o de outros países, e com as projeções feitas ao longo de 2020 observamos que o crescimento, fruto da recuperação do último semestre, surpreendeu positivamente.
As políticas anticíclicas adotadas pelo governo brasileiro explicam grande parte dessa positiva surpresa. O auxílio emergencial e o programa de manutenção do emprego suavizaram o impacto da forte queda do PIB na renda das famílias, o que permitiu a recuperação do consumo, em particular de bens. Soma-se a isso, a gradual flexibilização do isolamento social observada no segundo semestre que resultou na aceleração do crescimento do consumo de serviços.
Entretanto, o custo dessas políticas foi elevado. Houve aumento do endividamento brasileiro para patamares recordes. A posição fiscal brasileira, que era desafiadora antes da pandemia, tornou-se especialmente preocupante. Aproximamo-nos de uma posição em que gastos governamentais adicionais tornam-se contraproducentes devido ao efeito deletério sobre variáveis macroeconômicas como a taxa de câmbio e inflação.
Trata-se de um complexo debate econômico em que é necessário cautela para definição de prioridades. A pandemia ainda é uma realidade, e os números de óbitos divulgados pelo Ministério da Saúde diariamente são lembretes que lidamos com uma crise humanitária sem precedentes. Nesse sentido, o ritmo da vacinação é especialmente relevante.
2021 ainda é um ano repleto de incertezas. Vacinação e manutenção do comprometimento com a sustentabilidade fiscal são fundamentais para a concretização da retomada.
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