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Rússia vive onda de cancelamento na cultura após invasão à Ucrânia

Dostoiévski é alvo de eventos na Itália, enquanto filmes com financiamento estatal russo foram retirados de festivais

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São Paulo

A Rússia virou pária da indústria cultural depois que seu presidente, Vladimir Putin, atacou a Ucrânia e deu início à mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Num artigo na Bloomberg, o economista Tyler Cowen chamou a onda de cancelamentos de um "novo macarthismo", em referência ao período da história americana em que uma série de artistas, intelectuais e políticos foram perseguidos e censurados por causa de uma suposta ligação com o comunismo.

Abaixo, veja uma lista de instituições e eventos que vetaram a presença russa até que Putin anuncie um cessar-fogo.


Cinema e TV

Após a Academia de Cinema da Ucrânia ter criado uma petição virtual pedindo retaliação à Rússia, o festival de Glasgow, que começou no Reino Unido nesta quarta-feira, baniu dois filmes russos —"No Looking Back" e "The Execution".

O Festival de Estocolmo, que ocorre a partir de março, seguiu os mesmos passos e retirou de sua programação todos os filmes com financiamento estatal russo.

O Festival de Cannes, por sua vez, não vai aceitar a presença de delegações oficiais da Rússia ou de qualquer pessoa ligada ao governo de Putin no evento, previsto para maio.

O cineasta Spike Lee, presidente do júri do 74º Festival de Cannes, durante a cerimônia de encerramento do evento no ano passado - Johanna Geron - 17.jul.2021/Reuters

O evento francês não especificou se o boicote atinge qualquer filme russo, no entanto. "Saudamos a coragem de todos aqueles que vivem na Rússia e estão correndo risco ao protestar contra a invasão na Ucrânia. Entre eles, há artistas e cineastas que nunca deixaram de lutar contra o regime atual e que não podem ser associados às ações inaceitáveis [de Putin]", disseram os organizadores em nota à imprensa.

O único festival que não acatou o pedido da academia ucraniana foi o de Locarno, programado para agosto na Suíça, com a justificativa de que o boicote fere a liberdade de expressão e do cinema.

No campo comercial, Disney, Sony e Warner, três dos maiores estúdios de Hollywood, afirmaram que não exibirão seus lançamentos no país até que o conflito seja interrompido.

Entre eles, estão a releitura de "Batman" com Robert Pattinson, "Morbius", sobre o vampiro anti-herói da Marvel interpretado por Jared Leto, e "Red - Crescer É uma Fera", da Pixar.


Música

Gergiev teve suas apresentações com a Filarmônica de Viena canceladas no Carnegie Hall, uma das mais tradicionais casas de espetáculos de Nova York, assim como no La Scala, em Milão, na Itália.

 Valery Gergiev, o maior maestro russo e um dos mais famosos do mundo
Valery Gergiev, o maior maestro russo e um dos mais famosos do mundo - AFP

Ele também foi demitido da Filarmônica de Munique, na Alemanha, onde tinha o cargo de maestro-chefe. O prefeito da cidade alemã, Dieter Reiter, disse que pediu que Gergiev se manifestasse sobre a guerra, mas, devido ao seu silêncio, não havia alternativa senão a demissão.

Em Nova York, o Carnegie Hall anunciou que não vai mais receber artistas que apoiam o presidente russo, assim como o Metropolitan. Este, aliás, cancelou as apresentações vindouras da soprano russa Anna Netrebko, cuja fama ajudou a construir ao longo dos últimos 20 anos. Segundo o jornal The New York Times, a estrela da ópera não concordou com a intimação da casa de que distanciasse sua imagem do presidente Vladimir Putin, cuja reeleição ela apoiou.​

Na seara da música pop, a banda Green Day cancelou um show que faria em Moscou em maio.


Artes visuais

Embora a Bienal de Veneza não tenha proibido a exibição de nenhuma obra, os artistas russos Kirill Savchenkov e Alexandra Sukhareva decidiram retirar seus trabalhos do pavilhão russo, dizendo que "não há espaço para arte enquanto civis estiverem morrendo sob o fogo de mísseis".

Raimundas Malasauskas, curador do pavilhão nacional da Rússia, onde a dupla teria suas obras expostas, também renunciou sua participação da Bienal de Veneza. Com isso, a área ficará fechada durante o evento, que abre as portas em abril.

A participação da Ucrânia é incerta, já que curadores e artistas ucranianos também se retiraram da mostra e só voltarão atrás se a guerra for encerrada. "Não podemos continuar trabalhando no projeto do pavilhão porque nossas vidas estão em risco", disseram os curadores Maria Lanko, Lizaveta German e Borys Filonenko em nota à imprensa.​


Literatura

Em meio à escalada do conflito, o escritor Fiódor Dostoiévski acabou se tornando um alvo. Na Itália, a Universidade de Milão-Bicocca, uma das mais importantes da região, cancelou um curso sobre o autor e depois voltou atrás.

Enquanto isso, um teatro de Gênova, no norte da Itália, desmarcou um festival de música e literatura russa dedicado ao autor de "Crime e Castigo". O motivo, segundo reportou a agência de notícias Ansa, é o fato de que o Consulado da Rússia em Gênova patrocina o evento.

Já o prefeito de Florença, Dario Nardella, disse ter recebido pedidos para derrubar uma estátua de Dostoiévski na cidade. "Essa é a guerra louca de um ditador e seu governo, não de um povo contra outro. Em vez de apagar séculos de cultura russa, pensemos em como parar Putin rapidamente", declarou ele à mesma agência de notícias. "Parece que chegamos a um nível de histeria contra cidadãos russos que não têm nenhuma culpa de ter nascido na Rússia."


Streaming

A Netflix interrompeu produções originais russas e a compra de filmes e séries do país devido à guerra com a Ucrânia, iniciada dia 24 de fevereiro, segundo a revista Variety. Com isso, o gigante do streaming se junta a outras empresas que aderiram às sanções econômicas ao país.

O streamer tinha quatro originais russos em andamento, incluindo uma série de suspense policial dirigida por Dasha Zhuk, que estava sendo rodada e foi suspensa. A série de 1990 foi a segunda obra original da Netflix filmada na Rússia, depois de "Anna K", que terminou no ano passado.

O Spotify afirmou nesta quarta (2) que fechou seu escritório na Rússia indefinidamente em resposta ao que chamou de "ataque sem motivo à Ucrânia" por parte da Rússia.

A plataforma ainda disse ter revisado milhares de conteúdos desde o início da guerra e restringiu a apresentação de programas pertencentes e operados pela mídia estatal russa.

No início da semana, chegou inclusive a remover todos os programas das emissoras RT e Sputnik, pertencentes ao governo, de suas plataformas na União Europeia, Estados Unidos e outros mercados ao redor do mundo —exceto a Rússia.

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