Decifrar motivações, além do marketing, para o sucesso dos romances pseudoeróticos da trilogia "Cinquenta Tons" é um esforço vão para qualquer filosofia.
Talvez a crueza da pornografia ou o desconhecimento da fulgurância literária e sexual do paradigmático "A História de O" ajudem a entender o interesse pelas mornas experiências sadomasoquistas entre Anastasia e o foderoso Mr. Grey.
A transposição dos livros ao cinema deixou mais claro que a esperteza de E.L. James foi combinar o arquétipo da donzela conquistada pelo cavalheiro dos sonhos com doses controladas de ousadia em tempos em que tudo voltou a ser proibido.
Mas, se a ousadia já parecia pequena na versão escrita, no cinema ela nem se aproxima do que os tiozões chamávamos, décadas atrás, de "porno-chic", os filmes "softcore" em que a nudez era parcial e o sexo não era explícito.
"Cinquenta Tons de Liberdade" conta, como o filme anterior da franquia, com a assinatura de James Foley, diretor que já teve prestígio, mas agora apenas cumpre tarefas para pagar as contas.
A trama começa no casamento de Anastasia e Christian e acompanha os pombinhos até os primeiros tempos da vida a dois, quando controle e submissão deixam de ser apenas um jogo de prazer dentro do quarto vermelho e passam a interferir no cotidiano.
A lua de mel dos sonhos, a casa dos sonhos, o carro dos sonhos e a vida sexual dos sonhos não demoram a virar pesadelo quando Jack Hyde reaparece para cobrar de Grey alguma parte de tanta abundância.
Dakota Johnson mostra os peitinhos e revira os olhinhos, enquanto Jamie Dornan contrai os músculos e franze a testa para expressar preocupação.
As grandes marcas gritam a cada cena e as imagens obedecem ao padrão estético das revistas de luxo. Mas quem aguenta assistir a 1h45 de publicidade sem intervalos?
E as cenas de BDSM? São tão poucas e sem pimenta que Anastasia encontra outra utilidade para as algemas. Quem encontra estímulo na obra E.L. James vai ter mais tesão lendo o romance. Nele, pelo menos, dá para ir direto ao ponto.
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