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Poder

Elio Gaspari

A farra da Feira de Frankfurt

A Biblioteca Nacional est� uma ru�na, mas o governo poder� torrar R$ 28 mi num evento para mimar egos

Na semana passada, o historiador Robert Darnton, diretor das bibliotecas da Universidade Harvard, p�s de p� seu sonho: a Biblioteca Digital P�blica da Am�rica (DPLA, na sigla em ingl�s). A ideia � audaciosa e pretende formar uma rede eletr�nica unindo acervos p�blicos, universidades, museus e centros de pesquisas. Esse patrim�nio ficar� dispon�vel para os cidad�os, de gra�a. Um estudante do Piau� poder� baixar um livro de um acervo de Washington. O projeto come�ou em 2010, quando o ar refrigerado da Biblioteca Nacional do Rio j� ia mal das pernas e sua rede el�trica estava cheia de gambiarras.

O professor trabalhou com uma pequena equipe e 40 volunt�rios. Aos poucos, conseguiu a ades�o de grandes institui��es. Ningu�m foi nomeado pelo governo. A iniciativa j� disp�e de sete troncos de acesso a 2,4 milh�es de t�tulos, guardados em mais de uma dezena de entidades. N�o � muita coisa, mas Darnton sonha, como sonhou John Harvard em 1638. Pastor e filho de um a�ougueiro, morreu aos 37 anos, deixando 780 libras e 320 livros para que se criasse um col�gio. Harvard � hoje a melhor universidade do mundo. Formou sete presidentes, inclusive o companheiro Obama. Em 1750, os jesu�tas do Rio tinham 5.434 volumes e a biblioteca criada por Benjamin Franklin na Philadelphia, 375.

Passou o tempo e, enquanto Darnton cria a Biblioteca Digital Americana, a Biblioteca Nacional do Rio, caindo aos peda�os, foi cativada por grandes vaidades e pelos interesses de uma parte do mercado editorial. Junto com o Minist�rio da Cultura, ela patrocinar� em outubro uma farra marqueteira na Feira do Livro de Frankfurt. Trata-se de um grande evento comercial, com tr�s dias de visita��o exclusiva para editores e apenas dois para o p�blico. Ela pretende homenagear o Brasil. O rep�rter Ancelmo Gois revelou que a Vi�va poder� gastar no espet�culo algo como R$ 15 milh�es or�ament�rios, mais R$ 13 milh�es vindos de ren�ncias fiscais. Trata-se de alavancar os interesses privados de um mercado editorial que j� est� grandinho para cuidar de si.

A Biblioteca Nacional n�o oferece tomadas para a recarga dos laptops de seus frequentadores, pois sua rede el�trica n�o aguenta. A farra de Frankfurt poder� custar at� US$ 14 milh�es mas, at� agora, o trabalho de Darnton custou menos de US$ 10 milh�es, com uma pequena parte vinda de verbas p�blicas. Custar� muito mais para copiar acervos, mas come�ou a funcionar.

O atraso e o progresso s�o obras do cotidiano. Onde canta o sabi�, a Biblioteca Nacional est� uma ru�na e gasta dinheiro p�blico num evento na Alemanha, pa�s governado por uma senhora que pede aos outros "austeridade total". Nas terras sem palmeiras, onde montou-se a internet, cria-se a Biblioteca Digital.

Servi�o: Darnton conta seu caso no artigo "The National Digital Public Library Is Launched!", que est� na rede, no s�tio do The New York Review of Books.

FORTES EMO��ES

Ao contr�rio do que foi publicado aqui no domingo passado, � razo�vel a chance de revers�o da senten�a que condenou Jos� Dirceu por forma��o de quadrilha, levando-o a penar em regime fechado.

Basta que o ministro Teori Zavascki, que n�o estava no tribunal em novembro, vote a favor do recurso. O jogo empata, com Celso de Mello, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Marco Aur�lio e Joaquim Barbosa de um lado, e Rosa Weber, C�rmen L�cia, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Zavaski, do outro. Zerado o placar, cai a decis�o que levaria Dirceu ao pres�dio de Trememb�.

Indo-se para o campo da fantasia, em seguida pode acontecer o seguinte:

Barbosa fala dois minutos contra a revers�o do resultado do julgamento do ano passado, joga a toga sobre a bancada, deixa o Supremo e vai disputar a Presid�ncia da Rep�blica.

Dias emocionantes vir�o.

FUX

Entre visitas, festas e parentelas, � o caso de se perguntar o que � que o ministro Luiz Fux p�s na cabe�a.

DESCULPAS

O diplomata Rodrigo Estrela, assessor do professor Marco Aur�lio Garcia no Planalto, informa que estava errada e era ofensiva a nota "Foguete", segundo a qual na promo��o a conselheiro ultrapassou 93 colegas num quadro de 273 primeiros-secret�rios.

O quadro tinha 254 diplomatas e ele era o 57� numa lista por antiguidade. No quadro de 63 candidatos � promo��o, era o 42�.

Ademais, em 2010 e 2012, foram promovidos diplomatas colocados at� nos 114� e 138� lugares na lista de antiguidade.

Com essas corre��es ele solicita e deve receber n�o s� a retifica��o, como o devido pedido de desculpas.

MARC BLOCH E A COMISS�O DA VERDADE

A Comiss�o da Verdade pedir� mais prazo para apresentar seu relat�rio. Se o objetivo dos doutores � investigar os crimes da ditadura, desvendando mist�rios de desparecimentos ou cenas de assassinatos, talvez seja o caso de se criar uma comiss�o permanente com esse prop�sito.

Desde sua cria��o, com algum barulho, a Comiss�o anunciou ter descoberto que, em 1971, antes de desaparecer, Rubens Paiva estivera no DOI. Ora, o Ex�rcito sempre disse que ele foi resgatado por um comando terrorista quando era conduzido, escoltado, numa dilig�ncia do DOI. H� 42 anos os comandantes sustentam, oficial e falsamente, que ele fugiu. Se o preso fugiu, preso estava. O que se pode descobrir � a identidade de seus torturadores e o nome dos oficiais que, no meio da noite, resgataram e sumiram com o cad�ver. Um estaria morto. Uma comiss�o permanente poderia ficar com essa tarefa.

Outra coisa seria mostrar como a mutila��o do Estado de Direito, do Congresso, do Judici�rio, bem como a censura, o fim do habeas corpus e os est�mulos dados pelos hierarcas do regime ao aparelho repressivo, transformaram policiais delinquentes em her�is e oficiais das For�as Armadas em assassinos. Expondo-se esse processo, previne-se sua repeti��o.

Para se chegar � verdade essencial do que ocorreu durante a ditadura, valeria a pena ouvir o que dizia o historiador franc�s Marc Bloch pouco antes de ser morto, em 1944: "Quando tudo estiver feito e dito, uma �nica palavra, compreender', ser� a luz que orientar� nossos estudos". Deve-se buscar ossadas de guerrilheiros no Araguaia, mas � necess�rio compreender como uma elite militar que colocou o marechal Castello Branco no poder ordenou, a partir de outubro de 1973, o exterm�nio de todos os militantes do PC do B que estavam na mata. Inclusive aqueles que se renderam, atendendo a comunicados feitos em panfletos e transmitidos por alto-falantes colocados em helic�pteros. Para isso, precisa-se de bastante reflex�o e debate.


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