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Cr�tica / Romance

Vers�o resolve mais satisfatoriamente multiplicidade est�tica do texto joyceano

SER� ESTA NOSSA TRADU��O DEFINITIVA DE "ULYSSES"? N�O, ISSO N�O EXISTE: CADA RECRIA��O � OBRA AUT�NOMA

MARCELO T�PIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Jovial, o velho gigante James Joyce ressurge luzente em nosso horizonte liter�rio. Com nova voz, resultante de dez anos de labor, veste-se s�brio, � imagem da edi��o da Penguin em l�ngua inglesa: sem notas e com a densa introdu��o de Declan Kiberd.

Isto, segundo o tradutor Caetano Galindo, para apresentar o "Ulysses" "como o que ele deve sempre ser": "um romance, talvez o maior romance de todos, e n�o um quebra-cabe�a exemplar".

Um convite � simples leitura desse complexo e divertido livro, desprovido de um sum�rio de seus cap�tulos.

Conheci trechos da vers�o de Galindo, lidos, ao longo dos anos, no Bloomsday de S�o Paulo. E testemunho, com base neles, a busca do tradutor pelo aprimoramento de suas solu��es.

Se, antes, Cunningham perguntava, na carruagem que conduziria Bloom e companheiros ao enterro de Dignam, "Estamos todos aqui agora?", ele passa a dizer "J� est� todo mundo aqui?". Tanto faria? N�o. Por tr�s das escolhas, h� quest�es dif�ceis a resolver, como a grande variedade de registros da prosa joyciana, que transita do tom mais coloquial ao mais "liter�rio" ou ao mais inusitado.

Pode-se ver o "Ulysses" como um colossal poema: sua tradu��o ser� re-cria��o do intrincado sistema de rela��es constru�do pelo criador do p�riplo de Bloom.

No in�cio do cap�tulo "Gado do Sol" (relativo ao epis�dio das vacas do deus H�lio, na "Odisseia"), Galindo mostra ter encontrado (como em muitos outros casos) uma solu��o plena para "Send us, bright one, light one, Hornhorn, quickening and wombfruit": "Dai-nos, leve, luzente, Hornhorn, fertilidade e fr�tero". Parece f�cil? Se sim, esta ser� uma qualidade do bem resolvido.

Nesse cap�tulo, passado na maternidade -em que Joyce imita estilos liter�rios e esbo�a a hist�ria da l�ngua inglesa-, Galindo colhe um dos frutos mais atraentes de seu esfor�o, ao valer-se de recursos como o arca�smo e o tom vulgar para recriar a diversidade lingu�stico-estil�stica:

"Daquela casa A. Horne � senhor. Setenta litros ele i mant�m por que as madres na sua hora delas i venham parir e dar � luz crias s�s como o anjo de Deus a Maria disse"; "Dormiu aonde ontonte? [...] L� onde o Juda perdeu as bota e achou uns trapo v�io"...

Ser� esta nossa tradu��o definitiva de "Ulysses"? N�o, isso n�o existe: cada recria��o � obra aut�noma, embora interaja com o original e as demais tradu��es dele. A que ora nos chega tem a vantagem (e a desvantagem) da anterioridade de dois not�veis trabalhos: o de Ant�nio Houaiss, pioneiro, e o de Bernardina Pinheiro, de 2005.

Esta vers�o resolve mais satisfatoriamente a multiplicidade est�tica do texto de Joyce: n�o incorre no criticado "rebuscamento" geral da primeira ou no resultado explicativo e "normalizador" da segunda, que dilui a polifonia joyciana.

Mas muitas solu��es de Houaiss continuam as mais instigantes, e o texto de Bernardina permanecer� como fonte de leitura mais corrente, associada a notas util�ssimas. Op��es que se somam para compor a inesgot�vel pluralidade de "Ulysses".

MARCELO T�PIA, poeta, � doutor em teoria liter�ria pela USP, diretor da Casa Guilherme de Almeida e co-organizador do Bloomsday em S�o Paulo

ULYSSES
AUTOR James Joyce
TRADU��O Caetano W. Galindo
EDITORA Penguin-Companhia
QUANTO R$ 47 (1.112 p�gs.)
AVALIA��O �timo

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