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Aos 90, "Ulysses" ganha terceira tradu��o no pa�s

Obra de Joyce entra em dom�nio p�blico junto com nova vers�o de cl�ssico

Trabalho de Caetano Galindo revigora m�stica do romance, tido como o maior do s�c. 20, mas considerado "dif�cil"

FABIO VICTOR
DE S�O PAULO

H� cl�ssicos liter�rios reverenciados, outros populares. E h� os que, embora muito reverenciados, s�o muito pouco lidos. Este parece ser o caso de "Ulysses".

Apontado em diversas enquetes com cr�ticos como o principal romance do s�culo 20, o livro maior do irland�s James Joyce (1882-1941) � uma provoca��o ao leitor. � enorme (mais de 800 p�ginas), experimental e vertiginoso.

Surge agora mais uma chance para os brasileiros de enfrent�-lo: a nova tradu��o ao portugu�s de Caetano W. Galindo, com coordena��o de Paulo Henriques Britto e edi��o de Andr� Conti, para o selo Penguin-Companhia, a terceira dispon�vel no pa�s, que acaba de chegar �s livrarias.

As diferen�as para os trabalhos de Ant�nio Houaiss, de 1966, e de Bernardina da Silveira Pinheiro, de 2005, come�am no t�tulo. Galindo � o primeiro a adotar a grafia original em latim, "Ulysses", com "y" no lugar do "i" aportuguesado de Houaiss e Bernardina (leia na p�g. E7).

O volume traz uma nota do tradutor, na qual ele promete para breve um guia de leitura do romance, e uma introdu��o do professor irland�s Declan Kiberd.

Kiberd relembra como Virginia Woolf -que nasceu e morreu nos mesmos anos de Joyce e cuja obra, como a dele, entra agora em dom�nio p�blico- rejeitou "Ulysses" � �poca do lan�amento, o definindo como a obra "de um estudante nauseado espremendo suas espinhas".

Kiberd tamb�m refaz a trajet�ria tortuosa do romance, censurado e processado por obscenidade e publicado em Paris, em 1922 (completa 90 anos e seu criador, 130).

A obra de Joyce narra um dia na vida de Leopold Bloom -um agente publicit�rio dublinense, anti-her�i baseado no Ulisses da "Odisseia" de Homero, casado com Molly Bloom, sua Pen�lope infiel-, e de seu amigo Stephen Dedalus, correspondente de Tel�maco e alter ego de Joyce.

O ano � 1904, o dia � 16 de junho, o mesmo em que hoje ocorre o Bloomsday, celebra��o anual do cl�ssico.

Seria prosaico assim, se ao mesmo tempo "Ulysses" n�o tivesse revolucionado a forma tradicional do romance, criando novas ortografia e sintaxe e imprimindo � narrativa um fluxo verbal alucinado, que leva ao limite o chamado mon�logo interior.

Convulsionou a literatura a ponto de virar anedota, como relata o escritor Daniel Galera ao lembrar que sua hist�ria com o livro come�ou aos 12 anos, quando o pai dele "apontou para aquele tijolo no alto da estante e disse":

"T� vendo aquele livro? Tem uma frase de 50 p�ginas que fica contando o pensamento de uma pessoa". Referia-se ao mon�logo de Molly Bloom, o trecho final de "Ulysses".

Segundo Galera, aquilo instalou nele "um fasc�nio imediato pelo volume", que s� viria a ler quando adulto.

Outra v�tima da m�stica de "Ulysses" foi o escritor Joca Terron, que paquerou por anos uma edi��o do livro na estante do pai, sem coragem para encar�-la. Quando o fez, leu s� um ter�o, at� que o pai tomou de volta o exemplar.

A jornalista e colunista da Folha Barbara Gancia diz ter lido "Ulysses" "na marra", porque fazia parte do seu curr�culo escolar.

"Ou melhor, n�o li. Ningu�m 'l�' 'Ulysses', estuda-se o livro par�grafo por par�grafo. � t�o complicado e cheio de refer�ncias que talvez seja uma boa ideia us�-lo como aposto na leitura de 'Retrato do Artista Quando Jovem', a obra que o precede e � um pouco mais amig�vel."

Discorda dela o professor e cr�tico Alcir P�cora, para quem "em termos de prosa inglesa, apenas [Laurence] Sterne e [Joseph] Conrad planam nas mesmas alturas" que o Joyce de "Ulysses".

O escritor e tradutor Daniel Pellizzari, que como P�cora leu e adorou, considera que, mesmo sendo "important�ssimo na hist�ria da literatura", "Ulysses" n�o � um livro essencial, "do tipo que se diria que 'todos precisam ler'".

Para quem quer enfrentar, o escritor Nelson de Oliveira sugere: "Esque�a as notas de rodap� [eliminadas na nova tradu��o] e os mapas de leitura. Entre desarmado no labirinto". F� do livro, o artista pl�stico Nuno Ramos aconselha que "quando ficar chato, pule -quem sabe para voltar depois. Vale a pena".

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