Para evitar protagonismo de Teich, Bolsonaro quer gestão compartilhada com militares

Presidente escalou contra-almirante Flávio Rocha para conduzir a transição no Ministério da Saúde

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Brasília

Incomodado com o protagonismo que o agora ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta teve no início da crise do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu escalar militares para que a gestão da pandemia seja, a partir de agora, compartilhada.

A ideia é que Nelson Teich, que assumiu o Ministério da Saúde, seja tutelado por um grupo de fardados.

Nesta sexta-feira (17), militares já começaram a levar nomes para o segundo escalão de Teich.

Ao chegar ao Palácio do Planalto, Bolsonaro teve sua primeira agenda do dia com os ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

O novo ministro da saúde Nelson Teich
O novo ministro da saúde Nelson Teich - Pedro Ladeira/Folhapress

No encontro, eles já trataram da transição, dos nomes que vão compor a pasta e da política que será adotada daqui para frente como combate ao coronavírus.​

Bolsonaro escalou o contra-almirante Flávio Rocha, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, vinculada à Presidência da República, para ser uma espécie de coordenador da transição.

Caberá a Rocha auxiliar na troca de comando da pasta num momento em que o Brasil já tem mais de 30 mil casos do novo coronavírus e ao menos 1.924 mortes, segundo dados da Saúde de quinta-feira (16).

De acordo com aliados do presidente, Rocha será um facilitador da transição.​ Ele fará a articulação da Saúde com os outros ministérios.

Uma parte dos militares quer que alguns nomes da gestão Mandetta ainda permaneçam na pasta para a transição, pelo menos. Um deles é o secretário-executivo, João Gabbardo.

Auxiliares do presidente fizeram sinalizações a Teich sobre o que esperam dele com base em queixas à gestão anterior.

A expectativa é de apresentação de uma política clara para a Saúde, de preferência com cenários e ações direcionadas para cada estado ou região do país

Há ainda um anseio para que o novo ministro tome primeiras ações concretas, como remoção de leitos de regiões menos afetadas para o coronavírus para as mais atingidas, como do Centro-Oeste para o Sudeste, por exemplo.

Com isso, querem demostrar que o governo federal é quem vem trabalhando pela saúde dos brasileiros, em contraponto a governadores como João Doria (SP) e Wilson Witzel (RJ), em rota de colisão com Bolsonaro.

São Paulo é um dos estados mais afetados pela doença e já tem centros hospitalares com suas UTIs no limite.

A comunicação do Ministério da Saúde deve ser também municiada pela Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), comandada por Fabio Wajngarten.

Wajngarten foi um dos responsáveis por levar o nome de Teich a Bolsonaro. Ele intermediou três entrevistas concedidas na quinta pelo novo ministro a emissoras de TV alinhadas com o governo: SBT, Bandeirantes e Record.

Nesta sexta, o ministro foi ao ministério após tomar posse no Planalto acompanhado do número 2 da Secom, Samy Liberman.

A argumentação usada por Bolsonaro para que os militares atuem diretamente é que Teich assume o ministério em meio à crise e não tem experiência em gestão pública e no governo.

Além disso, ele vem defendendo que as ações governamentais extrapolam a área da saúde e são coordenadas pela Casa Civil, comandada pelo general Braga Netto.

Uma das reclamações de Bolsonaro e de ministros do governo é que Mandetta agia como se só o seu ministério tivesse um papel no combate à pandemia, sendo que outras pastas também desenvolvem ações voltadas ao enfrentamento da doença.

Horas depois de demitir Mandetta e confirmar Teich como seu substituto, Bolsonaro afirmou na noite de quinta que o segundo escalão do ministério deve ser alterado .

Na entrada do Palácio da Alvorada, ele disse que todos os secretários serão trocados e que pretende indicar pessoalmente nomes para a nova equipe da pasta, que deve passar por um período de transição.

"Não estamos com pressa em demitir. Mas, obviamente, alguns nomes serão trocados com toda a certeza", disse. "Ele [novo ministro] logicamente vai nomear boas pessoas. Eu vou indicar algumas pessoas também. Já foram sugeridos nomes", afirmou.

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