Descrição de chapéu greve Governo Lula

Greve dos professores de universidades federais termina após 69 dias

Servidores decidiram aceitar que o governo Lula (PT) não ofereça reajuste salarial ainda neste ano

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São Paulo

A greve dos professores das universidades federais terminou após 69 dias. Em assembleia neste domingo (23), o Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior) informou que a maioria de suas instituições filiadas optou por acabar com a paralisação.

Foram 33 votos a favor do encerramento do movimento e 22 contrários.

O argumento para a decisão é a "intransigência" do governo Lula (PT) quanto às negociações salariais. Para os docentes, Brasília não iria conceder o reajuste pedido para este ano, e seguir sem aulas somente prejudicaria os estudantes.

Agora, o sindicato deve avisar sua deliberação ao Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos e assinar um acordo na quarta-feira (26).

Parte dos servidores das universidades já havia decidido abandonar a greve na última semana. Até a noite de sexta-feira (21), docentes de instituições como UnB (Universidade de Brasília), UFPR (Universidade Federal do Paraná), UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) decidiram retornar às salas de aula.

Três indivíduos engajados em um protesto ao ar livre, onde dois deles tocam tambores com fervor. O homem à direita levanta o punho em sinal de resistência, enquanto a mulher ao centro, vestindo uma camiseta com a inscrição "Greve Geral Federal", toca um tambor menor. Uma bandeira vermelha com uma estrela branca é agitada ao fundo
Servidores federais da educação em greve fazem ato em frente ao Palácio do Planalto, enquanto o presidente Lula se reúne com os reitores das universidades federais - Gabriela Biló - 13.mai.2024/Folhapress

Neste domingo, antes das universidades, professores e servidores técnico-administrativos de institutos federais já tinham resolvido encerrar a greve iniciada há mais de dois meses. Em assembleia à tarde, o Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais na Educação Básica, Profissional e Tecnológica) anunciou a decisão.

A classe aceitou a proposta do governo de reajuste salarial somente a partir de 2025.

Foram 98 votos a favor, 6 votos contrários ao encerramento do movimento, além de 6 abstenções. Agora, os sindicalistas devem assinar um acordo com o governo para oficializar o fim da paralisação.

O número de institutos federais em greve era menor que o de universidades federais.

A greve de professores das universidades e institutos federais começou em 15 de abril. Eles pediam por reajuste salarial e recomposição do orçamento dos centros de ensino.

Representados pelo Andes e pelo Sinasefe, os servidores reivindicam aumento de 3,69% em agosto deste ano, 9% em janeiro de 2025 e 5,16% em maio 2026. Brasília oferece 9% em janeiro de 2025 e 3,5% em maio de 2026.

Em 22 de maio, o governo assinou um acordo com o Proifes (Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico), uma das entidades que representam os professores federais, visando encerrar a greve.

Mas, em 29 de maio, a Justiça Federal anulou o acordo, após ação movida pela Associação dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe, um braço do Andes.

O juiz Edmilson da Silva Pimenta, da 3ª Vara Federal de Sergipe, argumentou na decisão que um acordo da gestão Lula com apenas uma entidade pode prejudicar os "direitos pleiteados pelo movimento paredista dos docentes que não são representados pela referida entidade". A ação é contestada judicialmente pelo Proifes.

Tentando acalmar os ânimos, o governo lançou um PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na segunda-feira (10) para as universidades federais e para os hospitais universitários, com previsão de R$ 5,5 bilhões em investimentos.

Os valores, porém, já eram previstos no orçamento deste ano e foram somente adiantados, como mostrou a Folha.

O ministro da Educação, Camilo Santana, também anunciou um acréscimo de recursos para o custeio das instituições federais, em um total de R$ 400 milhões. Desse total, R$ 279,2 milhões serão para as universidades e outros R$ 120,7 milhões para os institutos federais.

Negociações

O fim da greve ocorreu após tentativas de Lula de se aproximar da categoria. Nas últimas semanas, o presidente realizou um encontro com reitores, escutou suas demandas e prometeu agir. Depois, o governo anunciou um pacote de investimento nas universidades e fez, por meio do Ministério da Gestão, nova proposta para o encerramento da greve.

Brasília ofereceu, por exemplo, a revogação da portaria 983, que amplia a carga horária dos docentes. Também foi prometida a criação de um grupo permanente de trabalho para discutir a restruturação da carreira acadêmica.

Porém, não foi apresentada proposta de reajuste salarial ainda em 2024. Por isso, o Andes ficou contrariado e inclinado a continuar a paralisação, mas convocou assembleias nas universidades para discutir os termos do governo. Dessas assembleias, veio o veredito: encerrar a greve.

Nas instituições, houve muita negociação. Segundo membros do PT, Lula pediu para alguns correligionários mais próximos conversarem com servidores e enfatizarem todos os benefícios oferecidos pelo governo, além de fazer promessas por melhorias futuras. Surtiu efeitos.

O saldo do movimento, porém, deve ser ruim para o presidente e seu governo, na avaliação de sindicalistas, professores e reitores. Todos saem incomodados com as falas de Lula sobre a greve, consideradas agressivas pelos profissionais da educação.

Nesta sexta, por exemplo, o presidente o petista afirmou, num evento em São Luís, que não tem medo de reitor e comparou a relação de seu governo com os dirigentes universitários com a gestão do antecessor, Jair Bolsonaro.

"Vocês estão lembrados de um presidente que nunca recebeu um reitor na vida dele? Nunca recebeu um reitor. Eu, em apenas um ano e sete meses, já convidei duas reuniões de todos os reitores do Brasil, das universidades e dos institutos federais, porque eu não tenho medo de reitor", disse Lula.

"E esse dedo que falta não foram eles [os reitores] que morderam. Esse dedo eu perdi numa fábrica. Portanto, quero ter uma relação mais democrática possível", afirmou, em referência ao dedo mindinho que perdeu num acidente de trabalho em 1964.

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