Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Exagero no dólar pode ir mais longe até o final do ano

Desvalorização do real já parece exagerada, mas agenda do semestre tem problemas

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Quem quer que soubesse predizer o valor do dólar, amanhã ou daqui a cinco meses, não contaria para ninguém, claro. Ganharia dinheiro com isso.

Mas, como é fácil perceber, não se sabe fazer tal coisa. No que nos interessa, há motivos para mais incertezas, daqui até o final do ano, o que pode ser um fator de exageros extras nos preços da finança (juros, dólar).

Quem quer que se interesse pelo assunto, por preocupação com o país, com a economia, com sua empresa ou com seu dinheiro, tem consciência de que, no caminho adiante, há lombadas de tamanho desconhecido. Antes de pegar essa estrada, o dólar custa R$ 5,45.

Cédulas de dólar - Dado Ruvic/Reuters

Chegamos ao limite do exagero ("overshooting") ou há motivo para mais fuga do real, prudente ou "especulativa"?

Dólar (mais) caro por tempo considerável (três, quatro meses) tende a pressionar a inflação, o motivo mais óbvio de preocupação. Por tabela, afeta as taxas de juros. Mexe também, por exemplo, com projetos de investimento e produção —importar máquinas, partes, peças, insumos industriais tende a ficar mais caro.

A renda dos setores exportadores (agropecuária, petróleo, minérios) aumenta, tudo mais constante.
Mas o balanço de perdas e ganhos na economia em geral não é simples de prever, assim como a reação do dinheiro grosso na finança.

Isto posto, quais são as lombadas previsíveis?

Logo adiante, em 22 de julho, o governo apresenta sua reavaliação bimestral de receitas e despesas. Não era para ser fato assim tormentoso, mas o futuro das contas públicas é motivo de tensão.

Nessa reavaliação, o governo acaba por dizer se precisa ou não suspender gastos previstos no Orçamento, tendo em vista se vai ou não conseguir cumprir sua meta de déficit.

Há dúvida sobre a disposição do governo de conter gasto, mesmo provisoriamente. Na Fazenda há quem defenda uma contenção (contingenciamento, bloqueio) para "mostrar serviço".

Mesmo que a situação não tenha piorado de modo relevante, uma mancada do governo tende a afetar juros, dólar etc. Até fins de julho, de resto, Lula 3 e esse Congresso precisam arrumar alguma maneira de tapar rombos já previstos (de isenções de impostos). Vamos ter pelo menos um mês de estrada esburacada.

Em julho, o Congresso em tese tem de aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias. No final de agosto, o governo tem de apresentar o Orçamento para 2025. Se não for "crível", como vêm dizendo o Banco Central e os credores do governo, vai haver problema.

No início de novembro, os americanos escolhem presidente e Congresso. Na avaliação de bancões americanos, uma vitória de Donald Trump provocaria uma alta do dólar e dos juros de prazo mais longo —nem se mencione a desgraça para o mundo. Dólar e juros mais altos são uma encrenca para juros aqui. Arrumar as contas do governo Lula 3 ajuda a atenuar mais esse possível vento contrário.

Notícias ruins sobre a inflação americana são outro risco. No entanto, quando o gás vaza, qualquer palito de fósforo pode causar acidentes.

Por exemplo, há quem especule até que um resultado (mais) desastroso na eleição francesa possa provocar tumulto na União Europeia e fuga para o dólar. Outro exemplo: uma conjunção de dólar em alta e petróleo a US$ 85 pode suscitar discussões ruins sobre o preço dos combustíveis no Brasil, que ficaria ainda mais para trás em relação à cotação internacional.

Em suma, o clima não está bom.

O Banco Central decidiu trancar as janelas até a tempestade passar (dólar e juros de longo prazo nas alturas, incerteza fiscal, incerteza sobre o efeito do ritmo da atividade econômica na inflação etc.). Quanto ao governo, ainda não se sabe se vai adotar prudência pragmática, ao menos.

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