Vladimir Putin diz que vai parar de vender alguns produtos para Estados Unidos, Europa e aliados, todos aqueles que barraram negócios com seu pa��s. A Rússia bem pode provocar desordem, inflação e até recessão e fome pelo mundo. Depois de algum tempo, digamos um ano ou até dois, o resto do mundo, em especial países ricos, terão se arranjado. A Rússia estará em um mato sem cachorro, condenada a empobrecimento duradouro.
A Rússia vai parar de vender o quê? Vamos saber apenas na quinta-feira, afirma o governo. Assim, não é possível fazer alguma conta menos especulativa de perdas e danos. Mas dá para fazer um mapa do estrago.
Como a Rússia pode causar danos? Cortando vendas de energia, metais estratégicos e comida (por meio do embargo da venda de grãos ou de fertilizantes).
Se corta vendas de metais estratégicos e de comida, pode provocar problemas em indústrias variadas, de veículos a eletrônicos, e de inflação de alimentos. Perde muito menos receita, mas responde aos tiros do "Ocidente". O estrago não seria essencial.
Mais de 40% do dinheiro das exportações russas vêm das vendas de energia. Uma redução relevante da exportação de petróleo e gás pode provocar grande inflação, recessão e pobreza. A União Europeia importa de 37% a 40% do gás que consome da Rússia; cerca de 24% do petróleo. Os europeus poderiam ficar sem gás para gerar eletricidade, para a indústria, sem combustíveis para seus veículos e indústria etc.
Se a Rússia cortar metade de suas exportações de petróleo e derivados, o barril do petróleo pode ir a US$ 200 (começou o ano em US$ 77 e está na casa dos US$ 130), segundo cálculos de analistas do setor. Seria o caos. O preço dos combustíveis (como gasolina e diesel) dobraria, a inflação dispararia, juros também, com redução violenta do crescimento no mundo rico e recessão no Brasil.
Depois de algum tempo, um ano e pouco, haveria arranjos políticos e de mercado no "Ocidente". Preços nas alturas animariam a produção de combustíveis fósseis nos Estados Unidos e mesmo na Europa da "transição verde". Nos EUA, poderia haver também pressão política para produção pelo "esforço de guerra" (além de uns favores ambientais para petroleiros). Seria possível colocar Irã e Venezuela no mercado mundial, caso a OPEP não impedisse o aumento da produção desses países. No entanto, a OPEP está cada vez mais apertada na saia, entre agradar ao aliado russo de cartel e aos EUA. Vão ficar ao lado da Rússia falida? Sim, podem quebrar o mundo, como decidiram fazer nos anos 1970.
Para começar, os russos perderiam receita escassa em dólar, euros e moedas aceitas no comércio e nas finanças; já perderam acesso a grande parte de suas reservas internacionais. Poderiam reduzir suas importações —se é que não vão ser obrigados a fazê-lo, pois estão sendo cancelados por empresas no comércio mundial.
Seja qual for o motivo da redução de importações, isso significa de imediato desabastecimento, escassez de bens cotidianos e, a seguir, indústrias e equipamentos pifando, falta de atualização tecnológica. Muito pior, estariam fora de vários mercados, por anos, pois o "Ocidente" teria arrumado alguns substitutos para produtos russos, ainda que a preços piores. O "Ocidente" pagaria mais caro, a Rússia poderia não ter o que mais vender, por um bom tempo, a não ser que se rendesse a um acordão feio.
Em tese, a Rússia pode dar um tiro de resposta ao "Ocidente" sem acertar a própria cabeça, para mostrar que reagiu. No limite, tem mais a perder. Mas esse era o caso desde o início da guerra. Não é impossível, pois, que a situação saia de controle.
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