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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Descrição de chapéu Seleção Brasileira

Sinto falta na história do futebol brasileiro de três investigações profundas

Uma delas é sobre a existência de dona Lúcia, torcedora de palavras afetivas e de solidariedade após os 7 a 1

Na segunda-feira, dia 8 de julho, os 7 a 1 completarão dez anos. Assim como não podemos esquecer a nefasta ditadura de 1964 para não repeti-la, temos de lembrar os 7 a 1 para corrigir os erros.

Em 2010, Mano Menezes era o técnico da seleção brasileira e fazia bom trabalho. Em 2012, José Maria Marin assumiu o comando da CBF no lugar de Ricardo Teixeira. Anos depois, Marin foi preso por corrupção, e aconteceria o mesmo com Ricardo Teixeira se ele saísse do país.

Mano Menezes foi despedido. Felipão foi contratado como treinador, e Parreira, como diretor técnico. Penso que as mudanças foram mais por motivos políticos e comerciais. Os investidores e parceiros da CBF queriam uma comissão técnica com mais prestígio, campeões do mundo, para inflamar o público e diminuir o desanimo que havia com a seleção após os fracassos nos Mundiais de 2006 e 2010. Além disso, havia muitos protestos nas ruas contra os problemas sociais e a corrupção, que poderiam se estender à seleção e à realização da Copa do Mundo no Brasil.

Fernandinho sofreu naquele 8 de julho - David Gray - 8.jul.14/Reuters

A conquista da Copa das Confederações um ano antes do Mundial, com uma vitória marcante sobre a Espanha, campeã do mundo, na final, foi uma ilusão, uma atuação heroica. Não dá para ser herói duas vezes seguidas.

Na Copa de 2014, Felipão, que teve uma carreira muito mais de sucessos do que de fracassos, repetiu tudo o que tinha feito na Copa das Confederações, só que contra adversários mais fortes, além de escalar vários jogadores que não estavam na mesma forma de um ano antes.

Nos 7 a 1, Felipão colocou vários atacantes e deixou Fernandinho sozinho no meio-campo contra muitos meio-campistas brilhantes da Alemanha. Eles comandaram o jogo, envolveram o time brasileiro, e o primeiro tempo terminou 5 a 0. Os torcedores brasileiros choravam no Mineirão.

Depois da partida, Felipão disse que foi um apagão. No dia seguinte, o diretor técnico Parreira leu uma mensagem de uma torcedora, dona Lúcia, com palavras afetivas e de solidariedade à seleção, um pedido para que as pessoas não fossem tão duras nas críticas.

Parreira lê a cartinha afetuosa de dona Lúcia - Eduardo Knapp - 9.jul.14/Folhapress

Os 7 a 1 trouxeram benefícios, mas o futebol brasileiro continua refém de várias condutas ultrapassadas. Além dos gramados ruins, do péssimo calendário, dos tumultos durante as partidas e de vários outros problemas fora de campo, durante o jogo existem ainda muitos espaços entre os setores, muitas bolas longas da defesa para o ataque, muita pressa para chegar ao gol e pouca valorização do meio-campo.

Na derrota do Atlético-MG para o Flamengo, o time jogava com inúmeros atacantes e apenas Otávio no meio-campo. Na derrota do Cruzeiro para o Criciúma, o time jogava bem, tinha boas chances para virar o placar, quando o jovem treinador Seabra, que faz ótimo trabalho, trocou vários jogadores. O time ficou confuso e perdeu a chance de ganhar. Essa ansiedade de mudar é frequente nos treinadores, pressionados para vencer e para fazer substituições sempre que o time está perdendo. Nem sempre elas são necessárias.

As coisas precisam ser ditas. Sinto falta na história do futebol brasileiro de três investigações profundas, esclarecedoras. A primeira sobre quais foram os detalhes das conversações em Brasília entre o ditador Médici e membros da então CBD, que resultaram na demissão do treinador João Saldanha antes da Copa de 1970. A segunda sobre o que ocorreu com Ronaldo na véspera da final do Mundial de 1998, se ele teve uma convulsão ou um distúrbio emocional. Se foi uma convulsão, nunca poderia ter entrado em campo. A terceira é se dona Lúcia existiu.

Brasil eliminado

Brasil e Uruguai fizeram um jogo feio, ruim, equilibrado, de muitas faltas, marcação, trombadas, sem nenhum brilho. As poucas chances de gols foram por erros do adversário. Os dois times não conseguiam trocar três passes seguidos. O Brasil, mesmo jogando uns 20 minutos com um jogador a mais não criou oportunidades de marcar. As inúmeras substituições feitas por Dorival Júnior bagunçaram mais o ataque. Nos pênaltis o Brasil foi eliminado. É mais um fracasso do futebol brasileiro.

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