Andar de ônibus no Rio sempre foi um caos para os passageiros —e, quanto mais distante da rica e turística zona sul, pior a situação. Veículos em sua maioria velhos, lotados, sem ar condicionado e guiados de forma irresponsável por motoristas massacrados pela rotina imposta pelas empresas.
A Fetranspor sempre dominou todo o sistema, praticamente sem se submeter ao poder público. Aumentava o preço das passagens sem apresentar dados que justificassem o aumento e sem melhorar o serviço que prestava. Não por acaso, os protestos de 2013 tiveram como estopim um reajuste das tarifas.
Veio a Lava Jato e confirmou o que todos suspeitavam: havia uma máfia unindo empresários e políticos, com uma caixinha da propina —instituída pelo então deputado Sérgio Cabral, nos anos 1990— que nunca secava, garantindo uma maioria de deputados para decidir sempre a favor das empresas. Com a revelação do esquema e a prisão de figuras como o empresário Jacob Barata e o presidente da Alerj, Jorge Picciani, esperava-se alguma moralização nesse modal do transporte público.
Tal esperança não tardou a se revelar vã. A CPI dos Ônibus, instalada na Alerj, apresentou em abril um relatório chapa branca, que reconhecia parte dos problemas, mas não apontava culpados nem indiciava ninguém.
Nesta quarta (16), o repórter Edimilson Ávila, do telejornal RJTV, revelou um acordo entre a prefeitura e as empresas: em troca de 11% de aumento (de R$ 3,60 para R$ 4), as empresas reativarão as linhas que tiraram de circulação e cumprirão, até 2020, o que haviam prometido para 2016 —ter 100% da frota com ar condicionado.
Parece pouca contrapartida para um aumento tão grande, ainda mais porque, até onde se viu, essa conciliação não toca no problema mais grave: ninguém conhece os gastos e faturamento das empresas de ônibus.
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