Imagine-se almoçando em um restaurante lotado no qual, sem que você saiba, estão algumas figuras procuradas pela polícia. De repente, chegam inúmeros agentes, em uma operação. Agem como se estivessem em pesca de arrastão: mandam todos os homens deitarem-se no chão, depois levam todos presos.
A pouca eficácia desse método de atuação —e, mais do que isso, o flagrante desrespeito a direitos básicos— é evidente. E, no entanto, foi o que aconteceu no subúrbio carioca de Santa Cruz, área dominada por milicianos, em 7 de abril.
Uma festa com shows de bandas de pagode, com ampla divulgação e venda de ingressos ao público em geral, terminou com 159 homens presos, a imensa maioria deles apenas porque estava lá. Não se averiguou nada previamente. Não se questionou cada detido individualmente.
Prenderam em bloco porque é mais fácil e porque um número grande é sempre mais vistoso para a mídia e para o público em geral —especialmente num quesito em que os interventores federais na segurança vinham sendo amplamente criticados, a falta de combate às milícias.
É verdade que, entre os detidos, havia bandidos. Mas eles eram tão minoria que mesmo o Ministério Público (que não viu ilegalidade nas prisões) pediu e conseguiu que 138 deles fossem soltos, por falta de provas. É uma maioria de trabalhadores que estavam se divertindo e ficaram 20 dias presos sem motivo.
Ações mal executadas como essa têm sido a praxe da intervenção federal. Mais do que isso, a filosofia do “prende todo mundo, depois vê quem consegue provar que é inocente” é bastante comum nos meios policiais (quando lidando com pobres, é claro) e militares (vide a ditadura).
Não por acaso, antes de assumir a segurança do Rio, os interventores almejaram ter mandados de busca e apreensão coletivos, uma aberração que foi barrada. Imagine se tivessem conseguido.
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