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Ricardo Aceves

A empresa socialmente responsável na América Latina e no Caribe: um ator-chave para mitigar a desigualdade?

Responsabilidade social corporativa é ideal ético e também estratégia de negócios com benefícios sociais

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Ricardo Aceves

É um economista mexicano especializado em temas macroeconômicos latino-americanos, e hoje trabalha como analista de riscos na agência qualificadora italiana CRIF Ratings, em Barcelona. Anteriormente trabalhou como economista sênior para a América Latina na consultora FocusEconomics.

A desigualdade econômica e social na América Latina e no Caribe é um problema profundo e persistente. Apesar do progresso em determinados indicadores econômicos, a região continua sendo a mais desigual do mundo. De acordo com o relatório Desigualdade SA, publicado pela Oxfam no início deste ano, a riqueza das três pessoas mais ricas da América Latina aumentou 70% desde 2020, enquanto a metade mais pobre da população ficou ainda mais pobre.

Em comparação, os países da OCDE —que incluem muitas das economias mais avançadas do mundo— têm uma distribuição de renda mais equitativa. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) estimam que, nesses países, os 10% mais ricos têm quatro vezes a renda dos 10% mais pobres, em contraste com a média de 12 vezes nos países da região latino-americana.

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Foto de drone dos prédios da região da Avenida Giovanni Gronchi, cercados pela expansão de Paraisópolis. Imagem comparativa a foto de Tuca Vieira, do mesmo local em 2004, mostra o condomínio Penthouse 20 anos depois. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) - Bruno Santos/Folhapress

A diferença é abismal e é exacerbada pela falta de mobilidade social. Diferentemente da Europa e da América do Norte, onde há mais oportunidades para indivíduos de famílias de baixa renda melhorarem sua situação econômica por meio da educação e do emprego, na América Latina e no Caribe as barreiras estruturais são muito mais difíceis de serem superadas. Fatores como a educação pública deficiente, a informalidade generalizada do trabalho e a corrupção limitam severamente as possibilidades de progresso.

Nesse cenário sombrio, está surgindo um ator potencialmente importante na redução da desigualdade: a empresa socialmente responsável (ESR). Definida como aquela que não busca apenas a lucratividade econômica, mas também considera o impacto social e ambiental de suas operações, a ESR, ou negócios sustentáveis, ganhou atenção nos últimos anos, já que um número cada vez maior de empresas na região está alinhando seu crescimento com objetivos de desenvolvimento sustentável e práticas mais éticas em relação ao trabalho decente, diz um estudo da Organização Internacional do Trabalho.

Uma estratégia que pode gerar benefícios

Isso se deve ao fato de que a responsabilidade social corporativa (RSC) não é apenas um ideal ético, mas também uma estratégia de negócios que pode gerar benefícios sociais, materiais e financeiros tangíveis. Entre os benefícios sociais incluem-se a melhoria da reputação corporativa, o aumento da satisfação dos funcionários e o envolvimento com as comunidades, entre outros. Os benefícios materiais e financeiros incluem ganhos de eficiência, maior competitividade, acesso a novos mercados e capital destinado à sustentabilidade.

As ESRs podem contribuir para a redução da desigualdade de várias maneiras, como, por exemplo, oferecendo empregos de qualidade com salários justos e benefícios adequados, o que é fundamental em uma região onde a informalidade e a insegurança laboral são desenfreadas.

As empresas também podem investir nas comunidades locais, melhorando a infraestrutura e os serviços básicos, como educação e saúde, e adotar práticas sustentáveis que protejam o meio ambiente, garantindo que os recursos naturais permaneçam disponíveis para as gerações futuras.

Entretanto, a realidade é complexa e nem todas as iniciativas socialmente responsáveis são concebidas da mesma forma, nem atingem seu potencial transformador. Embora a ESR possa ser uma força positiva, ela não é a solução para o problema maior da desigualdade. A implementação eficaz das práticas de RSC exige um compromisso genuíno por parte das empresas e não apenas uma estratégia de relações públicas. Além disso, o impacto da RSC é limitado pelo escopo e pelo tamanho de cada empresa, e as iniciativas individuais, embora valiosas, não podem resolver sozinhas os problemas estruturais que perpetuam a desigualdade.

Portanto, a ESR desempenha um papel importante na mitigação da desigualdade na América Latina e no Caribe, mas, por si só, é insuficiente para resolver esse problema profundamente enraizado. Exemplos bem conhecidos de empresas que implementam estratégias sustentáveis ou socialmente responsáveis incluem a padaria mexicana Grupo Bimbo, que implementa programas para melhorar a educação e o bem-estar de seus funcionários e de suas famílias e políticas para integrar pessoas com deficiência em sua força laboral.

Outra é a multinacional brasileira de cosméticos Natura & Co, que investiu significativamente na conservação da Amazônia e no apoio às comunidades locais. O BID publica anualmente um índice de sustentabilidade corporativa que destaca as 100 empresas mais sustentáveis que operam na região. Entre elas estão multinacionais como a empresa alemã de roupas e calçados Adidas e a multinacional estadunidense de produtos de consumo Colgate-Palmolive, e multilatinas como a empresa mexicana de cimento Cemex e o conglomerado colombiano de alimentos Nutresa.

Esses exemplos bem-sucedidos não devem nos cegar para o fato de que as empresas operam em um marco regulatório e econômico que também precisa evoluir para facilitar a redução da desigualdade. Em seu relatório, a Oxfam reitera que os governos têm um papel crucial a desempenhar na criação de políticas que promovam a justiça econômica e social, como sistemas tributários progressivos, investimentos em educação e saúde pública e a implementação de leis trabalhistas que protejam os direitos dos trabalhadores.

A sociedade civil também deve permanecer vigilante e ativa, pressionando tanto as empresas quanto os governos a cumprirem suas responsabilidades. A colaboração entre o setor privado, o setor público e a sociedade civil é essencial para criar um ambiente em que a igualdade de oportunidades seja uma realidade para todos os cidadãos.

Embora as empresas socialmente responsáveis possam e devam fazer parte da solução para a desigualdade na América Latina, seu impacto será limitado se não houver apoio regulatório adequado e promovido por parte dos governos. A luta contra a desigualdade é um desafio multidimensional que exige uma abordagem abrangente, na qual as partes interessadas e os atores sociais desempenham um papel ativo e coordenado. Somente por meio de um esforço coletivo e sustentado poderemos aspirar a uma região mais justa e equitativa.

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