Desigualdades

Editada por Maria Brant, jornalista, mestre em direitos humanos pela LSE e doutora em relações internacionais pela USP, e por Renata Boulos, coordenadora-executiva da rede ABCD (Ação Brasileira de Combate às Desigualdades), a coluna examina as várias desigualdades que afetam o Brasil e as políticas que as fazem persistir

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Desigualdades

Desenvolvimento solidário gera trabalho, renda e reduz desigualdades

A solidariedade como finalidade econômica garante a inclusão produtiva coletiva

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Helena Singer

Vice-presidente da Ashoka América Latina. Participou como delegada da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) na Conae (Conferência Nacional de Educação) de 2024.

Marcelo Gomes Justo

Coordenador-executivo do Instituto Paul Singer

Neste ano de eleições municipais, uma das áreas que concentra atenção é a do trabalho e geração de renda. É comum que as propostas nesta área girem em torno da abertura de frentes de trabalho e oferta de cursos profissionalizantes para o mercado. Implementadas de modo setorizado e verticalizado, estas políticas costumam se mostrar insuficientes, ineficientes e insustentáveis, não superando os ciclos de pobreza nem reduzindo as desigualdades. Vide a histórica reprodução de bolsões de pobreza do semiárido ou, mais recentemente, a transformação da região do ABCD paulista em "vale da ferrugem".

vista mostra contraste entre favela e os edifícios do bairro de classe alta que a cerca
Vista da favela Paraisópolis no Morumbi em São Paulo - Lalo de Almeida - 21.jul.2016/Folhapress

O caminho capitalista de promover o desenvolvimento tem sistematicamente produzido degradação socioambiental e desigualdades socioeconômicas. Por isso, precisamos assumir uma outra perspectiva, a do desenvolvimento solidário. Quando a solidariedade é o eixo, as prioridades são o atendimento às demandas sociais, à gestão coletiva dos meios de produção, o bem-viver (reconhecimento da conexão de todos os seres), a justiça social e o desenvolvimento integral de todas as pessoas. Para tanto, é preciso orientar a produção tecnológica pelos critérios socioambientais, da cooperação e da democratização.

A perspectiva solidária do desenvolvimento obriga à contextualização local e à integração das várias estratégias, políticas e programas, em uma abordagem intersetorial e participativa.

O desenvolvimento local solidário parte das características do território para, com ampla participação dos atores da comunidade, definir caminhos para o enfrentamento das desigualdades que garantam a inclusão produtiva de todas as pessoas adultas, valendo-se das potências sociais, ambientais e culturais do lugar. Trata-se, ao mesmo tempo, de um projeto econômico, socioambiental e educacional, com valores comuns, que engendra a construção de novas práticas e tecnologias.

Na economia, a perspectiva solidária expressa um modo autogestionário de organização da produção, da distribuição, das finanças e do consumo orientado por uma estratégia que a todos inclui. Na produção alimentar, a perspectiva agroecológica cria sistemas que reorientam as relações entre os humanos e destes com os demais seres. E todos estes processos demandam uma educação transformadora, capaz de socializar as novas gerações nos valores, tecnologias e saberes que promovem o bem comum.

Trata-se de processos de transformação qualitativa da estrutura da cidade, que nos permitam superar definitivamente as marcas de uma história colonial, que tornou a maior parte da população mão de obra barata e consumidora de mercadorias cuja produção e descarte degradam o meio ambiente e, não raro, prejudicam a saúde.

Precisamos de projetos de desenvolvimento forjados nos territórios, em que empreendimentos de economia solidária, agroecologia e educação transformadora cooperam entre si, valorizando os recursos ambientais, os animais, as águas, a vegetação, o solo, a história, os saberes, as expressões e as tecnologias locais.

Já existem projetos comunitários organizados nesta perspectiva, que devem ser conhecidos, valorizados e tornados referência para estas políticas. Apenas para citar alguns das diferentes regiões do Brasil, podemos mencionar o trabalho liderado pelo Instituto Cacimba na União de Vila Nova, zona Leste de São Paulo, o da Rede Cammpi na Península de Itapagipe em Salvador, a atuação da Fundação Amazônia Sustentável nos vários municípios da região, ou ainda toda a cadeia organizada pela Justa Trama, impulsionada a partir de Porto Alegre e que se estende por vários estados.

Estas iniciativas devem inspirar uma agenda clara que inclua a formação de agentes comunitários, processos participativos para a construção de projetos locais de desenvolvimento solidário, territorialização e articulação das políticas municipais, estaduais e federais dos diversos setores.

A perspectiva do desenvolvimento solidário é importante para o enfrentamento das desigualdades exatamente por sua abordagem sistêmica das soluções comunitárias e das políticas públicas, possibilitando a criação de caminhos eficazes e sustentáveis para a superação da pobreza, a inclusão produtiva e a realização pessoal e profissional de todos.

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