Altas concentrações de fósforo, elemento essencial para todos os processos biológicos na Terra, foram detectadas em cristais de gelo expelidos do oceano da lua Encélado, de Saturno, aumentando seu potencial para abrigar vida, relataram pesquisadores nesta quarta-feira (14).
A descoberta foi baseada em dados coletados pela sonda Cassini da Nasa, a primeira a orbitar Saturno, durante sua exploração histórica de 13 anos do planeta gigante gasoso, seus anéis e suas luas, de 2004 a 2017.
As descobertas foram publicadas por uma equipe internacional de cientistas liderada pela Alemanha na revista Nature e anunciadas pelo Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa, perto de Los Angeles, que projetou e construiu a sonda Cassini.
A mesma equipe confirmou anteriormente que os grãos de gelo de Encélado contêm uma rica variedade de minerais e compostos orgânicos complexos, incluindo ingredientes para aminoácidos, associados à vida como os cientistas a conhecem.
Mas o fósforo, o menos abundante dos seis elementos químicos considerados necessários a todos os seres vivos —os outros são carbono, oxigênio, hidrogênio, nitrogênio e enxofre—, ainda faltava na equação.
"É a primeira vez que esse elemento essencial foi descoberto num oceano além da Terra", disse o principal autor do estudo, Frank Postberg, cientista planetário da Universidade Livre de Berlim, em comunicado do JPL à imprensa.
O fósforo é fundamental para a estrutura do DNA e uma parte vital das membranas celulares e moléculas transportadoras de energia existentes em todas as formas de vida na Terra.
O estudo mais recente decorre de medições feitas pela Cassini enquanto voava por meio de grãos de gelo ricos em sal ejetados para o espaço por gêiseres que eclodiram do oceano abaixo da crosta congelada de Encélado em seu polo sul.
A espaçonave coletou seus dados durante passagens por uma pluma de cristais de gelo e pelo mesmo material que alimenta o fraco anel "E" de Saturno com partículas de gelo, fora dos anéis principais mais brilhantes do planeta.
O oceano interior descoberto pela Cassini fez de Encélado —com cerca de um sétimo do tamanho da lua da Terra e o sexto maior entre os 146 satélites naturais conhecidos de Saturno— um excelente candidato na busca de lugares em nosso sistema solar, além da Terra, que sejam habitáveis, mesmo que apenas para micróbios.
Outra é a maior lua de Júpiter, Europa, que também abriga um oceano global de água líquida sob sua superfície gelada.
Um aspecto notável da última descoberta de Encélado foi a modelagem geoquímica pelos coautores do estudo na Europa e no Japão, mostrando que o fósforo existe em concentrações pelo menos cem vezes maiores que as dos oceanos da Terra, ligado a formas de compostos de fosfato solúveis em água.
"Esse ingrediente-chave pode ser abundante o suficiente para potencialmente sustentar a vida no oceano de Encélado", disse o investigador Christopher Glein, cientista planetário do Instituto de Pesquisa do Sudoeste em San Antonio, no Texas. "Essa é uma descoberta impressionante para a astrobiologia."
Ainda assim, os cientistas enfatizaram que a presença de fósforo, compostos orgânicos complexos, água e outros blocos de construção fundamentais da vida são apenas evidências de que um lugar como Encélado é potencialmente habitável, não que seja habitado. A vida, passada ou presente, não foi confirmada em nenhum lugar além da Terra.
"Se poderia ter surgido vida no oceano de Encélado, permanece uma questão em aberto", disse Glein.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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