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Perna biônica acionada pelo sistema nervoso restaura passo natural para amputados

Avanço neurotecnológico dá a pacientes de estudo do MIT velocidade de caminhada e controle mais próximos de quem não perdeu membros

Clive Cookson
Londres | Financial Times

Uma perna biônica acionada pelo sistema nervoso restaura um caminhar natural de forma muito mais eficaz do que outros membros protéticos, segundo um ensaio clínico liderado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).

A técnica, revelada em estudo publicado na última segunda (1°) na revista Nature Medicine, é o mais recente avanço em neurotecnologia. O campo, de rápido desenvolvimento, promete enormes benefícios para pessoas com deficiências, incluindo interfaces cérebro-computador que ajudam a restaurar o movimento em pacientes com lesões na medula espinhal.

A equipe do MIT desenvolveu um procedimento cirúrgico para reconectar músculos e nervos, que então geram sinais elétricos. Estes são detectados por eletrodos colocados na pele e usados para controlar uma perna protética.

homem com prótese no lugar de uma das pernas, amputada, sobe escada
Homem com perna biônica acionada pelo sistema nervoso - Song et al

A tecnologia melhorou significativamente as velocidades de caminhada dos pacientes, bem como sua capacidade de subir escadas e evitar obstáculos, de acordo com os pesquisadores.

Hugh Herr, o líder do projeto, classificou o teste como o primeiro na história que mostra uma prótese de perna sob plena modulação neural. "Ninguém foi capaz de mostrar esse nível de controle cerebral que produz uma marcha natural, em que o sistema nervoso humano está controlando o movimento, [em vez de] um algoritmo de controle robótico", afirmou ele.

A cirurgia, que na sigla em inglês é chamada de AMI, reconecta fibras musculares deixadas para trás no tecido restante, que funcionam juntas em um membro intacto, mas são cortadas após uma amputação padrão.

A restauração da interação dinâmica entre os músculos devolve aos amputados alguma propriocepção —capacidade de sentir a posição e o movimento dos membros— na perna protética. Quando pensam em mover as partes ausentes de sua perna inferior, como a panturrilha e o tornozelo, eletrodos montados na pele transmitem os sinais neurais para receptores eletrônicos em sua prótese, que se movimenta de acordo.

"O que acontece é quase milagroso", disse Herr, cujas próprias pernas inferiores foram amputadas em 1982, quando ele sofreu grave congelamento após um acidente alpinista. "Os pacientes podem andar em velocidades normais quase sem pensar nisso."

O ensaio clínico contou com 14 participantes com amputações abaixo do joelho em uma perna —sete passaram por AMI, enquanto os outros formaram um grupo de controle que passou por cirurgia convencional. Todos receberam próteses de alta tecnologia com tornozelo motorizado e sensores de movimento.

O grupo AMI conseguia andar em média 41% mais rápido do que os pacientes do grupo de controle, igualando a velocidade de pessoas sem amputações e se locomovendo muito mais facilmente ao redor de obstáculos e escadas.

O procedimento pode fornecer os melhores resultados quando realizado ao mesmo tempo que uma amputação, mas o AMI também funcionou bem em pacientes que perderam seus membros há muito tempo, segundo os pesquisadores.

Herr disse acreditar ter traços musculares suficientes para se beneficiar do procedimento mais de 40 anos após suas amputações. "Estou pensando em fazer isso com ambas as pernas."

O MIT patenteou a tecnologia AMI, e Herr pretende ter versões comerciais do produto disponíveis em cerca de cinco anos.

O objetivo mais amplo de seu laboratório, segundo ele, era "reconstruir corpos humanos" com componentes que as pessoas pudessem controlar por si mesmas, em vez de depender de dispositivos robóticos cada vez mais sofisticados que não pareciam fazer parte de seus próprios corpos.

"A abordagem que estamos adotando é tentar conectar de forma abrangente o cérebro do ser humano �� eletromecânica", afirmou ele.

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