Nos últimos dias, a comunidade autista ficou consternada com a morte de um garotinho de 9 anos que se afogou na lagoa da Universidade Estadual do Ceará.
A imprensa contou que o menino fugiu pela janela de um carro fechado, onde estava com um adulto e outra criança, em questão de minutos depois de a mãe estacionar para ir ao banco. Uma rotina banal para tantas e tantas mães.
O garotinho era autista e não verbal. Sumiu com o uniforme da escola, onde era adorado pelos coleguinhas.
Replicando um comentário postado nas redes sociais sobre o caso, por uma mãe que também vive a maternidade atípica, essa tragédia é o "nosso medo mais profundo".
E não à toa.
O comportamento de fuga (chamado em inglês de "elopement" ou "wandering") é bastante comum entre pessoas autistas. Segundo dados divulgados pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano), cerca de metade das crianças ou jovens autistas tem o comportamento de fuga, o que vai além das escapadas comuns entre crianças pequenas. Uma em cada quatro dessas crianças já sumiu durante tempo suficiente para causar preocupação nos pais e cuidadores.
Entre as causas listadas pelo CDC para esse comportamento, estão o desejo de correr e explorar, vontade de ir a lugares de que gostam, fugir de situações de estresse, e querer ir ver algo interessante.
Esse comportamento, associado a algumas características comuns do autismo, como dificuldades de comunicação, deixam essas pessoas mais vulneráveis a atropelamentos e afogamentos.
Um estudo de 2017 que pesquisou a mortalidade de pessoas autistas por ferimentos nos Estados Unidos revelou que pessoas com diagnóstico de autismo morriam, em média, 35,8 anos mais cedo que a população geral.
Segundo os autores desse estudo, mortes de pessoas autistas eram quase três vezes mais prováveis de serem causadas por ferimentos não intencionais que mortes na população geral. "O excesso de risco de ferimentos não intencionais associados ao autismo era particularmente alto para crianças menores de 15 anos e por três causas específicas: afogamento, sufocamento e asfixia. Juntas, essas três causas foram responsáveis por 79,4% do total da mortalidade por lesões em crianças com autismo."
A morte do garotinho fez muitas mães se questionarem e questionarem o que é possível fazer para tentar evitar tragédias como essa.
O CDC recomenda algumas estratégias gerais, como ensinar comportamentos de segurança: atender ao comando de "parar", responder qual seu nome e telefone, saber atravessar a rua e nadar.
Outras ideias possíveis levantadas pelas mães, nos últimos dias, foram colocar equipamentos de localização em tempo real nas crianças (como relógios com GPS) e educar a população geral a estar atenta a crianças andando sozinhas pela rua e que, potencialmente, podem se colocar em risco.
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