No jornalismo usamos a ideia de "gancho" para debater alguns assuntos. Todos os dias milhares de pessoas passam pelos centros de comércio popular do Brasil, mas no fim do ano a imprensa acompanha mais de perto o movimento das lojas porque há um volume maior de consumidores de olho em promoções, por exemplo. As festas de natal e ano novo são o gancho para voltar o olhar para os preços e as tendências de compra.
O mesmo acontece em outros momentos ao longo do ano envolvendo outras datas. Junho foi o mês da diversidade. O dia 28 é conhecido internacionalmente como o dia do orgulho. Em boa parte dos países, marchas foram convocadas e a comunidade LGBT+ foi às ruas.
O mês mudou, as bandeiras coloridas sumiram e o Masp voltou a ficar cinza.
Mas assim como os consumidores exploram vitrines ao longo do ano, os LGBTs continuam existindo nos demais meses. E precisam ser acompanhados de perto, com ou sem gancho. Se o mês da diversidade fosse visto pela editoria de economia dos jornais, era possível dizer que as vendas este ano foram fracas.
Em uma reportagem que produzi para a Rádio BandNews FM, ouvi da direção da Casa 1, centro de acolhimento em São Paulo a pessoas LGBT expulsas de casa, que o volume de doações recebido em junho deste ano seria apenas 40% do recebido no mesmo período do ano passado. Organizações voltadas à defesa da comunidade trans também disseram enfrentar dificuldades no diálogo com empresas antes engajadas em ações de equidade, diversidade e direitos humanos.
O mais irônico disso tudo é que eventos da chamada agenda ESG continuam bombando. Convido o leitor, no entanto, a olhar quem, nesses encontros, está no palco. Mais ainda: observe quem está na plateia.
Se da iniciativa privada não se enxerga muito apoio, dos governos menos ainda. Ainda mais em ano eleitoral. A discussão do aborto no Congresso foi uma tentativa frustrada de criar uma agenda para a campanha que se inicia em breve. Agora, a metralhadora do pânico moral busca um novo velho alvo.
A sensação de diferentes setores da comunidade LGBT+ é de que a diversidade saiu um pouco de moda em 2024.
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