Brasil fora da Copa.
Que Brasil? Que Copa?
Nos últimos dez anos, a seleção brasileira não foi exatamente um time de futebol, do jeito que um time de futebol é percebido por um torcedor de clubes no Brasil. Quando torcemos para nosso clube, sabemos e discutimos em bares toda a escalação, todas as formações em campo, os adversários, quem está em boa fase, quem não está.
Já a seleção, no Brasil, não. É tanta gritaria de patrocinadores e ícones que hoje é mais fácil encontrar um cidadão que saiba quem são os patrocinadores da amarelinha do que todos os jogadores em campo.Quem são os produtos e quem são os jogadores.
Neymar Jr. e Galvão Bueno foram, nesta última década, os grandes produtos que fizeram sombra sobre nossa percepção sobre o time verde e amarelo. Nesta Copa, por um momento, tentaram fazer a mesma coisa com Vinícius Jr. e Richarlison. E por um momento, deu certo. O esquecemos os homens e nos aferramos aos produtos. Reduzidos a Pombo e atacante que dança e sorri.
Richarlison e Vinícius Jr. são o Pombo e o atacante que dança e sorri. E isso é lindo. Mas são, também, mais que isso. Taticamente em campo, inclusive. Mas não consegue-se ver esse além, diante a gritaria dos produtos em nossos ouvidos.
Na Copa do Mundo mais importante da história do futebol, a Espanha em 1982, o Brasil inteiro consumiu 2 produtos. O álbum de figurinhas do chiclete Ping Pong, cuja figurinha do mascote Laranjito era impossível de conseguir, e o disco de vinil com o samba "Voa canarinho", cantado por Júnior.
Ainda assim, naquela época, discutíamos, mesmo crianças, todo o time, e todas as táticas. Jô Soares tinha um quadro em seu programa onde ele cobrava do técnico Telê Santana: "Bota ponta, Telê!".
Sinto saudades da época onde os produtos não ofuscavam o time de meu país.
Neymar e Galvão são dúvidas para a próxima Copa.
Espero que produtos também.
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