Vamos aqui trabalhar com o Multiverso da Loucura. Hipóteses tortas. Terraplanismo.
Vamos imaginar que algum destes toscos planos de golpe aconteça. Como reagiria a sociedade?
Vivemos em um mundo onde o que mais vale não é a quantidade de seguidores que alguém tem. O que interessa é o engajamento.
E hoje, Bolsonaro parece ter mais do que Lula.
Exemplo simples: se Bolsonaro fosse preso amanhã, por qualquer motivo, se ele fosse até a Av. Paulista e metralhasse duzentas pessoas, ainda assim os Bolsonaristas iriam para as ruas.
Lula foi eleito por uma coalizão, uma frente. Muita gente que odeia Lula, votou em Lula. O ponto é: se um milhão de pessoas forem às ruas contra a posse de Lula, nós teremos a mesma quantidade para defendê-la?
A coalizão que elegeu Lula continuará entendendo que a posse do novo presidente não é sobre o político Lula e sim sobre a democracia? O patriotismo?
Sim, o patriotismo.
Estas pessoas que estão fechando estradas, programando greves, pedindo intervenção militar, não são patriotas.
Não amam o Brasil.
Ou melhor, amam O-Brasil-que-nunca-deu-certo-e-já-foram-dadas-tantas-chances-que-hoje-sabemos-que-nunca-dará.
E odeiam O-Brasil-que-se-continuarmos-democraticamente-testando-novas-soluções-certamente-um-dia-dará-certo.
Eles se dizem contra ladrões, mas são eles que nos roubam tudo. Querem nos roubar agora até o nosso direto de manter os direitos conquistados, a democracia.
Querem roubar nossos votos.
Estão nas ruas, neste momento, na prática, dizendo que votos não são o bastante.
Para defender uma pátria antiga, onde todos os valores testados deram errado, uma pátria-pária criada sobre o roubo de colonos sobre os povos originários, roubaram o nosso verde amarelo, roubaram nosso hino, roubaram até a camiseta de nossa seleção.
Chamaram seus inimigos de vitimistas e se vitimizam após as eleições. Afirmam serem religiosos, mas usam suas crianças como escudo humano em manifestações. Falam mal da imprensa, mas amam a imprensa que os apoia.
Falam sobre serem contra corrupção mas são eles os seres humanos corrompidos. Os patrôes que ameaçam os empregados com demissão.
Bolsonaro não é novidade. É a exploração do mais fraco pelo mais privilegiado.
O Bolsonarismo é o nome dado para algo que desde impede o Brasil, desde sua fundação, de avançar.
Algo que teria um outro nome qualquer se Bolsonaro não existisse.
Algo, veremos, ser capaz de ser lido e expelido por uma sociedade unida.
Uma sociedade que seja anti-esse-algo, independente de Lula, inclusive.
Lula, nós sabemos, foi eleito pela maioria. Agora, resta-nos saber se esta maioria está disposta a defendê-lo, entendendo que não se estará defendendo Luis Inácio, mas defendendo que um presidente eleito pelo povo tome posse e governe.
A pergunta, aqui, é: Neste mundo quantidade versus engajamento, se precisar haver uma disputa nas ruas, a democracia pode contar com cidadãos que optaram por ela?
Em caso de golpe, da vitória tosquice, do terraplanismo político, do universo paralelo, a democracia pode contar com engajamento para além do voto nela própria? Do engajamento de quem acredita na democracia?
Talvez o voto não seja apenas aquele momento de trinta segundos que passamos sozinhos na urna eletrônica.
Talvez ele dure todo o nosso tempo.
Porque talvez um voto político seja um voto de confiança.
E sobretudo de compromisso.
Eterno, enquanto dure.
Talvez o momento na urna seja apenas o início de um voto.
Talvez a eleição que passou esteja começando agora.
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