Poucas pessoas foram mais importantes para moldar os destinos do catolicismo nas últimas décadas do que o papa emérito Bento 16. Seu impacto, paradoxalmente, talvez tenha sido até maior antes que se tornasse papa, nas décadas em que, ainda conhecido apenas como Joseph Ratzinger, ele foi o chefe doutrinal da Igreja Católica sob o comando de (e em estreita parceria com) o papa João Paulo 2o. Do ponto de vista histórico, talvez a ideia mais interessante de Ratzinger tenha sido imaginar os cristãos como "minoria criativa" no mundo ocidental.
Certamente por causa de suas experiências na Europa, Ratzinger imaginava que a fé cristã acabaria se tornando minoritária nos países ocidentais, e que o papel dos fiéis seria funcionar como uma espécie de vanguarda, mantendo viva a crença no Evangelho e tentando influenciar positivamente a cultura e a sociedade ao seu redor.
Sempre senti algo de derrotismo nesse conceito. Ratzinger também dava a impressão de que o cristianismo melhoraria por deixar sair de si os fiéis que o eram só no nome e não queriam seguir as regras mais estritas e "puras" da religião. Como papa, continuou a reiterar que a Europa e o Ocidente não podiam esquecer suas raízes cristãs.
Hoje, porém, sinto que há esperança e até otimismo nessa perspectiva. Afinal, uma minoria criativa é exatamente o que os cristãos foram no Império Romano. Nosso mundo é muito mais humano que a Roma imperial, apesar de tudo, e sempre me pareceu mais fácil exercer as virtudes especificamente cristãs em papéis distantes do prestígio e do poder. Convém ser pequeno para amar os pequenos. Talvez, nisso, ele tenha sido presciente de um jeito luminoso, e não derrotista.
Um excelente Ano Novo a todos os leitores do blog!
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