Não é todo mundo que se adapta aos podcasts como meio para consumir informações, mas devo confessar que, para mim, eles são um bálsamo (junto com os audiolivros, que potencializaram tremendamente a minha capacidade de leitura nos últimos anos). Por isso, começaremos uma série de recomendações da podosfera aqui no blog. E vamos abrir a seção em grande estilo falando do Torá com Fritas, um excelente e bem-humorado guia sobre religião e cultura judaicas.
O Torá com Fritas tem sido extremamente útil para mim, em primeiro lugar, porque desconfio que brasileiros não judeus como eu acabam tendo contato apenas com o judaísmo... da época do Primeiro e Segundo Templos. Ou seja, aquele descrito no Antigo Testamento (ou Bíblia hebraica, para usarmos uma expressão mais aceitável do ponto de vista inter-religioso) e no Novo Testamento. Como a comunidade judaica brasileira é relativamente pequena e tende a se concentrar em metrópoles, desconfio que a experiência de muitas pessoas por aqui com a tradição judaica não passa do que pode ser encontrado na Bíblia.
Mas é claro que o judaísmo se transformou tremendamente nos últimos 2.000 anos (assim como aconteceu com o cristianismo, é claro). A experiência da diáspora (a formação de comunidades judaicas nos mais diferentes lugares do mundo), as reinterpretações das Escrituras por diferentes correntes, o impacto da modernidade, tudo isso modificou inúmeros aspectos das crenças e da cultura judaica, as quais, aliás, são múltiplas, dependendo da época e do lugar onde se desenvolvem.
O Torá com Fritas consegue retratar essa diversidade no espaço e no tempo tremendamente bem, e do jeito mais leve possível. Quem já tem o hábito de ouvir podcasts sabe que é uma experiência bastante íntima, até pelo fato de ouvirmos os programas, em geral, com um fone de ouvido: você precisa simpatizar com quem está falando do outro lado. Nesse ponto, os apresentadores Ângela Goldstein (orientalista) e Theo Hotz (historiador e estudante de rabinato) marcam sucessivos golaços ao abordar os temas com profundidade e bom humor, conversando com a máxima naturalidade, sem que, ao mesmo tempo, as falas virem aquela bagunça dos "mesacasts" engraçadinhos, tão comuns na internet brasileira. Dá vontade de continuar conversando com eles depois que cada episódio termina.
Como o Torá com Fritas já está na estrada faz algum tempo (maio de 2021, segundo o tocador que uso), o ouvinte já tem dezenas de episódios à disposição nas principais plataformas de podcasts. Estou maratonando fora de ordem por aqui e ainda longe de acabar, mas meus episódios preferidos por enquanto são o 4 (ciclo de vida judaico) e o 45 (testes de DNA e origens judaicas).
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