New Hampshire vira palco de disputa entre religiosos e defensores do Estado laico
Assunto voltou a ganhar destaque após eleição de Trump e se transformou em tema da campanha
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Cinquenta dias antes da eleição americana, a Folha começou a publicar a série de reportagens “50 estados, 50 problemas”, que se debruça sobre questões estruturais dos EUA e presentes na campanha eleitoral que decidirá se Donald Trump continua na Casa Branca ou se entrega a Presidência a Joe Biden.
Até 3 de novembro, dia da votação, os 50 estados do país serão o ponto de partida para analisar com que problemas o próximo —ou o mesmo— líder americano terá de lidar.
“O Congresso não legislará no sentido de estabelecer uma religião, ou proibindo o livre exercício dos cultos.” É assim, com uma frase, que a primeira emenda à Constituição dos EUA estabelece dois princípios fundamentais do país.
Por um lado, determina a existência de um Estado laico —ou seja, sem uma religião oficial. Por outro, estabelece o direito que os cidadãos têm de exercer sua fé livremente. Como o texto de 1791 mostra, o assunto não é novo, mas o tema voltou a ganhar importância no país após a eleição de Donald Trump.
Os evangélicos brancos, que representam um em cada quatro americanos, formam uma das principais bases do Partido Republicano. Há quatro anos, 81% deles votaram em Trump, que agora em 2020 precisa mais do que nunca do apoio do grupo para tentar virar a disputa contra o democrata Joe Biden.
Por isso, o republicano, que se identifica como presbiteriano, tomou durante seu mandato uma série de medidas para agradar a essa parcela da população, como a transferência da embaixada americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e a nomeação de diversos juízes conservadores para tribunais federais.
“Quando essa administração e seus apoiadores usam termos como ‘liberdade religiosa’, eles em geral estão privilegiando uma agenda conservadora protestante”, afirma Devin Singh, professor do departamento de religião do Dartmouth College.
A instituição é a principal universidade de New Hampshire, o estado menos religioso dos EUA, de acordo com pesquisa do instituto Gallup. Por isso, acabou se tranformando em um palco de batalhas entre religiosos e grupos que querem preservar o Estado laico. Um projeto de lei em debate no Legislativo local, por exemplo, quer proibir a realização de orações dentro de escolas públicas.
O estado também é um dos poucos nos EUA que não possuem uma lei de consciência religiosa. Sem ela, profissionais de saúde não podem alegar princípios religiosos para se recusarem a participar de procedimentos dos quais discordem —medida comum em casos de abortos.
A Justiça estadual também autorizou o governo local a fechar templos durante a pandemia —medida da qual Trump já disse discordar. Em junho, o republicano anunciou um plano para defender a liberdade religiosa em todo o país, que determina que o assunto passe a ser uma prioridade do governo.
O texto não cria medida claras, mas estabelece, por exemplo, que países e entidades que realizem ações contrárias à liberdade religiosa podem ser proibidos de receber dinheiro federal.
O católico Biden, por sua vez, também anunciou um plano semelhante para proteger comunidades religiosas. A campanha democrata acusa o governo Trump de incentivar a discriminação contra grupos específicos, principalmente muçulmanos, judeus e minorias cristãs.
O projeto diz que o democrata será um exemplo de tolerância religiosa, propõe o aumento da segurança em templos e locais de orações e afirma que vai intensificar ações judiciais contra pessoas acusadas de discriminação religiosa. Para especialistas, porém, nenhum dos projetos é suficiente —os candidatos não tem propostas específicas sobre proteção do Estado laico.
“Quem ganhar a eleição deveria se comprometer em proteger a liberdade religiosa de todos os americanos, não a de alguns”, afirma Rob Boston, conselheiro da ONG Americanos Unidos pela Separação da Igreja e do Estado. “Isso significa acabar com políticas que usam de maneira enganosa a religião para permitir a discriminação em áreas como emprego, acesso a saúde, serviço público e imigração.”
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