Às voltas agora com fentanil, Ohio vê nova alta de mortes por opioides
Drogas do tipo mataram por overdose mais de 220 mil americanos desde 2015
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Cinquenta dias antes da eleição americana, a Folha começou a publicar a série de reportagens “50 estados, 50 problemas”, que se debruça sobre questões estruturais dos EUA e presentes na campanha eleitoral que decidirá se Donald Trump continua na Casa Branca ou se entrega a Presidência a Joe Biden.
Até 3 de novembro, dia da votação, os 50 estados do país serão o ponto de partida para analisar com que problemas o próximo —ou o mesmo— líder americano terá de lidar.
Antes da pandemia, havia a epidemia —uma que não era causada por um vírus como a de Covid-19, mas por drogas. Se o coronavírus já matou 212 mil pessoas nos Estados Unidos, as overdoses acidentais de opioides foram responsáveis, de 2015 a 2019, por mais de 220 mil mortes.
Um dos primeiros estados a serem atingidos com força por esse tipo de droga foi Ohio, onde mais de 4.000 pessoas morreram devido a overdoses no ano passado.
Depois de um pico em 2017, as mortes haviam recuado em 2018, o que especialistas atribuíram à menor disponibilidade de opioides vendidos sob prescrição médica (hoje submetidos a controle muito maior) e a políticas públicas de redução de danos, como a disponibilidade de naloxona, medicamento que reverte temporariamente os efeitos das overdoses e salva vidas.
No ano passado, porém, as mortes voltaram a subir, tanto em Ohio quanto nos EUA, e estudiosos são quase unânimes em apontar o fentanil como culpado. O opioide sintético, muito mais concentrado que outros como a heroína, é mais fácil de ser traficado, já que se levam mais doses em um volume menor.
Mas até quem usa opioides há anos tem medo do fentanil: basta um pequeno erro na dosagem para causar uma overdose. Há também o problema dos traficantes que vendem ao usuário o que juram ser heroína, quando na verdade trata-se total ou parcialmente de fentanil.
Uma das estratégias de redução de danos implantada em Ohio e em outros lugares é a disponibilização aos usuários de tiras em que eles podem testar as drogas para verificar a presença do poderoso opioide.
A pandemia de coronavírus deve resultar em ainda mais mortes por drogas neste ano, devido a fatores como o maior isolamento social (já que não há quem peça socorro em caso de overdose), o medo de adoecer com Covid-19 ao buscar internação e o desemprego, que pode contribuir para o aumento do uso de drogas e também deixa as pessoas sem seguro-saúde, o que dificulta o tratamento.
Em Ohio, nos seis primeiros meses de 2020, o número de overdoses aumentou 29,5% na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo estimativa da ONG Harm Reduction Ohio.
Nos primeiros três anos de Donald Trump na Casa Branca, a crise dos opioides foi um tema de relevância, antes de ser eclipsada pelo coronavírus. O Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo do republicano destinou mais de US$ 9 bilhões (R$ 50,32 bilhões) para ajudar comunidades, condados, estados e tribos a combaterem o problema, abraçando estratégias como o MAT (tratamento assistido por medicamentos) e a distribuição de naloxona, nas quais Ohio foi pioneiro.
Com o fentanil se espalhando cada vez mais em direção aos estados do Oeste americano, onde ainda predominava a heroína vinda do México, é inescapável que o próximo presidente tenha que voltar ao tema quando a emergência sanitária estiver controlada, ou talvez até antes disso, dada a escalada de mortes.
O democrata Joe Biden propõe melhorar o acesso a tratamento para dependentes de drogas por meio da expansão do escopo dos seguros de saúde —hoje um dos principais entraves que os usuários encontram à falta de cobertura para internações e outras terapias.
Já Trump, em seu site, destaca o que já foi feito em seu mandato, sem oferecer novos planos. Por ser de dificílima solução, é provável que a epidemia dos opioides se arraste por muito mais tempo que o coronavírus e volte a ser uma prioridade de saúde pública no mandato do próximo líder americano.
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