Perguntas e respostas: o que está acontecendo na Belarus
País tem grandes protestos após eleição com suspeita de fraude dar novo mandato a ditador
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Após uma eleição marcada por suspeitas de fraude, em 9 de agosto, multidões foram às ruas da Belarus protestar contra o regime de Alexandr Lukachenko, no poder há 26 anos. Entenda a seguir o que levou o país a esta crise:
Quando e por que começaram os conflitos?
Em 9 de agosto, pesquisa que deu mais de 80% dos votos para o ditador Alexandr Lukachenko iniciou ato contra fraude eleitoral, reprimido com brutalidade nas três primeiras noites. Há relatos de surras, estupros e torturas, inclusive de menores de idade e pessoas que não protestavam, com centenas de feridos e ao menos 3 mortos (a ONU fala em 4 mortes).
Quem se manifesta contra o governo?
Eleitores da oposição, mulheres de todas as idades, entidades de direitos civis, artistas, trabalhadores de algumas grandes estatais, alguns ex-militares, policiais e membros da máquina estatal que renunciaram. Cerca de 300 empresários de tecnologia ameaçaram deixar o país.
Ainda há detidos?
Segundo a ONU, até sábado (22) 100 dos 7.000 detidos seguiam presos, dos quais 60 acusados de crimes graves. Ao menos 8 estão desaparecidos.
O que querem os manifestantes?
O protesto não é unificado, mas há 5 reivindicações comuns: 1) a saída de Lukachenko, 2) novas eleições livres, 3) o fim da violência policial, 4) a punição dos responsáveis por tortura, 5) a libertação dos presos políticos.
Os protestos estão aumentando ou refluindo?
Houve alta até o domingo (16) e redução na última semana, mas continuam ocorrendo todos os dias em dezenas de cidades. Greves crescentes até terça (18) foram reprimidas pela polícia e por ameaças de demissão. Renúncias de militares e membros do governo continuam ocorrendo.
As manifestações são apenas contra Lukachenko?
Atos a favor do ditador começaram no dia 16, em Minsk, e em outras cidades. Parte dos participantes são trazidos de ônibus e há relatos de coerção.
A eleição pode ser anulada?
A oposição contestou o resultado na Comissão Eleitoral, mas o recurso foi negado. Nesta sexta (21), a oposição entrou com pedido de anulação no Supremo Tribunal. A resposta deve sair em até cinco dias.
Quem lidera a oposição?
Não há liderança clara. Svetlana Tikhanovskaia, que assumiu a campanha de seu marido quando ele foi preso, representou uma frente de três candidaturas, mas se exilou na Lituânia após o pleito. Um conselho de transição foi criado, mas o governo não aceitou receber interlocutores e abriu processo criminal contra o grupo.
Qual o interesse russo na Belarus?
O país separa a Rússia das tropas da Otan situadas na União Europeia e passam por ele um quinto do gás e um quarto do petróleo exportados pelos russos para a Europa.
A Rússia pode intervir contra os manifestantes?
É improvável, pois o apoio explícito de Putin a um líder considerado ilegítimo poderia mudar o atual quadro de simpatia dos bielorrussos por Moscou.
Lukachenko pode cumprir o 6º mandato?
Depende da força e da duração dos protestos e greves, da pressão de empresários externos, da defecção de membros do alto escalão do governo e da existência de alternativas consideradas confiáveis pela Rússia.
Veja reportagens sobre o país:
- Repórter evitou enviar textos da Belarus e apagou fotos e vídeos de celular antes de partir
- Bielorussos relatam torturas e surras após protestos contra resultado de eleição
- Belarus oscila entre euforia e depressão em movimento para derrubar ditadura
- Folha passa a designar Belarus como ditadura
ISTO É BELARUS
- Em março de 1918 foi criada a República Popular Bielorrussa, no território considerado etnicamente bielorrusso. O país tinha Constituição própria e foi reconhecido por nações vizinhas, mas sua independência foi breve: em 1919, foi ocupado pelos soviéticos
- Só foi considerada um país independente em 1991, após a dissolução da antiga União Soviética. Antes disso, esteve sob domínio de Rússia, Polônia e Lituânia
- A atual Constituição foi adotada em 1994, quando também ocorreram as primeiras eleições presidenciais
- Aleksandr Lukachenko foi o eleito e permanece na liderança do país há 26 anos, após emendas constitucionais baseadas em referendos amplamente contestados
- Considerado um dos mais repressivos regimes da Europa, a Belarus realizou eleições não democráticas, suprimiu a oposição política e silenciou a imprensa
- No ranking da Freedom House, que monitora as democracias pelo mundo, a Belarus tem a sétima pior pontuação e é classificada como um regime autoritário
ECONOMIA
Formação do PIB
- serviços: 51,1%
- indústria: 40,8%
- agricultura: 8,1%
- O segmento de serviços emprega a maior parte da força de trabalho, com destaque para os setores bancário, imobiliário e de comunicações
- Belarus é hoje o principal hub de tecnologia da informação na Europa. Exportou US$ 15 bilhões em 2019, ou 35,6% das receitas de exportação
- Atividades industriais se concentram na fabricação de veículos pesados, principalmente caminhões, tratores e escavadeiras.
- No segmento agrícola, a maior parte da produção é voltada para batatas, beterrabas, cevada, trigo, centeio e milho
- O turismo da Belarus é menos desenvolvido que nos países vizinhos. Os destinos mais visitados são o Parque Nacional Belovejskaia, Patrimônio Mundial pela Unesco, e a Fortaleza do Herói em Brest, palco da resistência soviética à invasão nazista em 1941
GRUPOS ÉTNICOS*
- bielorrussos: 83,7%
- russos: 8,3%
- ucranianos: 1,7%
- outros**: 3,2%
* Dados do censo de 2009
** Judeus, letões, lituanos e tártaros. Antes da Segunda Guerra (1939–1945), os judeus constituíam o 2º maior grupo étnico da Belarus e mais da metade da população urbana. O genocídio e a emigração do pós-guerra quase eliminaram os judeus do país
GRUPOS RELIGIOSOS
- cristãos ortodoxos: 48,3%
- católicos: 7,1%
- não religiosos ou ateus: 41,1%
- outros*: 3,5%
TCHERNÓBIL
- O acidente na usina nuclear em Tchernóbil, na Ucrânia, ocorreu a 447 km da capital bielorrussa, Minsk. A Belarus foi um dos países mais afetados
- A maior parte das chuvas radioativas após a explosão caiu em território bielorrusso. No início dos anos 2000, um quinto das terras da Belarus seguia contaminado
- Houve aumento nos registros de crianças nascidas com malformações e na incidência de câncer, além de queda na taxa de natalidade
PERSONALIDADES
- Marc Chagall (1887-1985): Talvez o mais famoso dos bielorrussos, o pintor, ceramista e gravurista é conhecido como um mestre da arte clássica de vanguarda
- Svetlana Aleksiévitch (1948-): Escritora vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, em 2015. Atualmente, é integrante do conselho que busca a transição de poder na Belarus
- Victoria Azarenka (1989-): Tenista com duas medalhas olímpicas, foi considerada a melhor do mundo em 2012. Atualmente, ocupa a 59ª posição no ranking
- Louis Burt Mayer (1884-1957): Produtor de cinema que ajudou a fundar o estúdio hollywoodiano Metro-Goldwyn-Mayer e a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, criadora do Oscar. Foi dele a ideia de tornar anual a maior premiação do cinema
- Zhores Alferov (1930-2019): Vencedor do Prêmio Nobel de Física, em 2000, pelo desenvolvimento de semicondutores que possibilitaram o aprimoramento dos telefones celulares
- Oleg Novitski (1971-): Primeiro cosmonauta bielorrusso a liderar uma expedição à Estação Espacial Internacional (ISS), em 2012
ESPORTES
- As modalidades mais populares são futebol, basquete, hóquei no gelo, atletismo, ginástica e luta livre
- Antes da independência, os bielorrussos competiam nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos pela delegação soviética
- Desde a 1ª participação independente, em 1994, a Belarus ganhou 97 medalhas olímpicas e 133 paraolímpicas
Fontes: Banco Mundial, Enciclopédia Britannica, PNUD, Regime da Belarus e World Factbook
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