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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Música depois da morte

O contrabaixo de Charles Mingus continua vivo e respirando, usado em sua orquestra póstuma

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Charles Mingus (1922-1979), talvez o maior contrabaixista da história do jazz, já nos deixou há muito. Mas seu contrabaixo, ou o seu favorito, que ele usava nos discos e concertos, continua ativo. Um amigo me escreveu contando que acabara de assistir em Nova York a uma apresentação da Mingus Big Band, formidável organização mantida pela viúva Sue Mingus, e teve um arrepio quando se anunciou que o instrumento da orquestra naquela noite seria o três-quartos original de Mingus, amorosamente preservado.

Não é um instrumento comum, informaram. Foi fabricado em 1927 por um luthier alemão, Ernst Roth, e comprado por Mingus nos anos 50 a um colega na pior —sabe-se lá a quem pertencera antes. Os sulcos no espelho, sobre o qual ficam as cordas, são as marcas de suas unhas. As cordas, de aço, são as mesmas Thomastik-Spirocore 3885.0 com que Mingus substituiu as de tripa. E a figura esculpida na voluta é uma cabeça de leão. Nenhum fã de Mingus pode ficar indiferente ao ouvir ao vivo o bichão com que ele gravou "Moanin'", "Eclipse" ou "Fables of Faubus".

Ao saber que o contrabaixo de Mingus está vivo e respirando, perguntei-me para onde terão ido certos instrumentos depois da morte de seus donos —como os violões de Garoto, as gaitas de Edu, o violino de Fafá Lemos. Estarão silenciosos num armário? Perderam-se para sempre?

Do destino dos trombones de Raul de Souza fiquei sabendo. Já doente, ele os vendeu a um comerciante francês pouco antes de sua morte, há algumas semanas, num hospital em Paris. Mas essa terá sido só a morte física de Raul. A principal aconteceu quando, ciente do fim, ele se despediu de seus instrumentos.

Tive a felicidade de, um dia, ver e ouvir aquele contrabaixo abraçado pelo próprio Mingus. Foi em maio de 1977, no Teatro João Caetano, no Rio. O difícil era saber se era Mingus quem o tocava ou se suas mãos eram a extensão de um instrumento com vontade própria.

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