Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
'Potlatch' eleitoral
Corrida armamentista de promessas na eleição tem precedente em tradição indígena no Canadá
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Um dos costumes de indígenas do Novo Mundo que mais intrigou e escandalizou os colonizadores é o "potlatch", praticado por tribos da costa oeste dos EUA e do Canadá. Eram cerimônias festivas nas quais o homenageado, quase sempre um membro de família aristocrática, oferecia banquetes e entregava a maior parte ou mesmo todos os seus bens a parente e amigos.
A chegada dos europeus provocou uma série de mudanças demográficas e aumentou o estoque de coisas a distribuir, inflacionando o "potlatch", que evoluiu para formas mais radicais, em que quantidades crescentes de bens eram distribuídas e mesmo destruídas em grandes fogueiras. As autoridades canadenses viram a prática como uma manifestação de completa irracionalidade e a criminalizaram.
Foi preciso que a antropologia avançasse para além das observações de missionários europeus para que se percebesse que o "potlach", ainda que ocasionasse destruição de riqueza, envolvia também uma sofisticada teia de relacionamentos sociais, com funções religiosa, econômica e política. O homenageado, que entregava seus bens, adquiria prestígio, item de alto valor, e às vezes também acesso privilegiado a zonas de pesca e coleta. Mesmo a riqueza da qual se desfazia acabava retornando parcialmente, quando a família rival dividia seus bens no "potlatch" seguinte.
Meu ponto é que o "potlatch", compreendido como uma disputa na qual agentes fazem sacrifícios crescentes em busca de ganhos políticos (altruísmo competitivo), é menos exótico do que parece. Estamos agora mesmo diante de um. Bolsonaro elevou o velho Bolsa Família para R$ 600. Lula, para não ficar atrás, prometeu manter os R$ 600 e dar mais R$ 150 para cada criança que houver na família. Bolsonaro, em resposta, falou em aumentar o estipêndio para R$ 800 para aqueles que estiverem empregados.
Corridas armamentistas, quando saem de controle, podem deixar um rastro de destruição.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters