O PT fez coisas boas, mas também cometeu graves erros ao longo de seus 13 anos de administração federal. E, se o passado oferece a Lula alguns trunfos para exibir na propaganda eleitoral, também coloca dois elefantes na sala, que são a recessão de 2015-16, no governo Dilma, em larga medida autoinfligida, e os escândalos de corrupção sob a gestão do próprio ex-presidente. Minha sensação é que Lula ainda hesita em como lidar com o paquidérmico problema.
Na sabatina no Jornal Nacional, o ex-presidente, se não ensaiou uma autocrítica, ao menos admitiu que houve erros; no debate do domingo, optou por desconversar. Penso que ele se saiu melhor na sabatina que no debate. Fugir do assunto diante de perguntas diretas passa uma péssima impressão. Temos, porém, de convir que a matéria é difícil. Se, no caso da recessão, Lula ainda pode empurrar o abacaxi para Dilma, com a corrupção é mais complicado, já que os questionamentos envolvem a pessoa física do ex-presidente.
Não acredito, porém, que a corrupção será um fator eleitoral decisivo este ano. Embora o assunto não possa nem deva ser ignorado, ele de fato não parece ser prioritário quando o país enfrenta ameaça de ruptura democrática e experimentou retrocessos em praticamente todas as áreas, tendo até de voltar a lidar com o problema da fome. Se os adversários de Lula insistirem no tema, até poderão afastar parte dos eleitores menos decididos da chapa petista, mas nada que vire o jogo.
Existe, contudo, uma razão pragmática para Lula definir-se pela abordagem menos diversionista. O que ele disser e fizer nesta reta final de campanha eleitoral terá impactos concretos num eventual futuro governo. Se ele indicar de forma convincente que não repetirá os erros das gestões petistas anteriores, vai deixar de adicionar juros e dólar mais altos a um formidável conjunto de dificuldades econômicas, domésticas e externas, que deverá marcar 2023.
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