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Doutor em história, é autor de 'Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira' e 'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga'.

Victor Chaves: um violão diferente na música brasileira

O músico é protagonista do descentramento de nossas tradições violonísticas

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Quando Victor Chaves apareceu para o grande público, em meados dos anos 2000, foi difícil categorizá-lo. Embora cantasse junto com o irmão na dupla Victor & Leo, sua forma de tocar violão não tinha paralelo com o que se fazia no Brasil. Criados em Abre Campo (MG), foram logo batizados de "sertanejos", e Victor Chaves tornou-se o compositor que mais arrecadou direitos autorais no país entre 2009 e 2011.

Ele usava um violão canadense da marca Godin, comprado por volta de 2003 numa loja da Teodoro Sampaio, famosa rua de venda de instrumentos musicais na capital paulista. O violão Godin modelo A6 Ultra parece, aos olhos do leigo, uma guitarra. Seu corpo é fino como o de uma guitarra, embora oco. Tem captadores humbucker (típicos de guitarra) e piezo (típicos de violão elétrico) e cordas de aço. É um instrumento ideal para shows em palco, pois não produz feedback, aquele zumbido irritante que qualquer violonista acústico busca evitar. É um híbrido de guitarra e violão.

Victor toca violão durante gravação de DVD da dupla Victor & Leo, formada com seu irmão - Julia Chequer - 29.jan.15/Folhapress

Embora influenciado por grandes deuses da guitarra, como Eric Clapton, Stevie Ray Vaughan e Mark Knopfler, o estilo de Victor nunca foi o de um guitar hero. Paralelamente aos estrangeiros, Victor ouviu muito Almir Sater, Sérgio Reis, Renato Teixeira, Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo e Zezé Di Camargo e Luciano nas décadas de 80 e 90. Seu estilo, difícil de definir, mistura raízes sertanejas, pop, folk e blues. Essa síntese pode ser ouvida em canções da dupla como "Não Mais", "Lado Errado", "Tem que Ser Você", "Meu Eu em Você", "Nada Normal", "Momentos" e "Deus e Eu no Sertão".

O grande sucesso popular sob o rótulo de "sertanejo" ofuscou a originalidade do violão de Victor. Na música sertaneja, o violão de aço quase sempre era usado em batidas rítmicas, fortes e compassadas, e às vezes também em solos introdutórios. No entanto, quase nunca havia dedilhados e arranjos mais rebuscados com o instrumento. Nas mãos de Victor o violão de cordas de aço híbrido ganhou primazia na sonoridade da dupla, com arranjos criativos, solos originais e dedilhados que alternam palhetadas e movimentos de três dedos da mão direita. Em estilo pouco convencional, Victor dedilha usando apenas o polegar, o index e o dedo médio, sem tocar com o anelar. Seus arranjos, introduções, solos e dedilhados são partes fundamentais das canções que compõe, sem os quais suas músicas perdem completamente a cara autoral.

Desde que se separou do irmão, em 2018, o violonista e cantor desenvolve carreira própria. Em 2020 ele lançou o disco "Projeto VC", todo gravado ao vivo na sala de seu apartamento em Belo Horizonte. Canções como "Claridade" e "Luz Acesa" chamam atenção pela beleza dos arranjos do violão. "Lampião das Estrelas" traz o lado blueseiro de Victor à tona. Atualmente ele se dedica a produzir o volume dois do mesmo projeto, também de canções inéditas, ainda sem data definida de lançamento.

O toque de Victor não é original apenas na música sertaneja. No mundo do violão nacional não há uma tradição de músicos que compuseram repertório explicitamente para violão de cordas de aço. Quando se fala de violão brasileiro, tão importante mundialmente, quase sempre está se falando do instrumento de cordas de nylon, de tradição riquíssima no país. O violão de aço é o "primo pobre" do violão brasileiro. Paupérrimo.

É nessa lacuna que Victor Chaves se mostra pertinente na música brasileira. Em toda a sua obra o violão com cordas de aço é tocado de forma original, forjando uma escola brasileira pop-folk-sertaneja-blueseira para o instrumento. O violão não é apenas o "lugar" onde nascem as composições ou mera base de acompanhamento das canções, mas elemento fundamental dos arranjos, solos, dedilhados e introduções.

O violão de Victor Chaves aparece como protagonista do descentramento de nossas tradições violonísticas, abrindo novas vertentes estéticas e musicais.

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