Só não tem o papa: casar no Vaticano é burocrático, mas sai de graça
Ketlen Gomes, 35, largou sua carreira no Rio de Janeiro para se mudar para a Itália com seu marido. E, para não ficar sem trabalho, precisou se reinventar. Agora ela organiza casamentos e ajuda quem quer se casar na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
"Trabalhava no ramo de hotelaria, na área comercial. Conheci meu marido durante o Carnaval em uma viagem de navio e nunca mais nos desgrudamos. Mas a pandemia chegou e nos deixou em um relacionamento a distância por muito tempo", diz Gomes. Após o pedido de casamento, os dois decidiram abrir mão de seus empregos para ficarem juntos.
Mudar de país e viver longe da família e da praia não fez bem para Gomes. E foi organizando um pedido de casamento que ela conseguiu se reencontrar. "Isso me libertou e evitou que eu caísse em depressão. Como tinha uma mente vendedora, fiz disso um negócio", conta.
Mudança de carreira
Com foco no novo negócio, Gomes decidiu estudar e se aprofundar, tanto no assunto de casamentos quanto no idioma. Com isso, conseguiu a habilitação para realizar todos os tipos de eventos na Itália, mas queria continuar no ramo do romance.
"Vi no TikTok um casal dizendo que se casaria na Capela Nostra Signora del Sacro Cuore, em Roma, e pensei comigo mesma: 'vou organizar o casamento deles'. Mandei mensagem para eles pelas redes sociais dizendo que eu era organizadora de casamento e que podia ajudá-los", conta.
Como o primeiro plano que Gomes e seu marido tinham era de se casar no Vaticano, ela já sabia todos os trâmites da igreja na Itália. "Fiz amizades com algumas freiras, então tinha umas entradas. O casal que vi nas redes sociais acabou me contratando. Era meu primeiro casamento."
Casar na Itália
Gomes não está no ramo há muito tempo: em menos de um ano ela já fez dois casamentos no Vaticano e trabalhou com cerca de 20 casais na Itália, fora os pedidos de noivado. Mas já sabe explicar bem para nós, brasileiros, o que é necessário para conseguir se casar no coração da igreja católica.
O processo, de uma forma geral, para todos os casamento, é bem burocrático. Para algumas coisas, os documentos só podem ser enviados ao Vaticano por fax (máquina que faz quase um email impresso), explica Gomes.
É preciso paciência e entender a maneira como a igreja por lá ainda funciona.
Você pode, por exemplo, casar na Basílica de São Pedro e, pasme: não tem um valor fixo. O que a igreja pede é uma doação do casal, sem estimular a quantia.
"Eles nunca vão falar quanto você tem que pagar, eles pedem uma oferta", explica Gomes. Ela diz que organiza com o casal um valor que seria ideal, mas preferiu não divulgar esse número.
Você vai precisar de, no mínimo, seis meses para organizar um casamento na Basílica, então é necessário organização. E se os dois noivos foram católicos, mais um alerta: é preciso ser batizado, ter feito a primeira comunhão e crisma.
Se um dos noivos não for católico ainda é possível fazer o casamento. Chamado de misto, ele exige alguns cuidados para acontecer. Mas é importante reforçar: pelo menos um do casal tem que ser católico.
Assim como no Brasil, antes de subir ao altar os noivos passam por uma entrevista com um padre. Mas enquanto por aqui esse encontro é tranquilo, lá é preciso levar bem a sério e tomar cuidado com as respostas. Por isso, Gomes dá um treinamento antes do encontro.
Mas atenção: não tem como evitar os turistas na hora da cerimônia.
Se você está na Basílica São Pedro, os turistas vão querer ver o que está acontecendo, diz.
Já casou? Ainda dá para receber a benção do Papa - e de graça! "Os recém-casados podem pedir essa bênção. Mas é preciso fazer uma solicitação, acompanhar o avanço dos documentos, saber o dress code ideal? E é pra isso que me contraram", diz Gomes. Casais que se casaram na igreja de três a seis meses podem fazer esse pedido. "É um mini casamento", explica a assessora.
E como não tem casamento sem festa, fica a dúvida: cabe no bolso? Depende do que você busca. "Procuro locais de acordo com o orçamento do casal. Dá para fazer uma festa de 70 mil euros (cerca de R$ 419 mil) para 200 pessoas ou algo menor e simbólico por 4 mil euros (cerca de R$ 23 mil)", diz.
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