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Precisamos parar de normalizar ter Neymar como ídolo

Dois dos principais nomes da semifinal de hoje da Euro, entre Espanha e França, declaram-se grandes fãs de Neymar. Lamine Yamal, de apenas 16 anos, e Nico Williams, de 21, vêm sendo destaques de suas seleções e tentarão hoje garantir uma vaga na tão sonhada final.

O colega Thiago Arantes escreveu aqui no UOL que "seja como ídolo, amigo ou como professor, Neymar cruzou os caminhos de jogadores-chave das quatro seleções que disputam as semifinais da Eurocopa — Espanha, França, Países Baixos e Inglaterra".

Não bastasse fazer papel de herói para pessoas comuns no mundo inteiro, o atacante vai deixando legado, plantando sementes em uma nova geração, que podem dar frutos por anos a fio, bem depois de ele deixar os gramados de vez.

Isso é muito preocupante. Por um simples motivo: Neymar é um péssimo exemplo. De atleta. De homem. De companheiro. De pessoa.

Uma breve recapitulação:

Foi acusado de sonegar milhões em impostos (dinheiro seu, meu, nosso).

Diante de uma acusação de estupro (arquivada por falta de provas), ele expôs a suposta vítima vazando conversas e fotos íntimas.

Diante de uma acusação de assédio sexual por uma funcionária da Nike, ele preferiu não colaborar com a investigação e teve seu contrato sumariamente rompido pela empresa.

Traiu a namorada grávida, expondo-a para todo o mundo.

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Ajudou a pagar a fiança do parça e estuprador condenado, Daniel Alves.

Chamou Luana Piovani de velha, louca e mal-amada, completando que ia enfiar um sapato na boca dela, por ousar criticá-lo pelo apoio a um projeto de privatização das praias brasileiras.

Esse é apenas um recorte dos "melhores momentos do menino Ney".

Talvez nada disso importe para você. Talvez você não se importe com a maneira como ele trata mulheres, afinal ele paga, não é mesmo? Afinal, a terceira filha, que nasceu agora, sete meses depois da segunda, recebeu todos os mesmos "mimos" na maternidade. Afinal, ele até registrou a bebê.

Ou talvez você consiga se convencer de que um ídolo deva ser avaliado apenas pelo que entrega dentro de campo. Então vejamos:

Aos 32 anos, Neymar está há 515 dias sem jogar na Europa. Foi parar na Arábia Saudita, onde pouco entregou depois de sofrer mais uma lesão. Em seus cinco anos de PSG, venceu apenas títulos nacionais. No Barcelona, viveu seu maior momento em 2014-15, quando conquistou a sonhada tríplice coroa, ao lado de nomes como Messi e Suárez. Quase dez anos atrás.

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Na seleção brasileira, ostenta no currículo uma Copa das Confederações e a medalha de ouro na Rio 2016. Nada mais.

Esse é o grande ídolo. O cara a quem devemos esperar ansiosamente, o salvador, a referência, aquele cujo nome queremos ver estampado na camisa dos nossos filhos e filhas.

É mesmo? É assim que você gostaria de ver nossas crianças se comportando no futuro? O namorado ou namorada dos seus filhos? O sonho que deu certo? O professor? O brasileiro que queremos ser? Só porque ficou rico, conhece uma galera famosa e pega um monte de mina na balada? É essa a personificação do sucesso?

Se for, então, por favor puxem a cordinha. Parem tudo e me deixem descer.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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