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Qual é o papel das emissões de carbono na crise climática?

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Imagem: iStock

Bárbara Therrie

Colaboração para Ecoa

13/05/2024 04h00

Considerado o principal gás do efeito estufa, o dióxido de carbono é responsável por cerca de 75% do aquecimento global. Grande parte dessa emissão vem das atividades humanas, principalmente da queima de combustíveis fósseis para gerar eletricidade, energia para a indústria e meios de transporte e do desmatamento. Entenda mais sobre o assunto abaixo.

O que são gases de efeito estufa?

Gases de efeito estufa (GEE) são aqueles que absorvem parte do calor irradiado pela Terra. A presença desses gases na atmosfera faz com que o nosso planeta tenha temperaturas mais de 30 ºC acima do que teria se estivesse apenas sob influência do aquecimento associado à absorção de luz solar.

Os quatro principais gases de efeito estufa são dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e vapor d'água.

Por sua abundância, o vapor d'água até poderia ser considerado o principal gás de efeito estufa, mas não é porque tem vida curta. Ele pode mudar de fase, condensando ou sublimando para produzir gotas líquidas ou cristais de gelo, não ficando acumulado no ar indefinidamente.

Como a capacidade de armazenamento de vapor d'água na atmosfera aumenta com a temperatura, uma maior quantidade de vapor intensifica os efeitos dos gases de efeito estufa de vida mais longa, como o dióxido de carbono, constituindo o que chamamos de retroalimentação ou feedback do vapor d'água.

Como o CO2 prende o calor na Terra e por que ele é o GEE mais perigoso?

O dióxido de carbono é responsável por cerca de 75% do aquecimento global, sendo o principal gás de efeito estufa. Não é à toa que alguns cientistas afirmam que esse gás é o "grande botão de controle do clima da Terra".

Quando uma molécula de CO2 é lançada na atmosfera, ela pode permanecer ali por séculos. Os processos naturais de remoção do gás são muito lentos. Um deles é a fotossíntese, que captura CO2 da atmosfera e o fixa nas plantas para constituir os tecidos de todos os vegetais. O problema é que a quantidade colossal de CO2 que estamos despejando na atmosfera (em torno de 40 bilhões de toneladas todo ano) não tem como ser absorvida na mesma velocidade da emissão.

O resultado é a acumulação de grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, cujas concentrações saltaram de 280 partes por milhão (ppm) nos tempos pré-industriais para 420 (ppm) nos dias atuais. A concentração atmosférica de CO2 hoje é 66% maior que há 150 anos atrás.

A presença de mais CO2 na atmosfera implica em um efeito estufa mais intenso e, como consequência, um desequilíbrio no balanço de energia do planeta. Continua chegando a mesma quantidade de energia solar, mas o calor fica retido na atmosfera e eleva a temperatura da Terra. Para se ter uma ideia, é como se a energia da explosão de mais de 660 milhões de bombas de Hiroshima fosse armazenada a cada ano para aquecer a Terra.

O CO2 emitido pelo escapamento de um automóvel ou ônibus já começa a aquecer a atmosfera imediatamente, e seu efeito pode permanecer por séculos.

No entanto, vale ressaltar que a ausência de dióxido de carbono ou sua presença em concentrações baixas tornaria a Terra uma imensa bola de gelo, incapaz de dar suporte à vida como a conhecemos hoje.

Qual é o papel das emissões de carbono na crise climática?

As emissões de carbono levam a um efeito estufa intenso e ao aquecimento global. No entanto, não se trata apenas de uma mudança de alguns graus na temperatura média do planeta, mas sim de alterações profundas no comportamento físico do sistema como um todo. Um planeta mais quente é um planeta com eventos climáticos extremos.

As ondas de calor cujo tempo de recorrência eram de 50 anos (ou seja, eram tão raras que ocorriam uma vez a cada 5 décadas) estão agora acontecendo praticamente uma vez por década. Em um cenário de elevadas emissões de carbono, essas ondas de calor podem ficar até 39 vezes mais frequentes. Em outras palavras, seria o "novo normal".

O que é captura de carbono?

Captura de carbono refere-se a retirar CO2 da atmosfera e armazená-lo em repositórios onde este gás não retorne a ela. Além da fotossíntese, atualmente existem outros dois processos: a captura e armazenamento de carbono (CCS, da sigla em inglês) e a captura direta do ar (ou DAC, da sigla em inglês).

A CCS é a separação e captura do dióxido de carbono das emissões dos processos industriais antes da liberação na atmosfera e seu armazenamento em formações geológicas subterrâneas profundas.

A DAC extrai CO2 diretamente da atmosfera em qualquer local, ao contrário da captura de carbono, que geralmente é realizada no ponto de emissões, como uma usina termelétrica. Na sequência, o CO2 pode ser armazenado permanentemente em formações geológicas profundas ou utilizado para uma variedade de aplicações.

As tecnologias podem auxiliar, mas são insuficientes para remover CO2 da atmosfera na quantidade que precisamos para estabilizar ou reduzir a concentração de gases de efeito estufa.

Por que é importante reduzir as emissões de carbono?

A redução das emissões é a principal maneira de conter o aquecimento global e o agravamento da crise climática. Para isso, é necessário eliminar os combustíveis fósseis da matriz energética; zerar o desmatamento e se atentar aos demais processos emissores, como agropecuária e manejo de resíduos.

Não há como capturar carbono suficiente para evitar o acúmulo de CO2 e dos demais gases de efeito estufa na atmosfera se mantivermos o ritmo de emissões atuais. Seria como tentar tirar água de um navio com furos enormes usando apenas um baldinho. Para evitar o Titanic climático global é preciso ir à raiz do problema.

Existem ainda outros benefícios na redução das emissões de carbono:

  • Melhoria da qualidade do ar, pois, juntamente com o CO2, outros poluentes, como o monóxido de carbono e a fuligem, são emitidos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que anualmente mais de 4 milhões de mortes prematuras estejam associadas à poluição atmosférica.
  • Adotar uma dieta com menos produtos de origem animal, principalmente carne e leite, promove uma alimentação mais saudável e favorece o clima, uma vez que a fermentação entérica que acontece no aparelho digestivo dos bovinos é um grande emissor de metano.

Como é o 'novo normal' em um planeta em emergência crise climática?

O ciclo hidrológico é fortemente perturbado. Com mais vapor d'água devido ao aquecimento global, a atmosfera impõe maiores taxas de evaporação e evapotranspiração, o que se reflete no prolongamento de secas extremas, o que, combinado com as altas temperaturas, favorece os incêndios florestais.

Por outro lado, mais vapor d'água disponível para condensação significa a produção de chuvas extremas e concentradas, gerando inundações, alagamentos e deslizamentos.

Oceanos mais quentes se tornam mais inóspitos à vida marinha, mas também fonte de umidade e de sistemas meteorológicos que envolvem risco severo, como ciclones tropicais (furacões e tufões) e extratropicais. Quanto mais quente o planeta ficar, a dilatação das águas do oceano e a perda de massa nos mantos da Antártica e da Groenlândia farão com que o nível do mar suba de forma cada vez mais acelerada.

Fonte: Alexandre Araújo Costa, cientista do clima e professor titular do mestrado em climatologia da Uece (Universidade Estadual do Ceará), mestre em Física e doutor em Ciências Atmosféricas pela Colorado State University; Paulo Artaxo, pesquisador do Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa da USP (Universidade de São Paulo), professor titular do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP e membro do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)