Topo

Como você pode ajudar no processo de descarbonização

Energia solar fotovoltaica e energia eólica: soluções ao alcance do consumidor - Getty Images/deliormanli
Energia solar fotovoltaica e energia eólica: soluções ao alcance do consumidor Imagem: Getty Images/deliormanli

Bárbara Therrie

Colaboração para Ecoa

08/07/2024 04h00

Os indivíduos desempenham um papel importante na descarbonização por meio do estilo de vida e das escolhas de consumo, que podem impactar significativamente as emissões de gases de efeito estufa.

Cada um de nós pode participar deste processo de diversas formas: reduzindo o uso de energia elétrica, escolhendo produtos e serviços com menor pegada de carbono, utilizando transportes menos poluentes, adotando uma alimentação mais sustentável, cobrando empresas e governos, buscando informações de qualidade e não disseminando notícias falsas. A seguir, detalhamos cada uma delas.

Usar fontes de energia renovável pode ajudar na descarbonização?

Sim, adotar energia solar na sua casa tem vantagens:

A energia solar não emite gases de efeito estufa durante a geração de eletricidade. Isso significa que quanto mais este tipo de energia renovável for utilizada, menor será a demanda por energia produzida por fontes não renováveis, como os combustíveis fósseis. Considerando médio e longo prazos, a conta de luz também ficará mais barata para o usuário.

No entanto, existem desvantagens:

O alto investimento na aquisição e instalação de painéis solares pode ser um obstáculo e impossibilitar o seu acesso para a maior parte da população. Entretanto, vale ressaltar que o preço dos módulos tem caído ao longo dos anos e que muitos governos têm oferecido incentivos fiscais e subsídios para reduzir o custo inicial.

Uma outra desvantagem é que a produção de energia solar é dependente da exposição solar - o que geralmente acontece de 10 a 12 horas por dia - e a demanda elétrica do consumidor dura mais tempo. Enquanto o setor ainda desenvolve meios de ampliar o armazenamento dessa energia, pode ser necessário combinar essas fontes para garantir o abastecimento. Uma dica é reduzir a demanda, usando lâmpadas LED e equipamentos mais eficientes.

Um outro desafio para o setor está no nível de emissões na produção das placas solares e no descarte do material ao final de sua vida útil. É preciso também lembrar que há outras fontes de energia limpa, como a hídrica. A energia eólica também pode ser uma alternativa, mesmo para pessoas físicas.

Escolher produtos com baixa emissão de carbono ou mais eficientes

Os consumidores podem escolher produtos e serviços com baixa emissão de carbono - hoje há uma oferta crescente de itens que são carbono neutro, net zero e que capturam e estocam carbono no seu processo produtivo. Alguns produtos também já exibem a quantidade de carbono necessária para sua produção, permitindo que o consumidor compare produtos antes de comprar ou que possa escolher ele mesmo compensar essa emissão, pagando um valor por ela.

As pessoas também podem optar por equipamentos mais eficientes, como eletrodomésticos que consomem menos energia elétrica, sinalizado por meio de etiqueta de eficiência energética que acompanha o produto.

Um outro ponto é a necessidade de eliminar ou reduzir drasticamente o consumo de produtos plásticos, principalmente os de uso único. Além disso, os indivíduos devem ficar atentos às falsas soluções, como plásticos oxidegradáveis, comercializados como se fossem materiais biodegradáveis a partir da adição de aditivos químicos em polímeros comuns. Ao invés de se decompor no ambiente natural, os plásticos oxidegradáveis se convertem em micro e nano plástico, representando um risco para a saúde humana e ambiental. Ou seja, na dúvida, é sempre melhor recusar o canudinho.

Mudar os meios de locomoção

Para a descarbonização, é preferível o uso de transporte público em vez do privado. Ônibus elétricos a bateria, trólebus, a implantação de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) emitem menos gases de efeito estufa em comparação aos veículos movidos a combustíveis fósseis, favorecendo o processo e melhorando a qualidade do ar. É fundamental pressionar o poder público para ampliar o acesso e a qualidade do transporte coletivo.

Andar a pé ou adotar a bicicleta é a solução zero emissões, mas nem sempre é possível, dependendo da distância percorrida. Uma opção é embarcar no transporte coletivo com a bicicleta. A multimodalidade é especialmente importante para as populações que vivem nas periferias e se locomovem até as regiões centrais, permitindo que todas as etapas do trajeto aconteçam de maneira rápida e segura.

Os carros elétricos estão presentes no mercado brasileiro e são uma alternativa menos poluente, porque não emitem gases de efeito estufa durante o uso. Por outro lado, demandam a extração de minerais, como o lítio, para a confecção das baterias, que têm um ciclo de vida pior do que a bateria dos carros convencionais. A rede de abastecimento elétrico também pode limitar o uso em parte das cidades brasileiras.

Também é importante analisar qual a origem da energia elétrica para abastecer o carro. Caso ela tenha sido produzida por combustíveis fósseis, como o gás natural ou o diesel, há emissão de gases de efeito estufa no ciclo, e, portanto, o uso do carro elétrico não traz os benefícios de redução esperados.

Uma outra opção, mais simples de ser adotada, é abastecer os veículos flex convencionais com biocombustíveis, como o etanol ou biodiesel.

Optar por alimentos com menor pegada de carbono

Consumir alimentos de origem vegetal, reduzir o desperdício de alimentos, preferir produtos orgânicos e sazonais, cultivados localmente e em modelos produtivos como o da agroecologia contribui para a redução das emissões de carbono associadas à produção de alimentos, especialmente de origem animal, ao transporte de longa distância, ao desmatamento e à degradação do uso do solo.

De acordo com o Guia Alimentar da População Brasileira, diminuir o consumo de carne e de produtos ultraprocessados, na maioria das vezes elaborados a partir de commodities como soja e milho, pode favorecer uma alimentação sustentável, com benefícios para o ambiente, saúde humana e bem-estar animal.

Colocar empresas e governos na mira dos cidadãos

As pessoas podem cobrar empresas e governos de várias formas: participando de movimentos, petições, consultas públicas, votando em políticos que sejam a favor da descarbonização, pressionando por regulamentações mais rigorosas sobre emissões de carbono, apoiando empresas, associações e produtos sustentáveis e boicotando marcas que contribuem para a crise climática.

Buscar informações e não divulgar notícias falsas

Buscar informações de qualidade, conscientizar-se sobre as mudanças climáticas, entender seus impactos e as soluções disponíveis são fundamentais para que os indivíduos compreendam a urgência da descarbonização e se comprometam em tomar decisões e a fazer escolhas que contribuam para a redução das emissões de carbono.

A desinformação, a disseminação de notícias falsas e as diferentes formas de negacionismo propagadas nas redes sociais distanciam as pessoas do engajamento necessário para enfrentar a crise climática.

Consertar produtos em vez de descartá-los

Consertar produtos em vez de descartá-los é benéfico porque, ao prolongar a vida útil deles, evita-se a produção de novos itens, poupando recursos naturais e energia, o que contribui para a redução das emissões de carbono associadas à produção e ao seu descarte.

Além disso, a prática de consertar produtos promove uma cultura de sustentabilidade, diminui o desperdício, favorece a economia circular e a preservação do meio ambiente.

Fonte: Karen Louise Mascarenhas, diretora de recursos humanos, comunicação, vice-coordenadora do projeto de percepção social do RCGI (Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa) da Universidade de São Paulo e pós-doutoranda do Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP); Maurício Salles, professor da Escola Politécnica da USP e coordenador do programa InnovaPower do RCGI; Julia Catão Dias, pesquisadora do programa de consumo sustentável do Idec (Instituto de Defesa de Consumidores)