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Por , de Cartagena, Colômbia*

A Xiaomi tem conquistado os brasileiros pelo custo-benefício dos seus celulares, que aliam ficha técnica competente e preço baixo. Prova disso é que a gigante chinesa fechou o ano de 2023 com 20% de participação no mercado de celulares do país, segundo dados da Canalys, empresa de análise do mercado de tecnologia. Recentemente, em 31 de janeiro, a empresa anunciou o lançamento da série Redmi Note 13 no Brasil. A linha é uma das apostas da marca para expandir o market share no Brasil e ultrapassar a Motorola, que hoje ocupa a segunda posição, também segundo relatório da Canalys.

A missão, entretanto, não será fácil. Para cumpri-la, a Xiaomi precisa enfrentar desafios como conquistar o consumidor high-end, hoje cliente da Apple ou Samsung, e a atratividade do famoso "mercado cinza", que envolve a importação sem o pagamento de impostos e, por isso, oferece preços mais baixos. Para saber como a Xiaomi enxerga o mercado brasileiro e o que planeja fazer para se consolidar por aqui, o TechTudo conversou com o gerente de Marketing da Xiaomi no Brasil, Thiago Araripe. Na conversa, ele discutiu planos de fabricar celulares no país, falou sobre a relação com o público brasileiro e explicou o que a marca está fazendo para se manter competitiva e inovar.

Thiago Araripe, gerente de Marketing da Xiaomi no Brasil — Foto: Divulgação/Xiaomi
Thiago Araripe, gerente de Marketing da Xiaomi no Brasil — Foto: Divulgação/Xiaomi

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Nas linhas a seguir, confira a entrevista exclusiva do TechTudo com o diretor de Marketing da Xiaomi no Brasil. As falas foram editadas para fins de clareza e brevidade.

Ultimamente os consumidores têm reclamado que os celulares estão todos iguais e que não há mais inovações de verdade. Há alguns dias, no entanto, a Samsung surpreendeu ao lançar os smartphones com Inteligência Artificial (IA), o que parece de fato ser um marco na indústria. Como a Xiaomi tem buscado inovar pra se manter competitiva?

Um dos princípios da Xiaomi é inovação para todos. A série Redmi Note 13, inclusive, é uma vitrine de inovação, e a gente sempre traz algo novo para o segmento intermediário que geralmente só está presente em celulares premium. Por exemplo, este ano a gente traz a câmera de 200 megapixels, a tela AMOLED com 1,5k de resolução e um processador de quatro nanômetros — algo que você só vê em topos de linha.

Quando lançamos os nossos topo de linha, que seriam os modelos da linha Xiaomi, aí realmente nós trazemos inovações que estão estreando no mercado. Falando sobre Inteligência Artificial, os nossos produtos já têm IA há muito tempo, mas de formas que às vezes as pessoas nem sabem. Por exemplo, a câmera dos modelos Redmi Note e dos Xiaomi já tem IA há anos, para fazer ajustes antes mesmo de o usuário pressionar o botão de captura. Isso ocorre na pós-produção também, quando você vai remover pessoas da foto no editor, por exemplo.

Está nos planos da Xiaomi lançar uma ferramenta similar à Galaxy AI?

Em breve vai chegar ao Brasil o HyperOS, que é o nosso novo sistema operacional, e ele é totalmente desenhado para integração de smartphone, casa inteligente e automóvel (quando o automóvel chegar aqui pra gente). Tudo isso é gerenciado pela Inteligência Artificial também.

Além disso, o HyperOS vai chegar com algumas features de IA impressionantes. Uma delas é a Inteligência Artificial Generativa aplicada a fotos. Por exemplo, se você tirou foto de uma palmeira, a IA do HyperOS vai ser capaz de expandir a imagem e criar um cenário maior baseado naquela foto. São features que hoje você só vê em aplicativos poderosos de edição como Photoshop, e você vai ter no seu smartphone.

Estamos investindo muito em Inteligência Artificial, e o HyperOS vai ser totalmente desenhado para isso. Mas, para nós, uma coisa muito importante é introduzir aplicações úteis para o dia a dia do usuário, e não simplesmente criar uma "perfumaria".

Hoje em dia muitos consumidores de produtos tech têm uma “love brand”, uma marca de que eles são tão fãs que pouco importa a ficha técnica de um lançamento — eles vão comprar. A Xiaomi conquistou muitos brasileiros pelo custo-benefício dos seus celulares. Que outras estratégias ela tem adotado pra ser uma love brand?

A primeira estratégia é justamente entregar um produto honesto, porque não adianta você querer ser a marca mais legal do mundo e não entregar um produto bom. No final das contas, o consumidor quer é qualidade. Além disso, a gente adota uma postura muito informal e pessoal de comunicação com os nossos MiFãs [os fãs da Xiaomi], de forma que eles percebam que a marca se preocupa com eles. Falamos não só para eles, mas com eles.

Uma forma de a gente manter essa comunicação sempre próxima é a plataforma Xiaomi Community, que é como um fórum para nossa comunidade de fãs. Ela é baseada em threads de vários assuntos, e qualquer pessoa cadastrada pode criar novos tópicos. É um espaço para a marca se comunicar diretamente com o público e para o público gerar conteúdo. Se o usuário quer ter dicas de fotografia ou saber qual é o melhor celular na faixa de preço X, por exemplo, é só abrir um tópico na Xiaomi Community e esperar a galera começar a responder.

No Brasil, a Xiaomi Community estreou há dois anos e já soma mais de meio milhão de usuários. São dezenas de milhares de pessoas ativas por dia acessando e gerando conteúdo. Essas são algumas das ações que fazem a diferença e alimentam essa paixão pela marca. Por aqui, a gente recebe direto fotos de pessoas que fazem festinha de aniversário com o tema Xiaomi, com bolo com logo da Xiaomi, foto de smartphone… Eu já vi até gente com tatuagem da Xiaomi! A pessoa chegou ao ponto de tatuar a sua marca! Quer algo mais louco e incrível que isso?

A maioria das concorrentes da Xiaomi trabalha com um catálogo mais enxuto de modelos de smartphones. Qual a vantagem de atuar com um portfólio tão diversificado?

A gente entende que existem muitos perfis de usuário e muitos bolsos também. Então, a ideia é ter um portfólio mais diversificado para atender a essas muitas variações de perfis, de orçamentos e de necessidades. Neste evento, lançamos cinco novos smartphones da linha Redmi Note 13 — no Brasil vão chegar três, mas ao todo são cinco — justamente por isso.

Por exemplo, temos o Redmi Note 13 Pro 5G, o Note 13 Pro Plus e o Note 13 Pro 4G. Não basta ser o Pro, porque mesmo quem quer o Pro tem perfis diferentes. Tem pessoas que não querem o 5G, tem pessoas que não precisam de todas as features do Pro Plus… Existem nuances de necessidades.

Redmi Note 13 Pro 5G: análise do celular da Xiaomi e primeiras impressões

Redmi Note 13 Pro 5G: análise do celular da Xiaomi e primeiras impressões

Em 2020, o head da Xiaomi no Brasil, Luciano Barbosa, afirmou em entrevista que um dos principais desafios para a operação nacional é o chamado "custo Brasil". Os consumidores veem o preço lá fora, comparam com o daqui e acabam optando pela importação direta. Só que esse método traz alguns problemas. O celular pode vir com uma frequência de 4G diferente, por exemplo, e também não tem assistência técnica garantida. Como vocês lidam com essa prática do consumidor?

Como você falou, a importação direta acaba sendo nociva para o consumidor, para o negócio e para a própria imagem da Xiaomi. Se a pessoa comprou um produto que não é homologado no Brasil, tem um problema técnico e vai buscar assistência, ela nem consegue suporte aqui no país. Ela também pode acabar comprando um produto com uma frequência de 4G que não tem no Brasil, e aí o celular dela não vai funcionar.

Nesses cenários, o que acontece é que o consumidor procura a marca, e a gente não tem como atendê-lo. Mas a pessoa não quer saber disso. Ela pensa "Poxa, eu comprei um produto da Xiaomi e a Xiaomi não está me atendendo". Quem é do mundo da tecnologia conhece o que é mercado cinza, mas o consumidor comum, não; ele está em busca do menor preço.

Então, o que a gente faz é tentar educar cada vez mais o consumidor e mostrar a ele os benefícios de comprar nas lojas oficiais, comprar produtos homologados, para que eles tenham assistência técnica, garantia e todo o suporte possível que a Xiaomi pode entregar.

A pergunta que não quer calar: existem planos de instalar uma fábrica no Brasil?

O mercado brasileiro é realmente muito importante para a Xiaomi. Hoje o Brasil é o quarto maior mercado do mundo em smartphones, com um potencial de mais de 40 milhões de unidades/ano de vendas. A Xiaomi sabe disso, e a gente tem que conquistar esse mercado. A empresa também sabe que, para crescer no Brasil e ganhar a concorrência, é preciso ter produção local, para ter competitividade em preço.

Existe, já há muito tempo, o plano de fábrica no Brasil, só que a Xiaomi faz isso de forma bem cuidadosa, porque a gente sabe que não basta apenas abrir uma fábrica e começar a produzir. Existem todas as barreiras legais, fiscais, o grande e famoso "custo Brasil". Primeiro a gente precisa de um parceiro local, para que isso seja viável, precisa achar o local certo, fazer um estudo correto sobre logística, impostos, e aí sim começar. Nós já estamos estudando isso.

O que você quer dizer com "estudando"?

Quando eu digo estudando, não é só fazendo conta. Estamos fazendo pesquisa de campo e visitando as indústrias das diferentes regiões do Brasil para entender quais são os melhores lugares. Vai chegar o momento em que teremos a certeza de que estamos prontos e temos o conhecimento necessário.

Existe um prazo para isso?

Não temos um prazo pra isso, nem uma meta do tipo "daqui a um ano, dois anos, três anos". O que a gente sabe: é vamos. A Xiaomi vai ter uma fábrica no Brasil.

Qual a maior diferença entre o consumidor brasileiro e o de outros países da América Latina?

Tanto o brasileiro quanto o sul-americano são muitos sensíveis ao preço e estão buscando o menor valor. Mas, para mim, uma grande diferença do consumidor brasileiro é que ele é muito atento às especificações técnicas. Ele conhece bem a diferença de uma linha para a outra, então você não consegue fazer uma campanha "enganando" o consumidor. Ele sabe desde a quantidade de megapixels da câmera a quantos Hertz (Hz) tem uma tela, e dá até até palpite no processador que vamos pôr no celular.

Quais são as expectativas e os planos da Xiaomi para 2024?

A gente vai investir muito forte na comunicação e na performance da série Redmi Note 13. Este é o nosso produto mais importante do ano, então grande parte dos esforços da Xiaomi ao longo de 2024 vão ser focados nesta série. A linha Redmi Note é nossa campeã de vendas, e é por meio dela que a empresa cresce.

Outro plano é manter uma comunicação voltada a públicos com os quais a Xiaomi ainda não tem tanta entrada, principalmente o consumidor high-end, que está disposto a investir em smartphones premium mais caros. Embora nós tenhamos produtos para o segmento, a gente ainda não conseguiu conquistar tanto esse mercado. E, para crescer de fato no Brasil, a gente sabe que precisa ganhar essa fatia. Queremos que eles [os consumidores high-end] nos conheçam e comecem a considerar a Xiaomi como uma opção no momento de decisão de compra.

A Xiaomi está em terceiro lugar no mercado de celulares no Brasil há três anos [segundo dados do Instituto Canalys]. Mas, até 2023, a nossa diferença de market share para a segunda colocada, a Motorola, era muito grande. Agora, nós subimos 7 pontos percentuais e terminamos o último ano com 20% de participação de mercado, apenas 1% atrás da Motorola. Estamos trabalhando para fechar 2024 em segundo lugar.

*A jornalista viajou para Cartagena a convite da Xiaomi.

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