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Real ou fictício: quem era o Tio Sam?

Diogo Barreto 04 de julho

Uncle Sam, a personagem criada no século XIX, acompanhou os Estados Unidos em alguns dos momentos mais difíceis da sua história, como a guerra da independência, a guerra civil ou crises financeiras. Mas de onde surgiu?

No 4 de julho os norte-americanos celebram os seus símbolos nacionais como a bandeira, a águia, o hino e um velhote alto, de barbas brancas e cartola colorida. O "Uncle Sam" é uma personagem com mais de 200 anos de história e que é uma personificação do espírito norte-americano, muitas vezes associado com o exército dos Estados Unidos. 

D.R.

Segundo a lenda, a personificação dos Estados Unidos conhecida como "Uncle Sam" foi baseada na figura de Samuel Wilson, um mercador que durante a Guerra da Independência de 1812 providenciou barris repletos de carne às tropas americanas. Os barris tinham, alegadamente, um carimbo onde se lia "U.S." e quando um soldado lhe perguntou o que queria dizer aquela sigla, ter-lhe-ão respondido "Uncle Sam Wilson [o tio Sam Wilson], é ele quem alimenta as tropas". A verdade é que a sigla significava United States (Estados Unidos), razão pela qual o nome do "Uncle Sam" ter ficado para sempre ligado ao do país. Esta história foi contada pelo historiador e publicitário Alton Ketchum, autor da obra Uncle Sam: The Man and the Legend.

No entanto, há referências escritas à figura do "tio Sam" ainda antes da guerra, o que coloca em causa a origem definida por Alton Ketchum. A descoberta do diário de um marinheiro chamado Isaac Mayo aponta que a relação entre o tio Sam e os Estados Unidos (principalmente o exército norte-americano) já existia antes da guerra de 1812. Nesse diário de um jovem que embarcou no USS Wasp em 1810 pode ler-se: "Primeiro e segundo dia, a morrer de enjoos, pudesse eu ter ido a terra durante os dias mais duros e juro que o tio Sam, como lhe chamam, teria certamente perdido os serviços de pelo menos um marujo".

Já a primeira representação gráfica do tio Sam que se conhece é de 1832 e não se assemelha minimamente à imagem que se viria a tornar icónica quase cinquenta anos depois. Numa litografia intitulada "O Tio Sam em Perigo" (ver abaixo) vê-se uma personagem diametralmente oposta àquela que existe hoje em dia. Nesta litografia de um autor desconhecido, o tio Sam aparece sem barba, com uma cara redonda e vestido numa camisa de dormir com o padrão da bandeira norte-americana. Em vez da cartola usa um barrete frígio, indumentária comum para dormir naquela era. O tio Sam era então representante de uma América fragilizada, pronta para dormir, numa alusão ao debate sobre a ingerência do presidente Andrew Jackson e o banco nacional norte-americano que agitava os jornais à época. 

Autor Desconhecido/Indiana University Bloomington


Trinta anos depois, já durante a Guerra Civil norte-americana, a imagem do tio Sam mudou consideravelmente. Além de estar unicamente associado à União, o robe foi substituído por calças amarelas, camisa branca, colete vermelho e um fraque azul. No topo da cabeça o barrete havia sido substituído por um chapéu de cartola e o aspeto frágil tinha sido deixado para trás, sendo substituído por uma barba rala e pontiaguda e feições mais vívidas. Alguns artistas faziam representações do tio Sam em que a personagem se assemelhava ao presidente da União, Abraham Lincoln. Daí a cartola alta e a barba, bem como a aparente magreza da personagem. 

A ligação entre presidente e o tio Sam tornou-se de tal forma intensa que um jornalista descreveu que em Charleston, na Carolina do Sul, quando se soube do assassinato de Lincoln, em 1865, uma mulher elevou as mãos ao céu e berrou que o tio Sam tinha morrido, cita o The Wall Street Journal

Mas a verdade é que a imagem do tio Sam se manteve ligada à de Lincoln. A imagem da personagem tornou-se ainda mais popular quando, em 1916, a personificação da América foi usada num anúncio para a recruta de soldados para a I Guerra Mundial. "What are YOU doing for Preparedness?" ("O que estás a fazer para te preparar"), questionava um tio Sam carrancudo, de dedo indicador estendido. Um ano depois, o texto foi substituído para o icónico "I want YOU for the U.S. Army" ("Eu quero-te a ti para o exército norte-americano"), mimicando um slogan usado pelo exército britânico para recrutar tropas para a I Guerra Mundial em 1914. Nesse poster podia ler-se: "Bretões, o Lord Kitchener quer-vos. Juntem-se ao exército do país! Deus salve o rei". Kitchener foi um militar responsável por assegurar o controlo do Sudão para o império britânico.


O tio Sam continuou a ser uma figura recorrente no recrutamento de tropas na II Guerra Mundial e para a guerra do Vietname. Mas começou também a ser usado para outros propósitos. Há inúmeros cartazes em que o "tio Sam" pede aos agricultores que produzam mais para alimentar o país, ou que os funcionários da indústria façam "um esforço extra pelo tio Sam".

E a sua influência passou para o século XXI sendo ainda hoje um símbolo de patriotismo para milhões de norte-americanos - o companheiro de aventuras do Capitão América chama-se Sam Wilson, em homenagem ao homem que terá estado na origem da figura, por exemplo -, enquanto outros veem nele uma expressão dos males da sociedade norte-americana - o rapper Kendrick Lamar usa a personagem como um manipulador das classes mais desprotegidas nos EUA. Mas uma coisa é certa: no dia 4 de julho, centenas de americanos vão-se mascarar de Uncle Sam e professar o seu amor pela América nas cores da bandeira dos EUA.

No 4 de julho os norte-americanos celebram os seus símbolos nacionais como a bandeira, a águia, o hino e um velhote alto, de barbas brancas e cartola colorida. O "Uncle Sam" é uma personagem com mais de 200 anos de história e que é uma personificação do espírito norte-americano, muitas vezes associado com o exército dos Estados Unidos. 

Segundo a lenda, a personificação dos Estados Unidos conhecida como "Uncle Sam" foi baseada na figura de Samuel Wilson, um mercador que durante a Guerra da Independência de 1812 providenciou barris repletos de carne às tropas americanas. Os barris tinham, alegadamente, um carimbo onde se lia "U.S." e quando um soldado lhe perguntou o que queria dizer aquela sigla, ter-lhe-ão respondido "Uncle Sam Wilson [o tio Sam Wilson], é ele quem alimenta as tropas". A verdade é que a sigla significava United States (Estados Unidos), razão pela qual o nome do "Uncle Sam" ter ficado para sempre ligado ao do país. Esta história foi contada pelo historiador e publicitário Alton Ketchum, autor da obra Uncle Sam: The Man and the Legend.

No entanto, há referências escritas à figura do "tio Sam" ainda antes da guerra, o que coloca em causa a origem definida por Alton Ketchum. A descoberta do diário de um marinheiro chamado Isaac Mayo aponta que a relação entre o tio Sam e os Estados Unidos (principalmente o exército norte-americano) já existia antes da guerra de 1812. Nesse diário de um jovem que embarcou no USS Wasp em 1810 pode ler-se: "Primeiro e segundo dia, a morrer de enjoos, pudesse eu ter ido a terra durante os dias mais duros e juro que o tio Sam, como lhe chamam, teria certamente perdido os serviços de pelo menos um marujo".

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