Aposta na economia do conhecimento
Ana Gabriela Cabilhas Nutricionista
07 de julho

Aposta na economia do conhecimento

Precisamos de responder aos avisos deixados num novo estudo do ISCTE, que alerta que o aumento das qualificações não está a ter o efeito de elevador social esperado. Ou seja, o maior acesso ao canudo não quebrou a reprodução do contexto social de origem. E se assim o é, não há outra forma de dizer: falhámos enquanto País.  

As últimas décadas têm servido para recuperar o atraso nas qualificações da população portuguesa. Se as anteriores gerações de diplomados constituíam uma minoria, à medida que o ensino superior se generaliza, as novas gerações vão experienciando novos desafios.  
 
Enquanto em 2011 um jovem com um curso superior ganhava, em média, mais 50% que um com o ensino secundário, em 2022 essa diferença caiu para 27%. Também nesse ano, quase 1 em cada 4 jovens portugueses com ensino superior trabalhavam em profissões que não exigem esse nível de formação. Além da perda económica para o País, que não aproveita o retorno feito na educação, a sobrequalificação e a subutilização de competências pode traduzir-se em frustração como resultado da menor satisfação com a ocupação, e em pior qualidade do emprego, quer em termos salariais, quer em perspetivas de evolução da carreira profissional.  
 
É, ainda, paradoxal o divórcio entre o tecido empresarial e doutorados, esbanjando as oportunidades de incorporação do conhecimento e de transformá-lo em produtos e serviços diferenciados, inovadores e de valor acrescentado. A qualidade do ensino superior português ficou circunscrita aos anos do curso e não foi transferida para a nossa economia, como provam os dados do European Innovation Scoreboard. A tão desejada economia do conhecimento não se tem afirmado. 
 
O que exponho não corrobora discursos céticos em relação à massificação do ensino superior. A população com ensino superior consegue, à partida, uma situação laboral mais favorável. Contudo, pretende a mobilização de várias "task-force" que contrariem as debilidades que o mercado de trabalho em Portugal evidencia. Conjuntamente, precisamos de responder aos avisos deixados num novo estudo do ISCTE, que alerta que o aumento das qualificações não está a ter o efeito de elevador social esperado. Ou seja, o maior acesso ao canudo não quebrou a reprodução do contexto social de origem. E se assim o é, não há outra forma de dizer: falhámos enquanto País.  
 
Para começar a responder a estes desafios, podem contribuir os estímulos à atração de talento qualificado para a economia nacional, a qualificação das pequenas e médias empresas e a capacitação das lideranças, o reforço da presença de doutorados em contexto empresarial, os estímulos para empresas inovadoras, o apoio a startups, à introdução de novas tecnologias e a ideias criativas (sem medo do conceito de risco), assim como a aposta em áreas de especialização nas quais somos mais competitivos e temos mais potencial de crescimento.  
 
Em boa hora o Governo aprovou um conjunto de medidas robustas para acelerar o crescimento económico. Este é?o pressuposto para termos um País com recursos para melhorar as condições de vida dos jovens que estão a entrar no mercado de trabalho. Esta geração precisa de sentir que o esforço associado à frequência do curso superior é retribuído e que pode subir os andares que ambicionar no elevador social, por força do seu trabalho, esforço e empenho. Estou certa que hoje mais jovens olham para o futuro com mais confiança. 

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