Notícia
O inferno da mulher de Ricardo Salgado, a quem a memória não perdoa. Das viagens com Marcelo ao Brasil à casa de todas as festas que passou a ser "grande demais"
Com o antigo dono do BES a viver num mundo embaciado pela doença de Alzheimer, é a mulher, Maria João, quem assiste ao desmoronar de tudo. Sem os filhos, cada um no seu país, longe dos netos, tornou-se enfermeira numa casa silenciosa e viu todos os ilustres que se diziam amigos virarem-lhe costas. Da vida entre Nova Iorque, Brasil e Comporta restam apenas as memórias, mas quem a conhece diz que Maria João é resiliente, um rochedo, que não quebra. "Ele é um homem com muita capacidade, muito inteligente, mas não resistia se não fosse a mulher", fez saber um padre, amigo da família há mais de 20 anos.Para Ricardo Salgado e a mulher, Maria João, não havia espaços em branco na agenda social e a vida, em que acontecia sempre qualquer coisa de empolgante, como aquelas que vemos nas redes sociais, onde as pessoas estão sempre a viajar, em festas ou a jantar nos melhores restaurantes, contrasta com os silêncios de agora, que marcam a toada na vida de uma mansão que antes estava sempre "à pinha" e que parece, de repente, monstruosamente grande para o solitário casal.
Nos tempos áureos, o número 141 da Rua da Pedra da Nau, onde se pode sentir o cheiro a maresia de quem está mesmo de frente para o mar de Cascais, havia, volta e meia, uma correria de empregados fardados, de bandeja na mao, a perguntar aos ilustres convidados se queriam tomar mais alguma coisa, e quando os Espírito Santo davam uma folga a Cascais, lá ia o staff para a Comporta, que aí é que aconteciam as festas que realmente importam, as conversas longe do burburinho de Lisboa.
Maria João Salgado, distinta e elegante num conjunto escolhido para a ocasião, era a grande anfitriã na sombra do marido, o rosto simpático, doce e discreto que recebia os convidados, mal se ouviam as hélices a bater - sim, Ricardo Salgado chegou a mandar helicópteros, que aterravam num terreno junto à praia do Pêgo, ir buscar os amigos mais ilustres, para que não passassem pela maçada de andar com um Bentley aos solavancos na estrada nacional.
A própria Maria João Salgado o admitiu recentemente em tribunal: a vida está longe de ser a mesma, muitos amigos (e outros tantos familiares como foi o caso dos Ricciardi) tinham desaparecido de cena e não deixa de ser irónico que a doença de Alzheimer faça com que, de repente, a casa com 45 assoalhadas pareça gigante para um confuso Ricardo Salgado, que chega a perder-se lá dentro quando, não há muito tempo, o antigo dono do BES pensaria provavelmente se não estaria na altura de ter algo maior.
Porque na vida daquele que ficou conhecido como o 'dono disto tudo' não havia lugar para outra coisa senão a grandeza. O mundo era um palco que ele e a mulher pisavam com naturalidade. Se a Suíça onde vive a filha mais velha, Catarina, com o marido milionário, era uma segunda casa, Nova Iorque era a cidade para onde fugiam quando queriam ir, por exemplo, a uma galeria de arte moderna e o Brasil o retiro de luxo onde recebiam os amigos mais exclusivos, os confidentes, no Txai, um complexo turístico de luxo, no Nordeste, onde tinham a casa maior do resort: ao todo, eram oito suites de sonho, onde as janelas de cima a baixo permitiam a quem lá pernoitava contemplar os exóticos coqueiros.
O Réveillon em Salvador da Bahia era a grande tradição, o ponto alto da agenda dos Espírito Santo. Todos os anos, e depois de um Natal com os três filhos, os muitos netos e o melhor perú de Cascais, lá faziam as malas para serem apanhados no paparazzi da praxe no aeroporto, invariavelmente ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa, então comentador da TVI, e da namorada, Rita Amaral Cabral. Eram inseparaveis, unha e carne, numa amizade que também o vento levou, ainda que o atual presidente da República garanta que não houve corte de relações.
"Agora, também não sou daqueles que quando veem um amigo em desgraça e, quando antes o bajulavam, passam a ignorá-lo. Aí é que se vê a categoria moral das pessoas. Agora não tenho tido muito tempo, mas continuei a privar com ele, naturalmente", disse ao 'Expresso'.
"Eu já tinha pernoitado cinco vezes na casa de Salgado quando caí em cima dele na televisão por causa do escândalo da PT. As pernoitas não serviram para nada porque bati com toda a força e na altura nenhum dos primos me apoiou", disse, deixando ainda um recado a Ricciardi.
"Se acontecesse à minha família o que aconteceu à família Espírito Santo, não só estaria cheio de mágoa, mas de vergonha. Salgado acabou e o resto da família também", disse, numa declaração que não deixa de ser irónica, pelo reverso da medalha que assume, dez anos depois.
A VIDA QUE JÁ NÃO É O QUE ERA
Os tempos felizes no Brasil e em viagens pelo mundo deixam saudades a Maria João, a quem a memória não perdoa e a belisca constantemente com recordações de como a vida que era já não o é. Se Ricardo Salgado viverá num mundo próprio, embaciado pela doença de Alzheimer, a companheira tem visto tudo desmoronar. Da mulher sempre irrepreensível em vestidos de alta-costura, tornou-se na enfermeira de todas as horas de Salgado, que já não tem onde usar os Chanel que se acumulam no quarto de vestir.
Muitas das amigas com quem partilhava o convite que tinha recebido pata o casamento de Felipe e Letizia de Espanha - porque Juan Carlos ficou amigo dos Espírito Santo desde o seu exílio em Portugal - ou de como tinha sido magnífico o casamento da filha mais velha no Palácio de Seteais, já não se aproximam dos Salgado e até os eventos de solidariedade de que Maria João tanto gostava já não lhe dão prazer: são agora uma tortura de quem sente todos os olhares a convergirem para si.
E, verdade seja dita, a mulher de Salgado nunca gostou de ser o centro das atenções, sempre foi discreta, avessa ao mediatismo. Há quem diga, por issso, que este é um castigo duro demais para a mulher que, nos últimos anos, tem dado um novo sentido aos votos matrimoniais que falam de como devemos estar lá "na saúde e na doença", nas luzes do luxo ou no inferno.
Ainda assim, é descrita como um rochedo, que não verga perante os problemas. De acordo com o padre Avelino Alves, amigo do ex-banqueiro há mais de 20 anos, Maria João nunca vacilou nem virou a cara à luta. "Ele diz-me que tem sido a mulher, e Deus, o seu pilar", disse, nos primeiros anos após o escândalo do BES. "É uma mulher que não aparenta, mas é batalhadora. Ele é um homem com muita capacidade, muito inteligente, mas não resistia se não fosse a mulher."
Quando o BES caiu e tudo começou a ir por aí abaixo, Salgado escreveu na sua agenda pessoal uma frase que se tornou célebre do Papa Francisco.
Ainda estava, porém, tudo fresco e Ricardo Salgado ignoraria na altura o quão penosa se pode tornar a vida quando já se teve tudo e tudo o que resta desses dias felizes são apenas imagens, cada vez mais desvanecidas. Nos últimos anos, agarram-se à família e ao amor dos filhos que é, no fundo, o que os salva.
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