Guerra na Ucrânia: como terminaram outras ações militares ordenadas por Putin

  • José Carlos Cueto
  • BBC News Mundo
Vladimir Putin, fotografado na Praça Vermelha em Moscou.

Crédito, Getty Images

A invasão russa da Ucrânia não é a primeira vez que o presidente Vladimir Putin tenta impor seus interesses nas ex-repúblicas soviéticas usando força militar.

Primeiro foi a Chechênia, em 1999; depois a Geórgia, em 2008; em 2014, a própria Ucrânia, com a anexação da Crimeia.

Mas como essas guerras terminaram e como elas se comparam com a atual?

A guerra brutal — Chechênia, 1999

Como a guerra começou?

Era setembro de 1999 e Vladimir Putin, então com 47 anos, acabava de ser nomeado primeiro-ministro. Em poucos meses, Putin assumiu a presidência do país após a renúncia de Boris Yeltsin no final daquele ano.

Sua ascensão coincide com o início da segunda guerra na Chechênia, lembrada por sua brutalidade e pela consolidação de Putin como o "homem forte" capaz de controlar as ameaças internas da Rússia.

Putin em 2000 durante conflito da Chechênia

Crédito, Wojtek Laski / Getty

Legenda da foto, A segunda guerra na Chechênia foi orquestrada por Putin, que havia recém virado presidente

A Chechênia, uma república que já fez parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), havia conquistado sua independência em 1991 contra a vontade do governo russo.

Em 1994, tropas russas ocuparam o território para esmagar o movimento de independência. Três anos depois, diante da feroz resistência dos rebeldes chechenos, as tropas russas finalmente se retiraram.

No entanto, em 1999, houve novos confrontos entre chechenos e tropas russas. A segunda invasão de tropas russas aconteceu depois de uma série de explosões em apartamentos residenciais em Moscou, que o Kremlin atribuiu aos rebeldes islâmicos chechenos.

Civil ferido em bombardeio russo na guerra da Chechênia

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, As guerras da Chechênia são lembradas por sua brutalidade. Várias estimativas colocam o número total de mortes na casa das centenas de milhares entre militares e civis.
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Como a guerra acabou?

Em fevereiro de 2000, com Putin como presidente, suas tropas reconquistaram e arrasaram a capital chechena, Grozny. Em maio, Moscou declarou que controlava a cidade. A Chechênia foi integrada à Federação Russa em 2003 e o fim da guerra foi decretado em 2009, embora tenham ocorrido combates esporádicos de guerrilha depois disso.

O custo e a brutalidade da guerra chamaram a atenção do mundo e várias estimativas colocam o total de mortos na casa das centenas de milhares. Mas a conquista rendeu a Putin um notável aumento em sua popularidade entre os russos, depois de garantir o controle dessa república estratégica no norte do Cáucaso.

Hoje a Chechênia, que usufrui de maior estabilidade, está sob o firme controle do líder Ramzan Kadyrov, a quem os críticos acusam de ser autoritário.

"No caso da guerra na Chechênia, o que prevaleceu na intervenção russa foi a preocupação com sua segurança e desintegração alguns anos após o colapso socialista", explica à BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC) a professora Domitilla Sagramoso, da King's College University, em Londres.

Mulher na Chechênia durante a guerra civil

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Em 2003, Grozny, capital da Chechênia, foi declarada pela ONU como a cidade mais destruída do mundo após o cerco sofrido entre 1999 e 2000

A guerra curta — Geórgia, 2008

Como a guerra começou?

Situada em um ponto geográfico importante, onde a Europa e a Ásia se encontram, a Geórgia emergiu como um Estado independente após o colapso da URSS em 1991.

Mas a crescente influência econômica e política dos EUA no país gerou preocupações em sua vizinha Rússia. A Geórgia manifestou interesse em ingressar na União Europeia e na aliança militar Otan.

Vladimir Putin, que a esta altura já estava no poder há quase uma década, também impôs sua mão de ferro.

As tensas relações da Geórgia com a Federação Russa aumentaram com o apoio total de Moscou às regiões separatistas da Abcásia e da Ossétia do Sul, levando a uma guerra breve, mas mortal, em agosto de 2008.

Tropas rusas partiendo hacia Georgia en agosto de 2008.

Crédito, AFP

Como o conflito acabou?

Após a tentativa da Geórgia de retomar a Ossétia do Sul por meio de força, em confronto com rebeldes apoiados pela Rússia, Putin lançou uma ofensiva que expulsou as tropas georgianas da Ossétia do Sul e da Abcásia.

Após cinco dias de conflito, em que centenas de pessoas morreram, ambos os lados assinaram um acordo de paz mediado pela França.

A Rússia reconheceu as duas regiões separatistas como Estados independentes, provocando protestos na Geórgia e em outros países ocidentais.

"A Geórgia foi dividida entre Geórgia e as regiões da Abcásia e da Ossétia do Sul, que até hoje continuam ocupadas pela Rússia e seguem se integrando cada vez mais ao Kremlin", diz Sagramoso.

Mathieu Boulegue, pesquisador de Rússia e Eurásia do Instituto Chatham House, de Londres, acredita que "a Geórgia sinalizou o que viria a ser o futuro da política externa da Rússia, e que estamos vendo essas intenções [russas] se materializarem hoje", diz ele à BBC News Mundo.

Protesto em Tbilisi contra Putin e a Rússia em junho de 2008

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, As tensões entre a Geórgia e a Rússia se intensificaram em 2008

A invasão "mais calma" — ​​Crimeia, 2014

Como o conflito começou?

No início de 2014, a Crimeia se tornou o foco de uma das piores crises entre a Rússia e países como EUA e Reino Unido desde a Guerra Fria, depois que o presidente pró-Rússia da Ucrânia, Viktor Yanukovych, foi deposto após uma onda de protestos pró-Europa.

O povo ucraniano estava dividido entre aqueles que queriam uma maior integração com a Rússia e aqueles que apoiavam uma maior aliança com a União Europeia (UE), e Moscou decidiu intervir.

Durante grande parte de fevereiro de 2014, Putin enviou milhares de tropas para as bases russas na Crimeia. Muitos "voluntários" civis também se mudaram para a península dentro de um plano que foi realizado secretamente e com sucesso.

Praça da Independência em Kiev em 2014

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Os protestos pró-Europa de 2014 evidenciaram a divisão entre apoiadores da Rússia e aqueles em favor da União Europeia

Na sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014, a Rússia estabeleceu postos de controle em Armyansk e Chongar, os dois principais cruzamentos rodoviários entre a Ucrânia continental e a península da Crimeia. Líderes pró-Rússia alegavam que precisavam proteger a Crimeia dos "extremistas" que tomaram o poder em Kiev e ameaçavam seus direitos.

Em 16 de março, os líderes locais organizaram um referendo no qual a população foi questionada se queria que a república autônoma se juntasse à Rússia.

A Ucrânia e países como EUA e Reino Unido consideraram o referendo ilegal, mas o pleito recebeu apoio total da Rússia. De acordo com autoridades locais, 95,5% dos eleitores apoiaram a anexação da Crimeia pela Rússia.

Como acabou o conflito?

Em 18 de março, dois dias após a publicação dos resultados, Putin assinou um projeto de lei incorporando a Crimeia à Federação Russa.

O jornalista da BBC John Simpson, que estava na Crimeia na época, escreveu que essa foi a invasão "mais calma" dos tempos modernos.

"A operação foi tão rápida que pegou muitos de surpresa", diz Sagramoso. "Mais uma vez, a popularidade de Putin aumentou muito entre os russos porque não houve derramamento de sangue. Tudo foi visto como um golpe de mestre."

Pró-russos comemoram a anexação da Crimeia em Haia, na Holanda

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A popularidade de Putin aumentou após a anexação da Crimeia em 2014

A crise na Crimeia foi resolvida, mas o conflito entre os separatistas pró-Rússia na região de Donbas e no resto da Ucrânia se acentuou, preparando o terreno para Putin invadir a Ucrânia oito anos depois.

Essas invasões podem ser comparadas ao que está acontecendo na Ucrânia?

Cada uma dessas guerras foi única, mas os especialistas traçam algumas linhas comuns, incluindo a visão imperialista do Kremlin, sua percepção de segurança e sua intenção de permanecer influente nas antigas repúblicas soviéticas.

Mas eles alertam que as motivações para a atual invasão da Ucrânia são "completamente" diferentes das de outros conflitos, e que é difícil de prever como tudo vai terminar.

Putin insiste que não se trata de uma guerra nem uma invasão, mas sim de uma "operação militar especial" para defender a população que fala russo na região de Donbas.

Mas hoje as principais cidades ucranianas estão sitiadas por forças russas, incluindo a capital.

"A Rússia busca a rendição política e militar incondicional de toda a Ucrânia. A Rússia quer sua capitulação e desmilitarização total", analisa Boulegue.

Uma rua em Kiev após um ataque

Crédito, GENYA SAVILOV / GETTY

Legenda da foto, Para especialistas, é difícil de prever como o conflito na Ucrânia vai acabar

Sagramoso acredita que uma das principais diferenças entre agora e os episódios da Chechênia e da Geórgia é "a forte idealização emocional de uma nação maior".

"Putin se referiu muitas vezes ao fato de que ucranianos e russos são o mesmo povo. Para ele, [a Ucrânia] é um Estado artificial que não deveria adotar uma política pró-Europa."

Buscar sinais de como a invasão da Ucrânia terminará baseado no que aconteceu na Chechênia e na Geórgia parece complicado, entre outros fatores, por causa da resistência do povo ucraniano.

"Não parece que a Ucrânia vai capitular e não sabemos exatamente o que o Kremlin vai considerar um sucesso, até onde ele vai e qual é a estratégia para acabar com a guerra", argumenta Boulegue.

Nesse sentido, ele destaca, o mais preocupante é que "isso parece ser apenas o começo, a primeira fase do que podem ser décadas que terão consequências para todo o mundo".

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