Como obesidade poderá custar quase US$ 220 bilhões ao Brasil em 2060

  • Alessandra Corrêa
  • De Washington (EUA) para a BBC News Brasil
Homem com obesidade medindo cintura com a fita métrica

Crédito, Getty Images

Uma análise do impacto econômico da obesidade em 161 países projeta que, mantidas as tendências atuais, em 2060 o Brasil será a sétima economia do mundo com maiores gastos relacionados à condição.

Segundo as projeções, divulgadas em um estudo publicado nesta semana na revista científica BMJ Global Health, o percentual de pessoas obesas ou com sobrepeso no Brasil deverá chegar a 88,1% em 2060, resultando em um impacto econômico de US$ 218,2 bilhões (cerca de R$ 1,3 trilhão).

A estimativa dos pesquisadores é de que esse montante representará 4,66% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2060, o 48º maior percentual entre os países analisados.

O cálculo leva em conta tanto gastos médicos diretos quanto os resultantes do processo de buscar cuidados de saúde, como o custo de viagens para pacientes e acompanhantes. Também inclui perdas econômicas resultantes de mortes prematuras, dias de trabalho perdidos e queda de produtividade devido a problemas de saúde relacionados ao excesso de peso.

De acordo com o estudo, em 2019 a prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil era de 53,8% da população e gerava impacto econômico de US$ 37,1 bilhões (cerca de R$ 190,5 bilhões), o décimo maior entre os 161 países. Em termos de percentual do PIB, o Brasil ficava em 63º lugar, com 1,98%.

Médica medindo a pressão arterial de mulher com obesidade

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Excesso de peso está ligado a maior risco de doenças como câncer, problemas cardiovasculares e diabetes

Considerando todos os países analisados, o impacto econômico em 2019 era estimado em 2,19% do PIB global. Caso a tendência atual se mantenha, em 2060 deverá saltar para 3,29%.

A projeção é de que, em 2060, o maior impacto econômico seja sentido pela China, totalizando US$ 10,1 trilhões (cerca de R$ 51,6 trilhões). O montante é quatro vezes maior do que os US$ 2,6 trilhões (cerca de R$ 13,3 trilhões) projetados para os Estados Unidos, que aparecem em segundo lugar.

Índia, Coreia do Sul, Indonésia e Alemanha também terão gastos totais maiores do que os projetados para o Brasil.

Impacto nos pobres

Os pesquisadores lembram que o excesso de peso está ligado a maior risco de doenças como câncer, problemas cardiovasculares e diabetes. Afirmam ainda que a pandemia de covid-19 demonstrou que pessoas com sobrepeso ou obesidade também correm o risco de desenvolver formas mais graves de doenças infecciosas.

Segundo Adeyemi Okunogbe, especialista em sistemas de saúde da organização sem fins lucrativos RTI International e um dos autores do estudo, muitas vezes existe uma ideia equivocada de que a obesidade é um desafio de saúde pública exclusivo de países de alta renda.

"Esse não é um problema só dos países ricos, é um problema global", diz Okunogbe à BBC News Brasil.

Okunogbe salienta que, entre 2019 e 2060, o impacto econômico da obesidade e sobrepeso deverá aumentar mais nos países de média e baixa renda do que nas economias avançadas.

Blocos de madeira em que se lê PIB na frente de um cofre de porquinho rosa

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Pesquisadores estimam que o impacto econômico da obesidade representará 4,66% do PIB brasileiro em 2060

"Mesmo em países de alta renda, vemos o impacto concentrado em lares mais pobres e comunidades vulneráveis", ressalta. "Dietas saudáveis são caras. Opções que não são saudáveis (como alimentos ultraprocessados) são (muitas vezes) mais acessíveis aos pobres."

Estudos anteriores indicam que muitos países de média e baixa renda enfrentam altos níveis de obesidade e de subnutri��ão ao mesmo tempo.

No Brasil, o crescimento nos índices de obesidade é registrado ao mesmo tempo em que há um aumento da fome.

Segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), o número de brasileiros que passam fome saltou de 19,1 milhões em 2020 para 33,1 milhões neste ano.

Ação conjunta

Okunogbe e os outros autores do estudo estimam que, ao redor do mundo, cerca de dois em cada cinco adultos sejam obesos ou tenham sobrepeso.

O cálculo para definir se uma pessoa tem sobrepeso ou obesidade leva em conta a relação entre peso e altura e é chamado de Índice de Massa Corporal (IMC). Um IMC entre 25 e 29,9 é classificado como sobrepeso. Obesidade é definida como IMC a partir de 30.

Mas os pesquisadores destacam que sobrepeso e obesidade são mais complexos do que simplesmente o IMC e têm causas ligadas a diversos fatores, desde riscos genéticos e falta de acesso a serviços de saúde até estratégias de marketing de alimentos e bebidas.

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O estudo foi realizado com o apoio da Federação Mundial de Obesidade e incluiu uma bolsa de financiamento da empresa farmacêutica Novo Nordisk, que não participou da concepção do projeto nem da análise e interpretação dos resultados.

Os autores observam que muito do que se sabia sobre os impactos econômicos da obesidade e do sobrepeso estava concentrado em países ricos e que diferenças metodológicas em estudos nacionais anteriores dificultavam comparações entre os países.

Okunogbe diz que as novas projeções globais reforçam a necessidade de ação conjunta para responder ao aumento mundial na prevalência de obesidade e sobrepeso.

Os autores não oferecem sugestões específicas, mas afirmam que, em vez de focar em responsabilidades individuais, é necessário buscar soluções integradas e comprometimento político e social para combater o problema.

"As respostas não podem ser apenas individuais", ressalta Okunogbe.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63005525

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