• Rosalind Jana
  • Vogue Internacional
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Criação de vison e Covid-19: será o fim das peles de animais na moda? (Foto: Getty Images)

Criação de vison e Covid-19: será o fim das peles de animais na moda? (Foto: Getty Images)

De desfiles cancelados a fechamentos de lojas e estoque desperdiçado, o coronavírus teve um impacto inegável na indústria da moda nos últimos nove meses. Agora, no entanto, é o papel da moda no desencadeamento de surtos de coronavírus que está sob um exame mais minucioso.

Recentemente, a Dinamarca anunciou que faria um abate em massa da população de visons criados no país depois que variações mutantes de Covid-19 foram transferidas para humanos, infectando pelo menos 12 pessoas. A preocupação internacional é que a mutação possa comprometer a eficácia de quaisquer potenciais vacinas, incluindo a formulação anunciada pela Pfizer.

A Dinamarca é o produtor mais prolífico de peles de vison do mundo: tendo entre 15 e 17 milhões dos animais alojados em mais de mil fazendas de vison quando o abate foi anunciado (o que significa que a população de vison é pelo menos três vezes superior à de humanos da Dinamarca). Os visons são criados exclusivamente por sua pele, cuja grande parte acaba sendo transformada em roupas, bem como em móveis e estofados. Embora os relatórios mais recentes indiquem que o abate foi reduzido para áreas infectadas em face da crescente oposição e das questões sobre a assessoria jurídica do governo, isso pode ser um divisor de águas crucial para o comércio global de peles de animais.

A escala do abate - indicativo do desejo entre marcas e consumidores por peles - é talvez surpreendente, dado que o gosto da indústria da moda por peles animais está aparentemente em declínio. Nos últimos anos, uma lista de marcas de alto nível, incluindo a Prada, Burberry, Gucci, Chanel, Versace, Armani e DKNY, se comprometeram a parar de usar peles de animais: algumas cessando o uso de todas, incluindo vison, chinchila e coelho, e outras indo ainda mais longe e interrompendo a produção de qualquer coisa feita de peles de animais exóticos e angorá também.

Essa postura contra a pele animal também vem ganhando força entre os varejistas. O grupo Yoox Net-a-Porter parou de vender em 2017, enquanto no ano passado a Farfetch e a Macy's declararam suas intenções de fazer o mesmo. Quanto à passarela, em 2018 o British Fashion Council prometeu que a Semana de Moda de Londres seria fur free, e o governo britânico está considerando proibir todas as vendas de peles depois do Brexit (o cultivo de peles de animais tornou-se ilegal no Reino Unido em 2000). A fabricação e venda de novos produtos com pele também foi proibida na Califórnia e até mesmo a Rainha entrou em ação, passando a usar versões artificiais no ano passado (de acordo com Lyst, o anúncio do Palácio de Buckingham sobre o assunto em novembro de 2019 levou a um aumento de 52% em visualização de produtos de pele fake). 

Esses tipos de promessas da indústria são cada vez mais bem-vindas, à medida que a percepção pública em relação às peles continua a azedar. Não sendo mais um marcador de luxo, como já foi, a pele é agora frequentemente vista como um produto retrógrado. O surgimento de alternativas inovadoras também ajudou. Enquanto a Shrimps, a Maison Atia e a Stand Studio renovam o status desejável de peles artificiais estação a estação, a Stella McCartney continua a ser pioneira em versões sustentáveis ​​por meio de sua linha Koba Fur Free Fur (feita de uma mistura de produtos vegetais e poliéster reciclado) que é desenvolvida para ter a aparência e a sensaçnao de uma pele animal, sem a crueldade. 

Então, esse abate de visons forçará a indústria da moda a finalmente acabar com seu comércio de peles de animais? É difícil dizer. A maior parte das peles de vison dinamarquesas é exportada para a China, onde a demanda continua forte. Mas a indústria de peles, sem dúvida, sofreu uma queda nos últimos anos. Embora a British Fur Trade Association e as casas de leilão como a Saga Furs afirmem que os consumidores mais jovens estão cada vez mais se voltando para as peles, as vendas gerais parecem estar caindo. Entre 2015 e 2018, as vendas globais de peles caíram de $ 40 bilhões para $ 33 bilhões, enquanto os preços dos visons aparentemente caíram de €59 por pele em 2013 para apenas €19 em setembro de 2020. Como consequência direta do abate de visons, a empresa dinamarquesa Kopenhagen Furs - a maior casa de leilões de peles de animais do mundo - também acaba de anunciar seus planos de encerrar lentamente as operações e fechar entre os próximos dois a três anos.

Como a pandemia continua a tensionar uma indústria já em dificuldade, talvez ela também forneça um momento útil para fazer uma pausa e mais uma vez questionar a validade da presença da pele animal na indústria da moda. Este pode ser o momento de se despedir dela - definitivamente.