• Juliana Beukers Ruiz
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Closet na nuvem (Foto: Divulgação)

Closet na nuvem (Foto: Divulgação)

Enquanto o conceito de economia compartilhada é rotineiramente aplicado em serviços como Uber e Airbnb, na moda ele ainda dava os primeiros passos. Porém, como tantas outras discussões que foram aceleradas ao longo dos últimos meses, a maneira de consumir também foi colocada em xeque – e o ato de comprar uma peça nova passa a dividir cada vez mais espaço com alternativas mais sustentáveis, como o resale e o guarda-roupa “na nuvem”. “A pandemia veio para mudar radicalmente a maneira como vivemos e nos relacionamos, tanto uns com os outros, como com a natureza. O ato de alugar roupas para o dia a dia abre inúmeras possibilidades para se ter no armário sempre algo novo e diferente, porém sem fazer parte de um consumo desenfreado”, diz Fernanda Simon, editora contribuinte de sustentabilidade da Vogue.

Enquanto lá fora o aluguel já é uma realidade mais estabelecida (lançada em 2008, a start-up pioneira Rent the Runway atingiu o status de unicórnio no ano passado; e marcas como a dinamarquesa Ganni e a americana Urban Outfitters já disponibilizam serviços próprios), as brasileiras ainda estão mais acostumadas a alugar peças apenas para festas e ocasiões especiais. Mas essa relação promete mudar com o surgimento de uma série de novas plataformas digitais nacionais que reúnem marcas autorais, coleções atuais e pacotes mensais de aluguel (que tornam a relação custo-benefício bem mais viável) – idealizadas, em sua maioria, por uma turma com menos de 30 anos, geração mais aberta a repensar velhos hábitos.

“Você não vai encontrar uma calça preta básica no Rent Style. Nós acreditamos que, nesse tipo de peça, a cliente deve investir. Nosso foco são itens mais marcantes e as tendências da vez, que não durariam para sempre no guarda-roupa”, explicam as sócias Ana Carolina Soares e Isabella Riggio, que fundaram o site em 2018 e começaram a oferecer mensalidades em maio deste ano. “Nós duas amamos moda, sentimos muito prazer em explorar novos estilos, mas estávamos desconfortáveis em comprar demasiadamente e produzir tanto lixo têxtil”, completam. No geral, as plataformas funcionam de maneira superprática: a cliente escolhe suas peças preferidas virtualmente, recebe diretamente em casa (com o frete geralmente já incluído no valor do plano) e a própria empresa cuida da lavanderia depois (nestes tempos de pandemia, seguindo rígidos protocolos de limpeza). A seguir, confira alguns dos serviços disponíveis atualmente no Brasil.

Rent Style (www.rentstyle.com.br)
O que você irá encontrar: peças elaboradas de marcas brasileiras autorais como Vanda Jacintho, Andrea Marques, Cruise, Coven, Von Trapp e Aluf.
Como funciona: além dos aluguéis avulsos, estão disponíveis dois tipos de assinaturas. Na primeira (R$ 489 mensais), a cliente tem direito a três itens da categoria Essentials (mais casuais). Na segunda (R$ 619 mensais), uma criação festiva e duas Essentials.
Quem está por trás? Ana Carolina Soares, 25 anos, e Isabella Riggio, 24, formadas, respectivamente, em publicidade e propaganda e moda. “Queremos que as mulheres se divirtam com a moda e enxerguem o guarda- -roupa de maneira mais rotativa e flexível.”

Clorent (www.clorent.com.br)
O que você irá encontrar: uma seleção mais jovem de grifes como Amaro e Iorane, e “achados” internacionais de marcas como Gucci e Versace, que o site adquire do guarda-roupa de pessoas físicas.
Como funciona: o plano Basic (R$ 160) dá direito a três peças por mês (que podem ficar com a cliente por no máximo uma semana cada); o Super (R$ 271), a seis; e o Unlimited (R$ 549), a uma quantidade ilimitada (porém no máximo três ao mesmo tempo).
Quem está por trás? Ana Teresa Saad, 23 anos, e Eduarda Ferraz, 24, ambas formadas em administração. “Sabe quando você abre seu armário e, mesmo cheio, não tem nada para vestir? E aí chega uma amiga e encontra diversas opções nele?”, questiona Ana Teresa, que desenvolveu o projeto a partir dessa observação.

Closet na nuvem (Foto: Divulgação)

Closet na nuvem (Foto: Divulgação)

Hi-lo (www.hilo.moda)
O que você irá encontrar: a partir de uma consultoria de imagem realizada por inteligência artificial, o site oferece roupas que complementem o armário de cada cliente, com opções de marcas como Amapô, NYBD, Lemon Basics, Martha Medeiros e Camila Klein.
Como funciona: São dois planos, com valores de R$ 480 e R$ 890, que dão direito, respectivamente, a dez e 30 peças mensais. A seleção é encaminhada semanalmente à casa da assinante.
Quem está por trás? A publicitária Rafaella Gimenes, 29 anos. “Tive uma ‘crise de identidade’ pós-maternidade, olhava para meu guarda-roupa, e aquelas criações não me representavam mais. Decidi procurar uma consultoria de estilo e ali tive um estalo sobre como um closet poderia ser otimizado através do compartilhamento.”

U-Style (www.ustyle.com.br)
O que você irá encontrar: criações casuais de marcas como Sissa, Wymann, Lilly Sarti, Cruise e Coven.
Como funciona: são três opções de planos (R$ 299, R$ 399 e R$ 499), cujos valores são revertidos em créditos no site. A cada mês, a cliente escolhe em quais itens gostaria de usar tais créditos (um vestido da Coven consome R$ 287, e uma regata da Sissa, R$ 87, por exemplo), recebe todos de uma vez em sua casa e os devolve depois de 20 dias corridos.
Quem está por trás? São ao todo quatro sócias: Beatriz Salles, 24 anos, Jessica Caballero, 28, Lara Araripe, 33, e Elisa Melo, 28 – foi do projeto desenvolvido pela última em um curso de pós--graduação em gestão de moda com viés em sustentabilidade que nasceu a U-Style.

Fiorella Mattheis (Foto: Divulgação)

Fiorella Mattheis (Foto: Divulgação)

FAÇA CIRCULAR
Em um estudo conduzido nos Estados Unidos pela Global Data antes da pandemia, a expectativa era de que o mercado de resale dobrasse de tamanho até 2024, atingindo US$ 51 bilhões. Sessenta e quatro porcento das mulheres americanas já compraram ou estão abertas a adquirir uma peça de segunda mão – e este número cresce 2,5 vezes mais rápido entre millennials e a Gen-Z. Entre as novidades no Brasil, vale ficar de olho na plataforma digital Circular (@ajudeacircular), projeto da Dona Santa que reúne itens de marcas como Lilly Sarti, Cris Barros e DVF, e na start-up Gringa (@shop.gringa), da atriz e empresária Fiorella Mattheis, que revende acessórios de marcas como Chanel e Stella McCartney.

Juliana Santos (à frente da Dona Santa) (Foto: Divulgação)

Juliana Santos (à frente da Dona Santa) (Foto: Divulgação)