Cultura
Publicidade

Por Jancee Dunn, Tradução: Fabiana Doná Skaf


Conheça os sintomas da ansiedade pós-parto (Ilustração: Roberta Cardoso) — Foto: Vogue

Depois que a pediatra Deena Blanchard deu à luz seu segundo filho, em 2010, ela estava ansiosa por, em suas próprias palavras, “quatro meses de uma gloriosa licença-maternidade” em Manhattan, onde vive. Planejava passar manhãs preguiçosas criando laços com seu recém-nascido no apartamento da família, no Upper West Side, se matricular em um curso de ioga pós-natal e dar caminhadas pelo Central Park. “Minha ideia era mergulhar totalmente na maternidade”, conta.

Mas Deena foi consumida por uma preocupação paralisante, alugando seu marido e colegas médicos com telefonemas intermináveis. “Acho que ele tem refluxo. Acho que ele tem alergia à proteína do leite”, dizia. Ela não conseguia mais dormir e perdeu 13 quilos em apenas seis semanas. Levou o filho a um especialista e a uma consultora de lactação, já que sua cabeça rodava com um ciclo interminável de “e se, e se, e se?”.

“É por isso que a ansiedade é tão preocupante”, diz. “Considero-me muito bem-sucedida e, na época, me sentia incapaz. Não conseguia entender o motivo. Afinal, já tinha tido um bebê antes e sou pediatra.” Quando teve ataques de pânico debilitantes, duas semanas antes de sua volta ao trabalho, ela finalmente procurou a ajuda de uma terapeuta. Descobriu que estava com ansiedade pós-parto, condição da qual nunca tinha ouvido falar antes.

Estima-se que a ansiedade pós-parto aflija 10% das mães, de acordo com a organização não governamental Postpartum Support International. Um estudo de 2016 da University of British Columbia apontou que o problema é duas vezes mais comum que a depressão pós-parto (DPP), uma condição que pode ir da sensação de tristeza a pensamentos suicidas. A DPP se tornou um fenômeno amplamente reportado e mencionado nos últimos anos. A ansiedade pós-parto é, por sua vez, ainda pouco conhecida.

Tanto que, muitas vezes, é identificada erroneamente como depressão pós-parto. “Sinto que milhões de mulheres não são compreendidas”, diz a psiquiatra Catherine Birndorf, parte do Motherhood Center, em Manhattan, especializada em distúrbios do humor no período perinatal. “Frequentemente o primeiro, o segundo e o terceiro sintomas que as mães listam em consultas são ansiedade, mas, a menos que haja um toque de depressão, eles não são identificados.” Há, inclusive, um movimento em andamento para substituir o termo depressão pós-parto por outro mais inclusivo: distúrbios perinatais de humor e ansiedade.

O que complica a questão é que muitas mães com sintomas de ansiedade pós-parto nem sabem reconhecê-los: apenas supõem que não estão conseguindo se ajustar à maternidade. Qualquer pai ou mãe é atacado por pensamentos angustiantes após a chegada de um filho – os de primeira viagem, particularmente, podem se preocupar com cada espirro. Mesmo a mãe mais preparada está suscetível a ter os nervos mexidos devido à montanha-russa hormonal e à falta de sono alucinante, que, é claro, torna a ansiedade ainda pior. E, quando as mulheres sentem que algo está errado, ainda podem ter vergonha de procurar ajuda. De acordo com um estudo recente da Universidade da Carolina do Norte, 21% das mulheres passando por distúrbios de humor pós-parto, como ansiedade, não dividem o fato com seu médico.

Um histórico de ansiedade pode contribuir para a ocorrência no pós-parto, mas fatores culturais também têm influência. Em primeiro lugar, surge a enorme pressão que novas mães enfrentam para que essa seja a fase mais feliz de sua vida. Há também a tendência de se diagnosticar problemas médicos no "Doutor Google" (cujo uso crescente pode resultar em uma condição conhecida como “cibercondria”), criando a sensação de que todos os infortúnios podem cair sobre seu filho. No entanto, a questão é tratável, diz Jonathan S. Abramowitz, professor de psicologia e neurociência da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. “Não é uma doença biológica. É um problema psicológico.”

Caso suspeite que tem ansiedade pós-parto, o melhor é buscar mudanças importantes em seu comportamento. Uma pergunta que Catherine Birndorf frequentemente faz a novas mães é se elas conseguem descansar quando sabem que outra pessoa está cuidando de seu bebê que dorme. “A mãe que precisa ser tratada responderá que não”, revela.

A recuperação geralmente envolve terapia comportamental e, se necessário, uso de antidepressivos – uma decisão que requer uma conversa detalhada com o médico, principalmente durante a amamentação.

Deena Blanchard, com o apoio de seu médico, decidiu tomar um remédio do gênero, e as nuvens se dissiparam. Seu consultório de pediatria começou a detectar novas mães com ansiedade pós-parto. “Quando consegui a ajuda da qual precisava, fui capaz de me apaixonar por meu bebê de uma maneira que nunca pensei ser possível”, diz. “Agora me sinto eu mesma.” Ela sorri antes de se corrigir. “Não, sou uma versão melhorada. Sou uma mãe melhor e uma médica melhor. Digo a minhas pacientes que há ajuda – e cuidar de si mesma é um presente ao seu filho.”

Mais do vogue