• Ana Carolina Pinheiro (@anacarolipa)
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Julia Dalavia (Foto: Mariana Maltoni)

Julia Dalavia (Foto: Mariana Maltoni)

Durante as gravações da novela Pantanal, em que interpreta Guta, Julia Dalavia, de 24 anos, ganhou o apelido de “Tia Julia” por conta da inseparável palavra cruzada e das preciosas horas de sono. Certamente, uma personalidade bem diferente da sua intensa personagem, que enfrenta os conflitos com o pai, Tenório (Murilo Benício), a relação proibida com o meio irmão, Marcelo (Lucas Neto) e, consequentemente, a nebulosidade de saber quem ela é. “Quando mexe nesses alicerces, acaba gerando essa confusão interna”, diz a atriz sobre Guta.

Porém, na atual fase da trama, Julia também já enxerga uma evolução no comportamento da engenheira, que descobre que Marcelo, na verdade, não é seu irmão.

Em um bate-papo com a Vogue, Julia entrega para quem vai sua torcida na vida amorosa de Guta, fala dos desafios dos bastidores da novela e ainda relembra a conversa com os pais sobre bissexualidade.

A Guta passa por dificuldades nos relacionamentos. Se você pudesse decidir, qual seria o melhor caminho para ela?
Torço muito pela Guta e o Marcelo, que descobrem que não são irmãos. Dá para entender que existe amor e compreensão entre os dois. A troca deles não é só uma questão sexual, mas existe uma parceria que talvez ela não tenha encontrado em nenhuma relação anteriormente. Isso é muito bonito. O frenesi dela em querer se apaixonar logo por outro é reflexo dessa culpa de continuar apaixonada por ele, mesmo sabendo do parentesco.

E você já passou por um conflito grande na vida amorosa?
Uma história muito confusa não, porque minha Vênus é em Capricórnio, então tenho o mecanismo de querer saber onde estou pisando. Já vivi situações diversas, mas nunca em um nível que fugisse do meu controle.

Qual foi a parte mais difícil da preparação para essa personagem?
As cenas mais difíceis são as de briga e estado alterado. Dar corpo para a raiva na minha vida pessoal e em cena é um desafio. Muitas vezes, apenas chorava nessas situações, mas agora faço terapia bioenergética para me aproximar dos meus sentimentos e levar mais naturalidade para a interpretação. Nos bastidores, tenho um exercício de fincar os pés no chão, abaixar o tronco e ficar com os olhos abertos para focar no presente.

Julia Dalavia (Foto: Reprodução)

Julia Dalavia como a Guta de Pantanal (Foto: Reprodução)

Você comentou da força da personalidade da Guta. A composição do estilo impactou na sua interpretação?
A Marie Salles [figurinista de Pantanal] é muito genial e criou uma identidade visual potente para todos os personagens. Quando cheguei na primeira prova de figurino, encontrei um caminho arrojado e roqueiro. Isso deu uma leitura para que a Guta pudesse se colocar nesse embate com o pai, que também tem uma figura imponente.

Algo do visual dela combina com o seu?
Me identifico com ela na regatinha branca, porque sou mais básica. O figurino dela é leve, o que me deixou bem confortável lá no Pantanal. Outro detalhe que gosto é a botinha de trilha, que substituiu a ideia inicial do coturno e tênis de skatista. Tive essa ideia por conta da quantidade de terra, inclusive, nós andávamos com esse mesmo sapato entre as gravações.

Você é adepta das compras em brechós. Como surgiu esse hábito de consumo mais consciente?
Quando criança, eu e minha mãe sempre frequentamos um brechó perto de casa, que era da amiga dela. Mas, além disso, a nossa conexão [com a moda] é familiar. Minha avó é costureira, minha mãe aprendeu algumas coisas com ela e acabou me passando também. Então, sempre consegui me virar e fazer ajustes nas minhas peças. Na adolescência, me tornei mais consumista, me desfazia rápido das roupas e acabava comprando coisas que nem combinavam comigo. Depois de um tempo, comecei a me questionar e voltei a frequentar brechós e organizar trocas de peças entre amigas.

Julia Dalavia (Foto: Mariana Maltoni)

Julia Dalavia (Foto: Mariana Maltoni)

O conflito familiar é algo que se arrasta na vida da Guta. Na sua casa, a relação com seus pais também passou por algum tipo de confronto?
Eu já fui muito reativa, principalmente na adolescência quando comecei a entrar em contato com o feminismo, ler Simone de Beauvoir, Virginia Woolf, e entender o que o mundo está fazendo com a gente. Bati muito de frente em casa, queria gritar, porque estava inflamada. Mas consegui ter conversas com meus pais, que são pessoas abertas ao diálogo. Alinhar nossas ideias foi algo que fui aprendendo com o tempo. A terapia, inclusive, foi bem importante nesse processo familiar.

Como foi conversar com eles sobre a sua bissexualidade?
Foi muito natural. Não teve o momento que chamam de “assumir”. Acho essa palavra tão estranha nesse contexto, porque parece que cometi um crime ou estava escondendo, mas não era isso. Na verdade, não tinha entrado em contato e, logo, não me sentia confortável para falar com alguém. Há uma diferença entre entender e maturar. Tive uma conversa com a minha mãe e depois com meu pai, mas nunca houve um questionamento da parte deles. É estranho que a sexualidade seja uma questão ainda, porque isso não diz respeito a ninguém além de você.