• Thiago Baltazar (@thiagobaltazar)
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O fim do anti-aging: é hora de rever a maneira como enxergamos o envelhecimento (Foto: Arquivo Vogue/ Felicity Ingram)

É hora de rever a maneira como enxergamos o envelhecimento (Foto: Arquivo Vogue/ Felicity Ingram)

A partir do dia 1ª de janeiro de 2022, todas as pessoas com 60 anos ou mais serão consideradas doentes pelo simples fato de terem se tornado idosas, estejam elas com boas condições de saúde ou não. Isto irá ocorrer porque a Organização Mundial da Saúde (OMS) deve publicar nesta data a nova edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), que, na sua atualização, incluiu a velhice como doença.

Setores ligados ao envelhecimento, no entanto, reagiram duramente contra esta nova classificação, argumentando que a iniciativa provocará inúmeros complicadores na vida de idosos, entre eles, o preconceito contra pessoas 60+.

“A primeira coisa que precisamos sempre destacar é que envelhecer é uma conquista e não tornar uma fase natural da vida uma doença. Doenças pressupõem tratamento e cura. Envelhecimento não se trata ou se cura, explica à Vogue Martha Oliveira, ex-diretora da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e CEO da Laços Saúde, focada em envelhecimento.

"Na minha opinião, temos impactos de diferentes naturezas e perspectivas: o primeiro seria aumentar uma situação já grave de idadismo ou ageismo ou preconceito com o idoso. Precisamos alertar para esse mal que já é grave em nosso país”, prossegue.

Outra consequência, em sua visão, seria a perda de informação sobre morbidade e mortalidade entre pessoas desta faixa de idade. “Hoje já temos uma subnotificação sobre as causas do adoecimento e da mortalidade dos idosos no Brasil. Caso seja possível se registrar como velhice qualquer adoecimento e morte de maiores de 60 anos, claramente não saberemos mais e não conseguiremos traçar perfis e planejar ações para essa faixa etária. Sem falar que muito em breve (em poucos anos) teremos 20- 30% da nossa população doente simplesmente pelo fato de terem mais de 60 anos”, argumenta.

A nova classificação poderia também provocar a medicalização do envelhecimento. “Já utilizamos muitos medicamentos no Brasil para idosos. Em alguns países europeus, por exemplo, quem toma mais de cinco já é acompanhado pelo governo por risco na utilização de tantas drogas. Aqui essa média é muito maior”.

Críticos da medida vêem ainda o risco de a indústria do antienvelhecimento usar a nova classificação como uma justificativa para a produção e venda de produtos sem comprovação científica que supostamente iriam curar a doença do envelhecimento. O aumento no valor dos planos de saúde é mais uma preocupação entre os críticos.

A velhice, na edição da CID 11, entrará em vigor em janeiro do ano que vem com o código MG2A. Caso não seja revista pela OMS, a nova atualização terá prazo de três anos para ser implementada.

“Na minha opinião [o aumento do preconceito contra pessoas 60+] seria uma das consequências dessa alteração. Isto aconteceria num momento em que os idosos estão fragilizados e sofrendo muita disciriminacao e violência durante a pandemia de Covid-19”, finaliza Martha.