• Redação Vogue
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RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 13: Military personnel belonging to the Joint Command East disinfect the Sanctuary where the statue of Christ the Redeemer is located on August 13, 2020, in Rio de Janeiro, Brazil. The measure is part of a series of governm (Foto: Getty Images)

Militares pertencentes ao Comando Conjunto Leste desinfetam o Santuário onde a estátua do Cristo Redentor está localizada em 13 de agosto de 2020, no Rio de Janeiro, Brasil. A medida faz parte de uma série de ações governamentais para reabrir os principais pontos turísticos da cidade, proibidos desde o início da pandemia do coronavírus (COVID-19) no Brasil. (Foto de Andre Coelho / Getty Images)  (Foto: Getty Images)

Ilustrando com a foto acima onde militares desinfetam o Santuário onde a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, o 'The New York Times' fez um alerta sobre a crise de saúde que o Brasil está enfrentando devido à pandemia da Covid-19 através de uma longa matéria no portal.

"A Covid-19 já deixou um rastro de morte e desespero no Brasil, um dos piores do mundo. Agora, um ano após o início da pandemia, o país está estabelecendo outro recorde doloroso. Nenhuma outra nação que experimentou um surto tão grande ainda está lutando contra o número recorde de mortes e um sistema de saúde à beira do colapso. Muitas outras nações duramente atingidas estão, em vez disso, dando passos provisórios em direção a uma aparência de normalidade", diz o primeiro parágrafo do texto que reforça o alarmante número de mortes que o país registrou em um único dia.

Na última terça-feira, foram mais de 1.700 mortes por Covid-19, o maior número de vítimas da pandemia desde 2020. 

"O Brasil está lutando contra uma variante mais contagiosa que atropelou uma grande cidade e está se espalhando para outras, mesmo quando os brasileiros ignoram medidas de proteção que poderiam mantê-los seguros", continua o texto fazendo referência ao caos sanitário instalado em Manaus por falta de oxigênio. 

Continue lendo abaixo alguns trechos da matéria publicada no "The New York Times".

"E as notícias pioraram para o Brasil - e possivelmente para o mundo.

Estudos preliminares sugerem que a variante que varreu a cidade de Manaus não só é mais contagiosa, mas também parece capaz de infectar algumas pessoas que já se recuperaram de outras versões do vírus. E a variante ultrapassou as fronteiras do Brasil, aparecendo em outras duas dezenas de países e em pequena quantidade nos Estados Unidos.

Embora os testes com várias vacinas indiquem que elas podem proteger contra doenças graves, mesmo quando não previnem a infecção com a variante, a maior parte do mundo não foi imunizada. Isso significa que mesmo as pessoas que se recuperaram e pensaram que estavam seguras ainda podem estar em risco, e que os líderes mundiais podem, mais uma vez, suspender as restrições cedo demais.

Os brasileiros esperavam ter visto o pior do surto no ano passado. Manaus, capital do estado do Amazonas, foi tão atingida em abril e maio que os cientistas se perguntaram se a cidade poderia ter atingido a imunidade coletiva.

Mas então, em setembro, os casos no estado começaram a aumentar novamente, deixando as autoridades de saúde perplexas. Uma tentativa do governador do Amazonas, Wilson Lima, de impor uma nova quarentena antes do feriado de Natal encontrou forte resistência de empresários e políticos próximos ao presidente Jair Bolsonaro.

Em janeiro, os cientistas descobriram que uma nova variante, que ficou conhecida como P.1, havia se tornado dominante no estado. Em poucas semanas, o perigo ficou claro quando os hospitais da cidade ficaram sem oxigênio em meio a uma multidão de pacientes, levando dezenas de pessoas à morte sufocada.

Uma forma de conter o aumento seria por meio de vacinas, mas a implantação no Brasil, como em tantos países, tem sido lenta. O Brasil começou a vacinar grupos prioritários, incluindo profissionais de saúde e idosos, no final de janeiro. Mas o governo não conseguiu garantir um número grande o suficiente de doses. Os países mais ricos abocanharam a maior parte do suprimento disponível, enquanto Bolsonaro tem sido cético quanto ao impacto da doença e das vacinas.

Pouco mais de 5,8 milhões de brasileiros - cerca de 2,6% da população - receberam pelo menos uma dose da vacina Covid-19 até terça-feira, de acordo com o ministério da saúde. Apenas cerca de 1,5 milhões receberam ambas as doses. Atualmente, o país usa o CoronaVac de fabricação chinesa - que os testes de laboratório sugerem ser menos eficaz contra o P.1 do que contra outras variantes - e o da farmacêutica sueco-britânica AstraZeneca.

Margareth Dalcolmo, pneumologista da Fiocruz, um importante centro de pesquisa científica, disse que o fracasso do Brasil em montar uma forte campanha de vacinação preparou o cenário para a crise atual. “Devíamos vacinar mais de um milhão de pessoas por dia”, disse ela. "Essa é a verdade. Não fazemos, não porque não sabemos como fazer, mas porque não temos vacinas suficientes ”.

Outros países devem prestar atenção, disse Ester Sabino, pesquisadora de doenças infecciosas da Universidade de São Paulo que está entre os maiores especialistas na variante P.1. “Você pode vacinar toda a sua população e controlar o problema apenas por um curto período se, em outro lugar do mundo, aparecer uma nova variante”, disse ela. “Vai chegar lá um dia.”

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que chamou a variante de “novo estágio” da pandemia, disse na semana passada que o governo está intensificando seus esforços e espera vacinar cerca de metade de sua população até junho e o restante até o final do ano.

Mas muitos brasileiros têm pouca fé em um governo liderado por um presidente que sabotou bloqueios, repetidamente minimizou a ameaça do vírus e promoveu remédios não testados muito depois de cientistas dizerem que eles claramente não funcionavam.

Ainda na semana passada, o presidente falou com desdém das máscaras, que estão entre as melhores defesas para conter o contágio, alegando que fazem mal às crianças, causando dores de cabeça e dificuldade de concentração. 

As projeções da vacina de Pazuello também foram recebidas com ceticismo. O governo fez na semana passada um pedido de 20 milhões de doses de uma vacina indiana que não concluiu os testes clínicos. Isso levou um promotor federal a argumentar em um processo judicial que a compra de US $ 286 milhões "coloca milhões de vidas em risco".