• NELL FRIZZELL
  • Vogue UK
Atualizado em
Kim Kardashian elege vestido de Marilyn Monroe (Foto: Reprodução/Instagram)

Kim Kardashian emagreceu 7 kg para caber e vestido usado por Marilyn Monroe (Foto: Reprodução/Instagram)

Kim Kardashian mudou seu corpo de forma bastante drástica antes do Baile do Met 2022. Estou relutante em usar o termo “perda de peso”, não apenas porque não faz sentido, mas porque pode ser um assunto delicado. Uma alteração no número quando você está em uma balança não nos diz quase nada sobre a função do seu corpo, a capacidade do seu coração de pulsar o sangue para onde é necessário, a capacidade dos órgãos de limpar toxinas, processar proteínas, reparar tecidos ou transportar eletricidade através de suas sinapses. 

O peso diz pouco ou quase nada sobre saúde, tamanho ou forma. Ele certamente não é um indicativo de felicidade. Em vez disso, ele é como uma sirene para quem se sente infeliz com  seus corpos (a Instituição Beneficente de Distúrbios Alimentares acredita que aproximadamente 1.25 milhão de pessoas no Reino Unido sofre com algum distúrbio alimentar, enquanto muitos outros têm problemas de imagem corporal) e pode ser usado como um medida para confrontar nosso desejo de diminuir, controlar ou expelir.

Eu também não vou falar sobre como Kim mudou seu corpo. Passei muitos anos, como uma jovem que se autodepreciava, vasculhando o mundo em busca de dicas milagrosas sobre como alterar meu próprio corpo, para correr o risco de passar essa informação para outra pessoa. Ainda me lembro de estar sentada no chão do quarto da minha avó, diante de uma pequena lareira elétrica, lendo com ávido interesse sobre legumes fatiados e meditação em frente ao espelho, copos de água bebidos e os alimentos eliminados por várias celebridades. Essas mulheres que, por conta da genética, cirurgias plásticas, procedimentos estéticos e cosméticos, eu nunca conseguiria me parecer.

Kim Kardashian no icônico vestido de Marilyn Monroe (Foto: Getty Images)

Kim Kardashian no icônico vestido de Marilyn Monroe (Foto: Getty Images)

Você não precisa saber as medidas, você não precisa saber o método para se interessar. Porque é interessante. Que em 2022, uma mulher rica, bem-sucedida, conhecida, em um relacionamento, com uma família, ainda possa tomar a decisão de alterar seu corpo para caber em um determinado vestido. O que esse impulso nos diz sobre nossa relação com o que vestimos?

De certa forma, esse foi um ato de performance. Como um ator usando um determinado par de sapatos, um chapéu ou casaco para criar um senso de personagem, Kim Kardashian usou o vestido usado por Marilyn Monroe enquanto cantavafeliz aniversário para o presidente John F. Kennedy em 1962, a fim de desempenhar um papel. Estrela, hiper-femme, arquétipo, aspiração. Ela se colocou nos registros dos grandes nomes de Hollywood, literalmente, vestindo-se como um deles. 

Há também algo sobre a roupa servir como uma ferramenta para afirmar sua própria identidade. Quando Kim Kardashian estava no tapete vermelho, sob 6.000 cristais costurados à mão e cabelos loiros platinados, ela parecia surpreendentemente diferente e ainda reconhecível como Kardashian. Tratava-se de metamorfose, mas também de provar que, seja qual for o vestido, seja qual for a cor, seja qual for a forma, sejam quais forem as medidas, sabemos quem ela é. Se tudo isso tivesse sido feito por um homem, para se encaixar, digamos, em um famoso terno ou armadura usada por um de seus heróis; se aquele homem fosse um ator e ao invés do tapete vermelho eles estivessem entrando no palco, haveria a mesma reação? Haveria o mesmo interesse?

Vou me casar no final deste verão. Estou fazendo meus próprios vestidos (observe o plural) e, portanto, em um sentido muito real, não tenho absolutamente nenhuma necessidade de mudar meu corpo para caber no que vou vestir. Posso costurá-lo para caber perfeitamente em mim, seja qual for o tamanho ou a forma que eu estiver. E, no entanto, até eu posso sentir o desejo de alterar a minha aparência. Ou, mais especificamente, posso sentir um desejo de fazer meu corpo funcionar de uma certa maneira. Percebi que estou correndo um pouco mais – talvez por causa dos dias mais longos, mas talvez não. Estou nadando mais do que consegui no inverno – talvez porque esteja mais quente agora, mas talvez não. Estou fazendo flexões. Eu gostaria de poder dizer a você que isso não está relacionado a uma pressão social para as noivas terem uma determinada aparência, mas, no fundo do meu coração, não tenho certeza.

Não vou me casar com um dos velhos vestidos brancos de Jean Harlow. Não vou fazer dieta ou comprar equipamentos especiais ou seguir um regime nas semanas anteriores. Não direi às pessoas nenhum detalhe específico sobre quanto tempo me exercitei ou o que comi. Mas essa será uma decisão consciente. Isso será porque devo isso à jovem, sentada no chão do quarto da avó, olhando para o corpo dela. Não.