• Bárbara Öberg e Thaís Varela
Atualizado em
Poppy field on paper texture (Foto: Getty Images)

Saiba como o mercado nacional está evoluindo na oferta de produtos com cannabis (Foto: Getty Images; Colagem: Ste Sangi)

Em escalada desde 2015, a importação de produtos à base de cannabis medicinal explodiu durante a pandemia de Covid-19 no Brasil. Segundo dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o número de autorizações de importação desses produtos passou de 8.522 em 2019, pulou para 19.150, em 2020, e chegou a 40.191 em 2021. “O aumento de casos de ansiedade, depressão e dor crônica neste período pandêmico catapultou a procura por prescrições de substâncias extraídas da cannabis, como o CBD. Também conhecido como canabidiol, apresenta potencial terapêutico para o tratamento de doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas”, afirma Pedro Pierro, médico neurocirurgião funcional e diretor técnico do CEC (Centro de Excelência Canabinoide).

“Mesmo que as indicações regulamentadas, com comprovação científica, sejam para epilepsia e esclerose múltipla, o canabidiol possui uma segurança farmacológica enorme, com uma toxidade praticamente nula, não vicia, não é psicoativo, não altera o raciocínio, não causa dependência e não há chance de overdose, por isso, muitos médicos prescrevem para doenças que ainda não têm um forte grau de evidência, mas que a experiência clínica se mostra favorável, como é o caso também de diabetes, AVC, câncer terminal, autismo, insônia, psoríase, eczema, Parkinson, Alzheimer, esquizofrenia, síndrome do pânico. Em níveis controlados, até mesmo o THC, responsável pelo efeito psicoativo da planta, tem benefícios farmacológicos”, afirma o neurocirurgião.

Mas, se antes o trâmite para conseguir ter os produtos em mãos podia levar meses, por toda a burocracia que envolvia o pedido de autorização na Anvisa e pela dificuldade de achar médicos que prescrevessem as substâncias, um novo modelo de liberação da agência sanitária promete acelerar o processo. “No passado, o paciente precisava fazer o pedido na Anvisa com uma receita, um termo de consentimento e um relatório citando outros remédios que ele já havia tomado. Na alteração mais recente, uma automatização da aprovação do cadastro tem estimativa de reduzir de 35 para cinco dias a resposta da agência”, diz Ítalo Coelho, advogado especialista em Lei de Drogas. “Para obter os medicamentos à base de cannabis, existem dois caminhos disponíveis: a importação de pessoa física para uso próprio ou a compra do produto que foi autorizado para venda em farmácias do país (no total, são 14 o número de produtos derivados de cannabis liberados para comercialização no Brasil), que também necessita de receita médica.”

Novos negócios conectam pacientes e fornecedores

Para facilitar ainda mais o processo de compra da cannabis medicinal, um novo tipo de negócio surgiu por aqui no último ano: plataformas que conectam pacientes, médicos e fornecedores, além de ajudar os usuários a navegar pelo site da Anvisa. É o caso da Dr. Cannabis, da Cannect e do aplicativo My Grazz, que chega este mês no mercado.

“A ideia é ajudar a pessoa que quer fazer o uso desses produtos. Vamos disponibilizar uma rede de médicos já familiarizados com a prescrição do canabidiol para que os pacientes possam fazer o atendimento via telemedicina pelo aplicativo, com consultas que variam de R$ 250 a R$ 500. Depois da sessão, o especialista sobe a receita na plataforma e, com mais alguns documentos, nós indicamos o caminho para pedir autorização no site da Anvisa, o processo todo pode levar poucas horas. Com o aval em mãos, basta seguir para o nosso marketplace, onde vamos disponibilizar mais de 200 itens, como pomadas, sprays, óleos, produtos de beleza, suplementos, gummies, chás e até produtos de sexual wellness”, conta o sócio do projeto, o empresário e triatleta amador Fernando Paternostro, de 41 anos, que é usuário de produtos com CBD e THC e responsável pela conta no Instagram @atleta.cannabis, onde compartilha dicas, notícias e informações sobre a relação da cannabis com o mundo do esporte.

Um mercado em crescimento

“No Brasil e no mundo, vem crescendo o interesse de atletas, amadores e profissionais, pelos benefícios da planta, principalmente seus efeitos analgésicos e anti-inflamatórios. As evidências acumuladas em pesquisas e experiências clínicas, inclusive, levaram a Agência Mundial Antidoping (WADA) a retirar o canabidiol (CBD) da lista de substâncias proibidas em 2018. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, realizados em 2021, a cannabis terapêutica já estava liberada para aliviar dores e acelerar a recuperação dos competidores”, diz o empresário.

Um levantamento inédito da Kaya Mind, consultoria brasileira especializada no mercado da cannabis, mostra que o casamento entre o universo da planta e do esporte pode dar um boost no mercado brasileiro e gerar negócios de mais de R$ 900 milhões por ano para os medicamentos e derivados da erva.

“O mercado para atletas não só vem crescendo como também é uma forma que as empresas encontraram para diferenciar a temática desses produtos com fins medicinais do uso adulto recreativo. Associamos esportistas normalmente a um estilo de vida saudável”, explica Matheus Patelli, diretor executivo da Hemp Meds no Brasil, uma das principais marcas que operam na importação do canabidiol para o público brasileiro. Quem ainda tem dúvidas sobre a aplicação da cannabis medicinal no esporte pode conferir detalhes sobre a Cannabis Sports Experience, o primeiro evento focado no assunto no país, que aconteceu no dia 8 deste mês. Sediado em Minas Gerais, ele promoveu palestras, atividades esportivas e demonstração de produtos.