• Liliane Rocha (@lilianerochaoficial)
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Vogue Negócios (Foto: Arquivo Vogue/ MAR+VIN)

(Foto: Arquivo Vogue/ MAR+VIN)

Vamos falar sobre a completa e total ausência de pessoas negras em alguns grandes eventos? Este ano tive a oportunidade de, pela primeira vez, ir ao Lollapalooza, festival de música que, segundo a organização do evento, recebeu mais de 300 mil pessoas nos três dias de sua realização.

Antes desta edição, nunca tinha pensado em participar do evento, não fazia a menor ideia de como era o festival e talvez, até mesmo por isso, a minha atenção não se voltasse para esta análise, não fosse um convite muito especial que recebi recentemente.

Uma colega muito querida, Nubia Elias, foi quem me deu a boa notícia de que a Vivo, uma das patrocinadoras oficiais da edição deste ano, estava realizando a “Presença Preta”, iniciativa pela qual 100% dos seus convites estavam sendo gentilmente direcionados para lideranças e influenciadores negros de todo o país. Para a divulgação da campanha, foi criada a brilhante hashtag #FuturoVivo, que nos faz refletir e pensar sobre a sociedade vital e pulsante que queremos construir para o futuro.

Em uma sociedade na qual vemos tamanha falta de representatividade racial em alguns espaços de entretenimento, música e grandes eventos, a iniciativa pode parecer trivial, mas não é! Na verdade, é fundamental, inovadora e inclusiva.

Aceitei o convite porque considero essa ocupação de espaços fundamental, assim sendo fui para o evento. Na área para influenciadores, em meu imaginário, acreditei que chegaria ao Lollapalooza e me encontraria com um público totalmente negro. No mínimo, esperava que 50% das pessoas presentes fossem negras.

O que eu havia esquecido é que o evento tem diversos patrocinadores! Entre as marcas oficiais estavam empresas dos setores automotivo, alimentício, bebidas e calçados. Todos partilhando o mesmo lounge, exclusivo para convidados. Ao chegar lá, para minha surpresa completa e total, nenhuma outra empresa tinha replicado, seguido ou protagonizado uma ação semelhante. Por isso, apesar de a totalidade dos ingressos da empresa de telefonia, ou seja, 100%, ter sido entregue para pessoas negras, o Lounge VIP era partilhado por diversas marcas, sendo a grande maioria de convidados pessoas brancas.

O que isso nos mostra? Se a empresa não pensa proativamente e propositivamente em uma ação afirmativa, como essa boa prática que mencionei, provavelmente a totalidade dos seus ingressos será direcionada para pessoas brancas. Quando a Dra. Fernanda Macedo, advogada e consultora de treinamentos da Gestão Kairós, que me acompanhou nessa programação, e eu saímos do lounge para caminhar pelo espaço, e avaliar a composição do público, tivemos a mesma percepção: massivamente o público geral do evento é formado por pessoas brancas.

Pois bem, a que reflexão isso nos leva? Em um momento no qual as empresas falam tanto sobre diversidade, ainda há uma grande dificuldade de se ter uma perspectiva estratégica 360°, cobrindo todos os horizontes da empresa, toda a sua cadeia de valor ou todo o seu ecossistema.

+ Por que é tão difícil ter diversidade na alta liderança das empresas?

Como envolver funcionários, fornecedores, clientes, organizações sociais, grandes eventos e projetos patrocinados nas ações que são realizadas por uma empresa que se propõe a ser inclusiva? Não me canso de dizer que o único caminho a ser trilhado requer governança e gestão. É preciso ter um planejamento, se possível com um compromisso interno que envolva avaliação de desempenho, metas, indicadores e ações de todas as áreas e negócios da empresa.

Isso porque o natural, o default, o nosso padrão mental, os nossos vieses inconscientes provavelmente nos levarão a fazer mais do mesmo. Neste sentido, quais são as pessoas consideradas muito importantes na nossa sociedade? Quem são os VIPs (Very Important People)? Quem deve ser convidado para um lounge patrocinado pela sua empresa?
Como estava escrito no convite que recebi, “Nossos holofotes estão na plateia. Nosso olhar no futuro”. E nosso futuro é inclusivo, nosso futuro contempla a presença de pessoas negras em todos os espaços. Nosso futuro é de ocupação e presença. E espero que o nosso presente também seja.

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.